Está mais que provado que hoje as pessoas pouco querem com Deus, com a Igreja, com os padres ou com a fé. Contudo, persistem em querer realizar as festas do baptismo, primeira comunhão e Crisma. Sobretudo estas. Dizem que, tendo-as feito, fizeram “tudo”, como se esse tudo fosse a garantia de serem cristãos. Segundo estes, quem vai à missa são as beatas. E quando algum jovem vai à missa, é apontado como anjinho, santinho ou parecido. Não está na moda ir à missa. A Catequese serve, na generalidade, para que se habilitem as crianças e jovens e fazer estas festas. É comum ouvir pais afirmarem que, porque eles fizeram tudo, também querem que os filhos façam tudo. O tal “tudo”. É comum que, embora honestamente, alguns dos catequisandos respondam que o objectivo deles ao participar na Catequese, é poder fazer o Crisma. Depois dele, como se sabe, já não querem nada com Deus, ser do qual foram questionando a existência, mas não o expressaram para evitar não fazer o Crisma. Depois vêm os funerais e as festas populares, acções que manifestam, de forma clara, que a Igreja tem servido, quase exclusivamente, para cumprir sacramentos, sacramentais e festas religiosas populares. E a nós, padres, pedem-nos que sejamos funcionários destas coisas todas. Aquele tipo de empregado que deve estar ali no território que chamamos paróquia, para quando se precisa de alguma destas coisas. Nem formação, nem evangelização, nem entusiasmos, nem dinamismos ou estratégias, têm conseguido inverter a situação. Bem reflectem os peritos pastorais, mas a coisa teima em ser difícil. No meio disto tudo, valha-nos ao menos que, graças a Deus, ainda vai havendo quem não desista de Deus ou da Igreja e precise verdadeiramente da missão dos padres. Ainda assim, como podem resistir as vocações sacerdotais ou como podem surgir vocações ao sacerdócio?
sexta-feira, setembro 28, 2018
segunda-feira, setembro 24, 2018
Beatas, ratas de sacristia, ou santas
Há quem lhes chame beatas do padre, ratas de sacristia, e por aí fora. Nomes que se ouvem por todas as paróquias e que, às vezes, até a nós, padres, nos ocorre repetir. Mas são aquelas mulheres que sustentam a paróquia com a sua oração, todos os dias, à mesma hora, na Igreja. Guardam essa hora para estar com Ele e para rezar por todas as necessidades, por todos e toda a paróquia. São meia dúzia de senhoras com uma certa idade que quase nunca faltam a esse compromisso que assumiram diante de Deus e da comunidade. Se calhar nem sempre são pessoas que na vida diária têm as melhoras condutas. Apontam-lhes, com frequência, o dedo, como sendo pessoas que batem no peito ou colocam as mãos juntas para rezar, mas pouco fazem, de mãos abertas, para ajudar os outros. Não sei se isso é verdade ou não. Também me parece que esse tipo de juízo é demasiado exagerado. Não há ninguém perfeito. Mas uma coisa é certa: elas raramente falham ao compromisso de rezar pela comunidade toda. Por isso hoje queria dirigir-lhes o meu Bem hajam, e chamar-lhes de minhas santas, ou santas da minha comunidade cristã. Vós suportais, em muito, a nossa comunidade. Não há casa sem fundações. Não há árvore sem raízes. Não há intimidade com Deus sem oração. Não há Igreja sem oração. Não há comunidade cristã sem oração.
quarta-feira, setembro 19, 2018
Destas questões ético-morais, quais as que te preocupam mais?
A 30 de Junho colocávamos online uma sondagem que perguntava sobre questões ético-morais. Apresentamos agora os resultados dessa sondagem, que nos mostram que das questões apresentadas, a que mais preocupava as pessoas era o "terrorismo", seguido pelo "suicídio".
Na ocasião, um dos nossos habituais comentadores sugeriu uma outra série de questões ético-morais, quiças mais actuais. Por isso decidimos propô-las na sondagem que surge agora.
sexta-feira, setembro 14, 2018
O senhor em frente
Em frente à mesa solitária onde me encontro a almoçar, está outra mesa solitária. A diferença está nos ocupantes. Numa estou eu, e na outra está um senhor que ainda não está gasto pela vida, mas a idade mostra no seu rosto os sulcos de muitas histórias. Acabámos comendo frente a frente, em mesas diferentes, sem dizer uma palavra, mas entreolhando-nos de vez em quando. Não parei de o observar como se fosse o meu pai que, nos seus oitenta e quatro anos, tivesse ido comer sozinho ao restaurante. Bem podia fazê-lo como aquele senhor, com uma certa serenidade, olhando fixamente o tempo, mastigando demoradamente, com um copo de vinho na mão. Sozinho. Muito sozinho. É para isto que a gente anseia viver muitos anos?
quinta-feira, setembro 06, 2018
uma cruz deu à costa [poema 193]
Deu à praia um mastro que era uma cruz ou forma de cruz
Contando a história do barqueiro que desaparecera no mar
Desembarcara a meio da viagem, perto do fim, como o fim
Sem desfraldar as velas, sem proa, sem leme, sem tripulação
Deu à praia como história verdadeira, ou memória verdadeira
Deixando para trás as lendas que falavam dele, em cruz
Contando a história do barqueiro que desaparecera no mar
Desembarcara a meio da viagem, perto do fim, como o fim
Sem desfraldar as velas, sem proa, sem leme, sem tripulação
Deu à praia como história verdadeira, ou memória verdadeira
Deixando para trás as lendas que falavam dele, em cruz
sábado, setembro 01, 2018
A Adrenalina do senhor prior
Estava sentado ao seu lado. A distância não alimentava muito desconforto. Mas ela não parava de fazer piropos ao senhor prior. Estávamos no meio de uma festa de aniversário, uma daquelas festas para as quais o pároco ainda vai sendo convidado. Assim como ela. Não era mulher que fizesse incómodo libidinal ao senhor prior. Era apenas uma senhora castiça que usava todas as conversas para meter picante. Por isso o padre, que era eu, ria-se e divertia-se. E às tantas entrou na brincadeira.
Na noite anterior estivera até tarde a assistir a um concerto, que achara maravilhoso. Cantara imenso, batera palmas, saltara, dançara. Por isso, ao deitar-se, teve dificuldade em adormecer. Estava, como se costuma dizer, com adrenalina. Por isso, em tom de brincadeira, disparou para a vizinha do lado. Esta noite deitei-me cá com uma adrenalina! E fez com a mão um sinal de exclamação e excitação. Mas a exclamação e excitação da senhora ainda foram maiores. Dormiu com quem, senhor prior? Com a Adre…quê? Com uma Adelina, ou Adrelina? Eu bem digo, os padres são cá uma peça! Mas faz bem, senhor prior, os padres são homens como os outros.
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