Vinte e três anos passam num instante. A gente envelhece e tudo envelhece à nossa volta. Era um jovem padre quando a minha mãe concluiu a sua missão aqui na terra e foi habitar em Deus. Agora caminho para velho. Mais experimentado também. Mas a sentir a mesma saudade de jovem que tinha na sua mãe a confidente e o colo materno e terreno de Deus. Ó mãe, como ainda hoje fazias aqui falta para me escutar e para guardar os meus desabafos! Faz hoje vinte e três anos. Fui visitar a pedra do teu túmulo. Estava bonita como sempre. Mas no lugar das flores, estava um buraco de terra sem flores. Alguém me disse que foram roubadas. Já não é a primeira vez, disseram-me. Ao primeiro impacto, senti-me incomodado. Como poderias estar sem um ramo de flores que adornasse a tua pedra?! Depois de rezar (é assim que falo com a minha mãe), o incómodo passou. É muito triste que haja quem não respeite a morte e a dor alheia. É muito triste que haja quem desça tão baixo por causa de umas simples flores de campa. Mas não são as flores que fazem de ti um vaso de flores.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Estava capaz de gritar"