terça-feira, setembro 29, 2015

Queria estar cheio de Deus

Queria estar cheio de Deus. Mas vai uma distância tão grande entre o querer e o estar. Querer é apenas uma etapa. É necessário o fazer por isso. É necessário o viver por isso. É necessário o ser por isso.
Hoje faço esta minha oração ao Senhor, para que Ele faça em mim o que eu não consigo, apesar de querer. Ele que fez tantos milagres, pode fazer mais este milagre em mim. Não peço que me cure. Peço tão somente que me preencha, que me encha. Sei que dificilmente cabe em mim, e que não serei o melhor lugar para Ele habitar. Sei que não mereço a sua presença em mim. Sei que não posso ser seu dono. Sei que não posso nem escondê-lo nem aprisiona-lo em mim. Sei que não é por ser padre que ele me ama, pois me ama em tudo o que sou. Então que me faça a vontade, e que eu possa estar cheio de Deus.

sábado, setembro 26, 2015

ùltimas aves [poema 71]

Há também aves que não são pássaros
Porque rastejam e não voam
Debicam onde podem como podem
Fazem votos de poder e responder
São castas estas aves sem penas
e sem asas, sem espaço para voar.
São aves comidas por outras aves

sexta-feira, setembro 25, 2015

Primeiras aves [poema 70]

Há aves que não são pássaros
E vão em bando buscar-se

Há pessoas que são aves sem penas
vestidas a ouro e tinta a óleo

Há penas que voam nas árvores
E constroem armas em campos de flores

Há gente que é uma pena e são aves,
aves de rapina

terça-feira, setembro 22, 2015

É possível fazer Igreja sem sacramentos?

Estávamos à mesa de um café vários padres, pouco conhecidos na verdade, mas unidos pelo mesmo ideal, o sacerdócio. As diferentes idades e experiências eram patentes na conversa. Uma deles era missionário. Estivera vários anos na Amazónia, no Brasil, no meio de uma população indígena. Totalmente indígena, referia, no sentido de que estavam afastados do mundo civilizado, nómadas, índios que viviam da terra, da pesca e da caça como já só se vê em filmes. Um outro colega de uma geração mais velha que a minha perguntou-lhe como faziam, que faziam, como evangelizavam. E o padre missionário respondeu que apenas estavam com eles, que os ajudavam a procurar, por exemplo, deixar de se guerrear. O padre mais velho voltou com nova pergunta sobre como eram os baptismos, e o padre missionário informou que não tinham feito nenhum. Que a vida e cultura deles era muito diferente da nossa. E que Deus estava e manifestava-se por lá de outra forma. Que alguns dos índios se questionavam do que faziam lá três homens que se chamavam padres, e chamava-lhes a atenção do que faziam de diferente. Mas em termos daquilo que é a fé que nós conhecemos aqui na Europa, talvez tivessem dado poucos passos.
O padre mais velho, evitando demonstrar o seu escândalo, repetiu a pergunta. Ou melhor, fez a mesma pergunta de outro modo. Mas a resposta foi a mesma.
Eu, pessoalmente, fiquei encantado por perceber como a nossa missão sacerdotal não passa pelo proselitismo, mas pelo mostrar ou manifestar Deus através da nossa vida e acções. Fiquei encantado por perceber que Deus está muito para além do baptismo e qualquer outro sacramento. Muito para além da Igreja e da minha fé. Afinal Deus não pode nunca formatar-se, enformar-se. Ele entra em tudo e em todos de formas tão variadas, tão impensáveis. Mas entra.

segunda-feira, setembro 21, 2015

O burro [poema 69]

Tinha arbustos debaixo da cama
que era de palha
"Ai Deus me valha"

Mas não se levantava
Não conseguia, não saía
da cama de palha
Para retirar o arbusto
que ali crescia
ali vivia,
ali pernoitava

"Ai Deus me valha"
que a cama é de palha

sábado, setembro 19, 2015

Na tua opinião, devemos acolher os refugiados?

A última sondagem, apesar da temática polémica, trouxe resultados bastante claros. A grande maioria (67%) é de opinião que os divorciados "recasados" devem poder comungar, e sem qualquer tipo de restrições. Já os que pensam que deveriam haver restrições formaram um total de 14%. Se somarmos estes dois conjuntos de opiniões, obteremos um resultado de 81%.
Claro que esta sondagem, como todas as outras aqui colocadas, valem o que valem, e as nossas opiniões dificilmente vão chegar ao sínodo. Mas pelo menos temos a oportunidade de pensar estes assuntos e de dar a noissa opinião.
Hoje surge nova sondagem, num momento em que o assunto chave são os refugiados que fogem de países como a Síria ou o Sudão. Na verdade, o espírito cristão é de acolher sem medidas, mas o receio, não só de perdermos o nosso espaço, mas também o de recebermos potenciais terroristas, tem dividido a opinião pública. Por isso achei por bem postar esta pergunta: Na tua opinião, devemos acolher os refugiados?
 

quarta-feira, setembro 16, 2015

A Árvore [poema 68]

As folhas caem da árvore, mortas ou a morrer
Chegou-lhes o Inverno mais cedo que o Outono
Largaram a árvore que as segurava, é a vida
Largaram o alimento que a Primavera largara
Caem devagar, planam, voam um pouco mais
Parecem vivas, mas já não fazem mais que ir
Olham-se com prumo, donas de si e demais,

E agora caem

Não há remédio maior que a Árvore

sábado, setembro 12, 2015

Onde está Deus?

Estava à janela de um prédio alto a olhar o mundo quando avistei numa janela longínqua uma mulher a sacudir um pano de pó. E sem querer dei por mim a perguntar como se manifestaria Deus naquela mulher. Ele que está em tudo e em todo o lado, como se manifestaria num simples gesto de sacudir o pó. E depois percorri o mundo a imaginar como Deus se manifesta ou se encontra. Imaginei Deus na Grécia com os problemas com que esta se encontra. Imaginei-o na Síria diante de decapitações e mortes sem sentido. Imaginei-o na China com o seu poderia económico, na potência dos Estados Unidos da América, na Amazónia junto dos índios. Percorri meio mundo com o pensamento à procura de Deus. E procurei-o num hospital, numa morgue, numa biblioteca, numa sala de aulas, num café. Sei, de coração, que Ele estava lá. Mas como fui eu que o tentei meter lá na minha forma de o encaixar, então não o vi. É que Ele não cabe na forma como eu queria, mas num tudo que não entendo. Obrigada, senhor, por não me deixares encaixar-te ou encaixotar-te.