Ó senhor padre, estou a ligar-lhe porque tenho uma prima que quer batizar o filho, mas tem uma dúvida: o padrinho da criança não está baptizado. Há algum problema em relação a isso?
O padre quase petrificou diante da pergunta que lhe fizeram ao telefone e tardou uns segundos, que pareceram anos, a recuperar da quase petrificação. Partiu do princípio de que o padrinho estava escolhido, estava convidado e só não estava baptizado. Porque a pergunta não era sobre se podiam escolher um padrinho não baptizado. Era se havia algum problema por o padrinho não estar baptizado.
Talvez o pobre padre até tenha exagerado na reação escondida por detrás do telefone, pois há muitos padrinhos baptizados e crismados que não cumprem o papel que assumem no baptismo dos seus afilhados. Além disso, se o desconhecimento, para não dizer ignorância, das pessoas nas coisas da fé é enorme, muito se deve a uma Igreja que se preocupou mais em fazer sacramentos do que em formar para eles, em dar o que as pessoas pediam do que em provocar experiências de encontro com Cristo. Reconheçamos ainda que grande parte dos pais que pedem baptismos para os seus filhos o fazem por questões afectivas, sociais e culturais. Nesse sentido, o padrinho só precisa de ser afectivamente importante para os pais e eventualmente para a criança que vai a baptizar. Portanto, que problema tem escolher um padrinho que não está baptizado? Nenhum. É igual ao litro. Ou então não.
E depois do padre ter respondido amavelmente à pergunta que lhe tinham feito, ouviu do outro lado o habitual “os padres só complicam”. E o telefone desligou-se.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Deus de folga"