Conversas com gente a que costumamos designar de idade, como se as outras não tivessem qualquer tipo de idade. São aqueles a quem já perdoamos tudo, mas para com os quais temos algo próximo da comiseração, o que não pode ser bom. São aqueles que entregamos à noite da vida, como se já não tivessem luz para iluminar. Mas são esses os que mais sabem da vida, os que mais nos podem ensinar da vida. São os que já viveram.
Olhe, senhor padre, aqui estou sem forças. Olhe, senhor padre, que tenho esta doença. Já não vejo para ler. Já não ouço quase nada. Quando eu era jovem. Enquanto poder, não preciso que me ajudem. Era bem melhor estar na minha casinha. A vida é assim. Os meus filhos não me vêm ver. Vou-me entretendo a rezar. Já não sei que faço aqui. Era melhor o Senhor me chamar. Estas pernas não ajudam nada. Vou outra vez ao médico. Já fui operada oito vezes. Tomo nove comprimidos por dia. Não consigo comer sozinha. Aqui estou como Deus quer. Faça-se a vontade de Deus.
São aqueles que nos ensinam que a vida tem valor até ao fim, mesmo quando parece que já não há vida. São aqueles que vivem de forma diferente, sem correrias, sem pressas. São aqueles que gastam o tempo a viver. Que fazem tudo para viver, mesmo quando lhes apetece morrer. São aqueles que mais facilmente se entregam ao Senhor, porque são aqueles que dão conta que precisam Dele. São aqueles que um dia seremos nós, e com os quais deveríamos aprender a viver, mesmo que nos falte vida.