terça-feira, setembro 27, 2011

um Instante

Uma lágrima. Duas lágrimas. Três lágrimas. Conto-as enchendo os olhos. Deixo de as contar enchendo o coração. Enchem-me todo por dentro. Prendem-me. E solto-as em liberdade. Deixo-as ir, rua abaixo. As ruas das minhas paróquias e dos que amo. As ruas dos que me fizeram feliz e dos que me fizeram sentir que vale a pena ser padre. Em dois meses percebi o que foram onze anos. Tudo passa num instante. Mas é o instante de Deus. É a Ele que agradeço tudo. É a Ele que devo tudo. E àqueles que aprendi a amar e a nunca esquecer.
(...)

quinta-feira, setembro 08, 2011

(in)completa 2

Seriam umas dez da manhã. Estava sentado à secretária, descalço. De manhã ando descalço dos pés. Às vezes ando descalço da vida. Não era o caso. Rezava as Laudes. Mas quando a campainha tocou, senti-me mais descalço ainda. Desprevenido. O toque fora muito subtil, mas sonoro o suficiente. O tempo de me calçar foi insuficiente para pensar quem estará à porta. Não me penteei, que estava penteado. Não são horas de direcção espiritual, desabafos ou parecido. Enquanto atravessei o corredor, pensei nalguma santa com um saco de pêssegos. Encostei a mão à chave e a cabeça à porta. Abri com um sorriso de acolhimento. Depressa se transformou em sorriso de admiração e surpresa. Ou constrangimento. O meu bispo. Era o meu bispo...

Se queres ser tu a decidir o rumo desta história, então o "(in)completa 2" é para ti. Tens oportunidade de imaginar o final do texto e seres o seu autor. O melhor final será publicado como post. As regras são simples:
1. Para participar, deves enviar o teu texto como "coment"
2. deves dar um nome ao texto (com maiúsculas)
3. deves repetir a última frase na íntegra, retirando as reticências.
4. deves assinar no final, mesmo que seja com pseudónimo
5. deves esforçar-te por não alongar muito o texto (no máximo 600 caracteres, isto é, cerca de 125 palavras)
6. deves respeitar o espírito e personalidade do "Confessionário dum Padre"
7. se o texto for, de alguma forma, abusivo, não será publicado
8. podes participar com o máximo de 3 textos


N.B. Também poderás comentar nos coments os textos dos participantes; se achares necessária mais alguma regra, informa-me!

sábado, setembro 03, 2011

Entre mim e Deus não há nada.

Entre mim e Deus não há nada. Não há as pessoas que não gostam assim ou assado. Não há o bispo. Não há os colegas. Nem há sequer a família. Eu diria que nem há a Igreja, embora saiba que sem ela não consigo ter algo com Deus. O que eu quero dizer ou sentir com o que estou a dizer é que a minha relação com Deus é minha. Não é de mais ninguém. É um tu a tu. Como devem ser as relações de amor. Eu preciso dos outros para Deus entrar na minha vida. Preciso deles para os amar, porque Deus quer que os ame. Preciso deles porque Deus também quer precisar. Preciso deles para viver solidário e não solitário. Preciso deles para ser Igreja. Preciso deles, porque sem eles não existe Deus na minha vida. Mas entre mim e Deus não há nada. Ou melhor, há o amor que é tudo. O resto é um nada. Ou melhor, o resto é um muito que, comparado com o que existe entre mim e Deus, não é nada. Por isso não quero nada entre mim e Deus.