Um dia destes, numa tarde ensolarada e à sombra de uma árvore a que não sei dar nome, cruzei-me com a senhora Encarnação, uma mulher acostumada a fazer o bem, mas que não põe os pés na missa, como ela diz. Aquilo está cheio de beatas falsas. Eu faço o bem, senhor padre, sem olhar a quem. Não preciso de ir à missa nem de rezar para fazer o bem. Eu tenho mais fé que todas elas, referindo-se às tais que chama de beatas.
A conversa prolongou-se entre palavreados castiços de quem não tem tento na língua, mas gosta de a usar para uns dedos de conversa com o senhor prior. E ainda bem. E nunca se azedou a conversa, nem quando lhe expliquei que a fé era muito mais que fazer o bem. Qualquer pessoa pode fazer o bem. Um muçulmano ou um hindu, um agnóstico ou um ateu podem fazer o bem. Naturalmente que tive de explicar algumas destas palavras porque a senhora Encarnação andou na escola apenas até à quarta-classe. E clarifiquei que os cristãos fazem o bem, ou devem fazê-lo, por Cristo, em nome de Cristo. E desse modo é que manifestam a sua fé. A fé tem mais a ver com fazer o bem por Cristo, com Cristo e em Cristo, a típica expressão que usamos na eucaristia e que gosto sobremaneira.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A fé de Portugal"