Quando entrei na Igreja Paroquial para a cerimónia, os meninos da primeira comunhão estavam, como se costuma dizer sem maldade, tolinhos de todo. Ele era barulho misturado com psits. Ele era rostos com um sonoro sorriso do tamanho do mundo. Ele era um mexer para aqui e para acoli no banco, que eu pensei Onde me vim meter. Os pais ainda faziam mais ruído que os filhos. Estava toda a gente desmesuradamente entusiasmada, de tal forma que corriam o risco de deturpar a festa. No final foi mesmo essa a minha sensação. Que toda aquela gentinha, dos mais pequenos aos maiores, se perdera na socialidade da festa. Fui para casa com o rosto cansado das corridas do dia e da confusão a que me soou aquela cerimónia da Primeira Comunhão. No Domingo seguinte chamei para ao pé de mim, junto ao altar, todos os meninos que haviam feito a festa para, com mais serenidade, perceberem o mistério que tinham vivido pela primeira vez. Só estavam mais ou menos metade dos que tinham feito a festa. Gostei muito daquele momento em que fizeram perguntas, viram o interior do cálice, pegaram nele, comungaram com olhinhos de felicidade e ficaram ali ao meu lado, a experimentar Jesus tão pertinho. Mas ao mesmo tempo, dado que não estavam todos, no final da Eucaristia dei por mim a pensar com pesar no assunto. A comunhão ou a Primeira comunhão é mais um daqueles sacramentos que estão a esvaziar-se. Porém, na semana seguinte uma das catequistas mostrou-me umas folhas com umas letras terríveis para decifrar. Era a letra dos nossos meninos que respondiam ao pedido da catequista. Diz o que sentiste na tua festa da Primeira Comunhão. Corei de alegria. Entre uma série de frases menos felizes, havia estas que não resisto a transcrever literalmente, sem critérios. Quando entrei na igreja senti que Jesus me foi acompanhando até ao banco e sentou-se ao meu lado. Quando comunguei, senti que Jesus me estava a abraçar com toda a força dele. Quando comunguei senti-me feliz e senti que Jesus entrou no meu corpo. Quando comunguei Jesus entrou no meu coração e fez com que ele arrebentasse de alegria e fiquei muito mais leve. Quando acabei de comungar nunca mais me senti sozinha. Quando comunguei pela primeira vez senti que Jesus cresceu no meu coração. Fui comungar e senti que a partir daquele momento iria seguir Jesus. Fui comungar e senti o meu coração aos pulos. O meu coração ficou gigante.
Não há palavras para descrever neste preciso minuto o tamanho do coração deste pobre padre que, de vez quando, se cansa com o esvaziar dos sacramentos e se esquece que Deus é ainda maior que os sacramentos.
Não há palavras para descrever neste preciso minuto o tamanho do coração deste pobre padre que, de vez quando, se cansa com o esvaziar dos sacramentos e se esquece que Deus é ainda maior que os sacramentos.