segunda-feira, junho 25, 2012

É aqui que se tem de estar

A Helena ligou-me ontem. Era minha paroquiana. Às vezes os meus antigos paroquianos ligam-me. Ou enviam mensagem. Anda bem, senhor padre? Que tal se dá por aí? Eu respondo que bem. De vez em quando, digo-o entre os dentes. Outras vezes digo-o com o coração. Outras apenas com a resposta. Outras digo sem pensar. Outras para despachar. Outras ainda porque apetece. Mas digo-o sempre com consciência de dizer uma grande verdade. É que temos de estar na vida como ela é. Não adianta fazer de conta que não é nossa esta vida ou este estar na vida. Costumo dizer que Deus me quer aqui e é aqui que tenho de estar e ser feliz.

quarta-feira, junho 20, 2012

A chorar durante a missa

Acabei de desligar o telefone a um colega que me marcou com a sua conversa. Primeiro disse-me que não devia andar bom. Ao que eu perguntei Porquê. A sua resposta fez-se esperar, como se a estivesse a conter. Trocámos mais três ou quatro dedos de conversa antes de voltar ao assunto. Não ando bom, repetiu. Então não é que na missa de há pouco, a missa do Sagrado Coração de Jesus, a determinada altura dei por mim a chorar! Ele fez ponto de exclamação e eu também. Ao que perguntei de novo Porquê. Pensei para os meus botões que ou andaria cansado, ou teria preocupações grandes, ou tinha acontecido algo grave, ou alguém estava muito mal, ou estava frustrado com a vida de padre. Em apenas uns cinco segundos, não queiram saber o que me passou pela cabeça. Por isso, qual não foi o meu espanto quando o meu colega me diz que, durante a celebração da missa, se tinha emocionado por sentir que tem Alguém que o ama muito, e muito além do que consegue amar. Sem me deixar respirar, continuou. Eu não sou merecedor do Amor de Deus. Mas este amor é tão grande, tão grande, que ainda nos faz sentir mais pequeninos na nossa forma de amar. E já não é a primeira vez que deixo cair umas lágrimas no meio da missa ao pensar nestas coisas, ao pensar na forma como Deus me ama. Emociono-me e nem sequer sei como agradecer-Lhe o Amor que me tem.
Fiquei quase sem reação. E ainda dizia que não andava bom. Tomara eu. Tomáramos nós, padres, que as nossas eucaristias nos fizessem sentir o mesmo. Era destes padres que as nossas eucaristias precisavam. Não a chorar. Mas a sentir verdadeiramente o amor de Deus.

sexta-feira, junho 15, 2012

Não passamos o tempo na estrada, mas passamo-lo a correr

Depois das voltas e mais voltas de hoje, cheguei a casa com o carro cansado e na reserva. Tenho ao meu cuidado mais de uma dezena de terras. Algumas delas com uma ou duas dezenas de pessoas. E canso-me a andar de um lado para o outro. Gosto de estar com os meus paroquianos. Mas os dias e os fins-de-semana não chegam para chegar a todos, as vezes que gostaria de os ver, de estar com eles, de viver com eles. Queria fazer caminhada de fé com eles. Mas não posso ir sempre. Umas vezes têm Celebração Dominical com o diácono. Outras com o Ministro Extraordinário da Comunhão que está lá na terra. As que têm esse ministério a funcionar. Mesmo assim dou comigo a celebrar repetidamente para vinte pessoas que estão distantes, com poucos recursos e quase obrigado a tratar de coisas que deveriam ser da responsabilidade dos leigos e não dos sacerdotes. E canso-me a fazer estas coisas. Estas correrias. Quero levar Deus a todos. E depois zango-me comigo porque Deus, afinal, já lá está, e depois de mim há-de continuar a estar. E imagino-me em países ditos de Missão a percorrer caminhos sem estradas, para chegar a terras longínquas. A diferença é que quando lá se chega por fim, o padre tem dois dias para celebrar uma grande missa de três horas e um sem número de baptizados, e umas reuniões com os anciãos ou animadores da terra. Aqui corremos com o carro a carregar no acelerador, para quando chegarmos por fim, termos uma hora no máximo para celebrar uma missa quase a correr e voltarmos para outra terra a fim de repetir a coisa e a missa. Não passamos o tempo na estrada, mas passamo-lo a correr. Como levar Deus a terras que estão distantes, a dez ou quinze pessoas, repetidamente, sem que isso nos faça perder Deus pelo caminho?

terça-feira, junho 12, 2012

Fez-te bem esta história real da Dina?

Passado este mês intenso de partilha, durante o qual aumentei o número de posts e diminuíram o número de comentários, apeteceu-me perceber ainda melhor o alcance desta história real da Dina. E até onde ela, a história,pode chegar.
Por isso vos deixo esta pergunta na sondagem que coloco hoje online: Fez-te bem esta história real da Dina?

terça-feira, junho 05, 2012

A Diana que se chama Dina

A nossa Diana afinal chama-se Dina. E porque quero que a sua história seja mesmo sua, tenho de falar com ela tratando-a como sempre a tratei. Dina. Nos meus textos costumo fazer rodeios das histórias, dos pensamentos, dos sentimentos, dos factos, dos acontecimentos. Faço-o para proteger os casos reais que ficciono. Mas esta história é real e merece continuar real, com os nomes próprios que aparecem nela. Não quero que seja um conto de fadas. Quero que seja aquilo que é. Uma história real vivida por uma pessoa real que possui uma fé exemplar e que fez da sua vida uma identificação total com o Senhor. Uma pessoa igual a nós que viveu ao nosso lado uma linda história de amor com Deus. Alguém me perguntava há dias pela Diana. E não quero que me perguntem mais pela Diana, porque a Diana chama-se Dina. Hoje, que faz exactamente um mês que a Dina faleceu, quero dar a conhecer seu nome para que ele fique na memória de fé daqueles que querem ser de Deus. Para que o seu nome não se esqueça mais. Para que a sua santidade possa ser revelada com o nome verdadeiro. Para que eu sinta que estou a cumprir a minha promessa de dar a conhecer ao mundo a história da Dina.
Um amigo fez um filme com esta história. Um filme que torna esta história mais real, porque mostra imagens da verdade desta história. Por isso hoje, dia 5 de Junho, passado um mês que ela partiu para junto de Deus, permito-me deixar-vos com este filme da Dina do Rosário Sousa Simões, na esperança de que ele possa ser o corolário desta história que não é minha, que é da Dina e que quero que seja de todos.


sábado, junho 02, 2012

Esta é para ti, Diana, parte XI, outro jovem

Passados três dias do lindo funeral da Diana, recebi uma chamada da funerária para marcar o funeral de um jovem de vinte e quatro anos que morrera subitamente com doença fulminante, exactamente no dia e na hora em que completava esses vinte e quatro anos. Estudava no último ano de enfermagem. Tinha muitos colegas e amigos. Dará, por isso, para imaginar a dor de tanta gente e a minha aflição. Os funerais são sempre imensamente dolorosos para os que amam quem parte e para aqueles que têm de presidir à cerimónia. Fiquei, portanto, numa grande aflição. Que dizer na homilia do funeral? É comum ficarmos sem saber que dizer, porque também a nós nos custa aceitar. Porém, no mesmo momento em que a aflição me veio, veio também a certeza de que o funeral da Diana seria o ponto de partida do funeral do jovem de vinte e quatro anos. E assim foi, na certeza de que o que conta não é o tempo que dura a nossa vida, mas o sentido com que a vivemos. A minha partilha da homilia foi um contar da história da Diana. E porque passei os olhos no facebook do jovem de vinte e quatro anos, onde os amigos repetiam que a vida era injusta, a determinada altura da homilia, fazendo referência ao que tinha lido no facebook, insisti, com a ajuda da Diana, que a vida não era injusta. Nós é que precisávamos de a aprender melhor, quase como que a querer dizer que nós é que, porventura, às vezes, éramos injustos com ela. Por causa desta homilia e desta história da Diana, passados uns dias, alguém me contou que a tia do jovem de vinte e quatro anos se sentiu confortada, muito confortada, aliás, no funeral do sobrinho. E a mãe agradeceu-me a homilia especial daquela ocasião. E contaram-me que algumas pessoas, sobretudo jovens, passaram aos amigos a história que tinham ouvido no funeral do jovem amigo de vinte e quatro anos. Lá está de novo a Diana.