sábado, dezembro 29, 2012

Pede um desejo para 2013

No início do ano 2009 eu postava aqui uma sondagem que proporcionava a oportunidade de pedir um desejo para esse ano. Passados que vão quatro anos, julgo interessante postar a mesma sondagem para verificar o que mudou. É certo que os "penitentes" podem não ser os mesmos. Porém, a conjuntura social é tão diferente, que poderemos tirar conclusões interessantes, mesmo fazendo comparações à anterior sondagem.
A proposta é: "Pede um desejo para 2013"
Como habitualmente, podem e devem justificar as vossas opções nos comentários.

sexta-feira, dezembro 21, 2012

A Maria, o burro e a vaca

A Maria, que não é a mãe de Jesus mas é muito brincalhona, estava à minha espera no final da missa para me fazer uma pergunta importante e a propósito deste Natal. Ó senhor padre, diga-me lá uma coisa ou diga o que tem a dizer da proibição que o senhor Papa fez, aquela de que não podemos por o burro e a vaca no presépio. Não consegui conter a gargalhada e ela também não. Olha uma coisa destas, continuava. Então hei-de deitar o burro e vaca que lá tenho em casa para o lixo! Era gargalhada atrás de gargalhada, e não resisti a contar uma história verosímil que li algures e que, segundo consta, há uma qualquer referência dela no tal livro do Papa, “ A infância de Jesus”. Sabe, senhora Maria, na Bíblia não aparecem nenhum burro ou vaca nas passagens em que se fala do nascimento de Jesus. Nem uma referenciazinha sequer. Porém, a dada altura, a Igreja não quis deixar o menino sozinho com a mãe e o pai. Aliás, queriam que no presépio toda a humanidade estivesse representada. Vai daí que as melhores figuras que encontraram foi o burro e a vaca. E assim, a partir daquela altura, tanto eu como a senhora já estamos representados no presépio. Foi rir até mais não. Confesso que ainda não li o livro do papa, mas já li o suficiente para perceber que o Papa, tal como eu, aconselha a que nos centremos no essencial do Natal e da Vida. Não proíbe nada. Não bane o burro e a vaca do presépio. Mais, diz que nenhum presépio vai prescindir deles. Agora quem não quer que se queixe. Eu prefiro rir-me disto tudo e pensar que afinal nem estou nada mal representado no presépio. O que importa é estar por lá.
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Aproveito para desejar a todos um Natal cheio da presença de Deus!

quinta-feira, dezembro 13, 2012

É assim o braço de Deus

A senhora tem problemas de bronquite. Arfa ao falar. Veio ter comigo porque quer ir para o céu. A história da sua vida não tem sequer muitos erros ou pecados. Mas vive ensombrada pela ideia de não ir para o céu. Vive, como a bronquite, aos soluços. Tenho medo de não ir para o céu, senhor padre. A questão é recorrente, nela e em muitos mais com boa intenção de viver ou de morrer. Lembrei-me logo da Rosária, que nas minhas antigas paróquias, vivia abafada pelo medo de não ir para o céu. Ocorreu-me perguntar se ela sabia que Deus era amor. E se confiava no seu amor. Ela respondeu-me que sim, claro que sim. Então confie que o Amor Dele há-de ser maior que o seu medo. Há-de ser muito maior que as suas faltas. Perguntei-lhe se confiava no seu marido, e ela respondeu prontamente que sim, embora, às vezes, fosse muito rabugento. Acrescentei mais uma série de perguntas. Se o marido a visse caída no chão, que lhe faria? Deixava-a lá caída? Virava-lhe as costas? A cada pergunta ela respondia prontamente que o seu marido nunca faria uma coisa dessas porque a amava muito. Ora se o seu marido, porque a ama muito, não a deixaria caída no chão, imagine o que faz Deus cada vez que nos vê no chão! Se confia em Deus, confie também que sempre que a vir caída, Ele a ajudará a levantar-se. Quando se confia em alguém que nos ama, sabemos que por maior que seja a nossa queda, essa pessoa vai lá estar para nos dar o braço e levantar-nos. É assim o braço do Deus que nos ama infinitamente.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Mais uma estrela no presépio deste Natal

Neste preciso momento as lágrimas correm-me pela face sem dó nem piedade, donas de mim e donas deste momento só meu. Estou confuso e elas não estão a limpar nada. Correm-me pela pele sem caminho. Limpo uma, mas depois vem outra, como duas amigas que para onde vai uma vai também a outra. Uma atrás de outra, porque querem contar uma história e não lhe querem dar um fim ou colocar-lhe um ponto final. Estou aqui sozinho com as minhas amigas lágrimas, porque hoje faleceu um grande amigo e não sei como lhe dizer que não queria. E não sei como lhe pedir que volte um dia atrás e me diga a certeza de que o Pai o queria chamar porque neste Natal precisava de mais uma estrela no presépio. Tinha sido meu aluno no Seminário. Tinha sido meu companheiro de lides pastorais. Tinha vinte e sete anos e nada fazia prever que seriam só vinte e sete. Não tinha doença aparente. Só tinha vinte e sete anos. Tão poucos anos para serem, apesar disso, uma grande vida. Muito mais novo que eu. Mas com uma vida muito mais bela que a minha. E digo-o envergonhado, às escondidas, porque um dia me disse que me devia muito da sua vida. Disse-o repetidamente, em várias ocasiões, como se quisesse dizer-me que, acontecesse o que acontecesse, a sua vida foi um pouco da minha. E agora não consigo sequer gritar. As lágrimas não deixam. Tenho as veias por cima das faces a rebentar porque não consigo perceber o que o Senhor me quer dizer desta vez. Andei todo o dia como se não estivesse nem lá nem cá, até que me sentei depois da comunhão, na missa da minha paróquia, e me lembrei do que ele me disse tantas vezes e que agora não entendo, porque não sei o que é dever muito numa vida que só teve vinte e sete anos e que ainda tinha tanto para partilhar, mesmo na Igreja e para Deus. Ou o que significa ajudar alguém a ser como é para que isso dure muito menos que a minha vida. Ou se o Senhor me quer recordar que não devo correr na vida, de trás para a frente, porque ela é que corre. Ou se me quer ensinar a valorizar cada segundo e cada amigo da minha vida. Ou se me quer dizer que os meus são mais dele que meus. E apesar de toda a minha fé e da certeza que tenho na vida eterna, não consigo limpar todas as lágrimas, pois são muitas. Quero pensar que o meu amigo de vinte e sete anos está no céu a rir-se comigo e para mim. Porque ele era assim. Um jovem que dava importância a cada coisa bela da sua vida na certeza de que Deus estava por detrás delas. Porém, neste ponto desta história, não consigo senão chorar e querer que não tivesse sido assim.

segunda-feira, dezembro 03, 2012

O padre dos funerais

O padre António, chamemos-lhe assim, dado que tal como há muitas Marias, também há muitos Antónios no mundo, está a paroquiar seis terrinhas do interior, daquelas que só enchem as casas vazias por altura do verão com os emigrantes que regressam às suas paredes. O padre António diz, com pouco orgulho disso, que é o padre dos funerais, como se isso lhe estivesse colado à pele. No ano passado fiz oitenta funerais e zero baptizados. Acrescentou para explicar o atributo. Não sei o futuro daquelas terras. Não sei o futuro da nossa terra. Nem sei o futuro da Igreja, pois que sem nascimentos também não podem haver vocações ou cristãos jovens. Acenei que sim para concordar e que não para demonstrar desagrado. Um senhor que está ligado a essas coisas, dizia-me há dias, em números, a situação do concelho onde moro agora. Desde o início do ano, já lá vão portanto cerca de seis meses ou meio ano, morreram mais de cento e vinte pessoas, o que dá quase um funeral por dia, e nasceram doze crianças, o que dá cerca de duas crianças por mês. Números à parte, o que quererão os homens desta terra? Considerações à parte, o que vai fazer Deus com esta terra?