Há umas notas que um dia hei-de tocar
diante do maestro que as inventou
Com ele as hei-de tocar como sou
sem dó que não seja Lá.
sábado, fevereiro 27, 2016
quinta-feira, fevereiro 25, 2016
corpo vestido [poema 94]
Caminham os pés descalços pela neve
Carregando o corpo vestido de escuro
Desenham cacimbas onde nasce a lama.
O corpo vai nu e augura-se ao longe
Pelo negro que vestiu na terra branca
Não sabe onde estão as cacimbas de lama.
Sabem-nos os pés que continuam descalços
Deixando para trás, caído, o corpo despido
Que não queria amalgamar-se na lama.
Carregando o corpo vestido de escuro
Desenham cacimbas onde nasce a lama.
O corpo vai nu e augura-se ao longe
Pelo negro que vestiu na terra branca
Não sabe onde estão as cacimbas de lama.
Sabem-nos os pés que continuam descalços
Deixando para trás, caído, o corpo despido
Que não queria amalgamar-se na lama.
quarta-feira, fevereiro 24, 2016
Farol [poema 93]
No mar da minha terra há um Farol
Sei-o de cor quando visito as gentes
Não lhe sei a morada ou a dor
Em sonhos o digo como diz a gente
Que ali ergueu para não encalhar
O pescador que ia ao mar
Sei-o de cor quando visito as gentes
Não lhe sei a morada ou a dor
Em sonhos o digo como diz a gente
Que ali ergueu para não encalhar
O pescador que ia ao mar
domingo, fevereiro 21, 2016
Deus resolve-nos a vida
Hoje não quero dar nome à pessoa que, em conversa, me disse que não entendia como Deus não nos resolvia os problemas que tínhamos e permitia que houvesse tanto sofrimento, mesmo de pessoas inocentes. Não quero dar-lhe nome, para que cada um possa ali colocar o seu. Porque sei que na nossa vida estas dúvidas aparecem apanhando-nos desprevenidos. A essas pessoas sem nome para dizer, eu hoje quero dizer.
Deus resolve-nos a vida. Não no-la resolve por fora, por acções exteriores. Tudo o que é de Deus acontece no interior, mesmo as coisas exteriores. Por isso Ele não resolve as catástrofes. Dá-nos o entendimento e a oportunidade de as resolver. Não nos resolve a doença, mas dá-nos a capacidade de a viver. Não nos resolve as relações, mas indica-nos como lidar com elas. Não nos resolve o sofrimento ou a dor, mas inspira-nos o seu sentido. Deixa-nos morrer, mas até isso Ele ressuscita para a intimidade do seu ser.
Deus afinal resolve-nos toda a nossa vida, mas interiormente. Basta tão só que O deixemos habitar em nós. Lá dentro Ele dará sentido a todo o nosso exterior.
quinta-feira, fevereiro 18, 2016
vestimenta [poema 92]
Vou vestir outra pele e não uma máscara
Entre às árvores vou pintar-me de cores verdes
Vou esperar que a pele assente, e me transplante
Entre as pessoas vou disfarçar-me de pessoa azul
Com o céu numa mão e o sol no que me sobra
Vou rasgar-me
E esperar tua pele.
Entre às árvores vou pintar-me de cores verdes
Vou esperar que a pele assente, e me transplante
Entre as pessoas vou disfarçar-me de pessoa azul
Com o céu numa mão e o sol no que me sobra
Vou rasgar-me
E esperar tua pele.
segunda-feira, fevereiro 15, 2016
A caipirinha
Estava diante do Santíssimo com um colega ao lado. Outro sacerdote. Outro cristão. Outra forma talvez de viver a fé. Ele ajoelhara-se para falar ou escutar o Senhor. Eu colocara uma perna em cima da outra, traçadas, esticado para trás, confortavelmente em posição habitual em mim. Em tom de brincadeira, o colega levantou o rosto, olhou para mim de alto a baixo medindo a posição em que me colocara diante do Senhor, e insinuando que aparentava estar num bar, disse. Queres que te vá buscar uma caipirinha?
Baseado na chamada oração corporal, e em toda a demonstração orante que o nosso corpo faz, tem razão o meu colega. Tratava-se de estar diante do inefável, do Deus que se ama com respeito. Mas eu só estava a falar com um amigo, o Senhor, e com os amigos eu falo assim.
sexta-feira, fevereiro 12, 2016
Catedral [poema 91]
Teces em mim uma catedral sem pés
Levas anos, muitos anos antes de mim
Meticuloso e minucioso artesão que és
A tecer-me entre as pedras do jardim
E fazes-me acreditar, em infinito ser,
Que sem esta pedra que sou e não sou
Não consegues construir o teu querer
a Catedral
Levas anos, muitos anos antes de mim
Meticuloso e minucioso artesão que és
A tecer-me entre as pedras do jardim
E fazes-me acreditar, em infinito ser,
Que sem esta pedra que sou e não sou
Não consegues construir o teu querer
a Catedral
terça-feira, fevereiro 09, 2016
A pequena Sónia e a sua mãe doente, em Fátima
A Sónia é uma pequenita da terceira classe. A mãe tem uma das doenças do século, o cancro. ESta tem sofrido imenso, embora sem perder o ânimo de Deus. A Sónia percebe que a mãe sofre. A Sónia gostava de tirar a dor à mãe. A Sónia disfarça, mas sofre com a mãe. Uma vez unidas pelo cordão umbilical, toda a vida unidas.
Encontrei-as em Fátima numa noite destas. A mãe costuma procurar-me para desabafar e contar da forma como vai lidando com a doença. Por isso aproveitámos a ocasião para uma actualização rápida. Desta vez tinha algo especialmente bonito para contar. Veja, padre, eu que não sou muito destas coisas, hoje decidi dar duas voltas de joelhos à Capelinha. Sabia que era doloroso. Sabia que não é o que mais Deus quer. Ou Nossa Senhora. Mas nesta etapa da minha vida, tento tudo. Não se tratava de uma promessa. Era tão só uma vontade. E pensei fazê-lo sem a pretensão de que Deus me cure. Era mesmo só para que Deus me desse força. E nisto, repare… Fez uma pausa para deixar sua cara sorrir… Imagine que a Sónia não deixou e disse que o faria por mim. Disse-o convictamente e impondo a sua vontade. Fê-lo, padre, com um sorriso a olhar o meu sorriso e as minhas pequenas lágrimas. E depois de dar duas voltas, veio dizer-me. Olha, mãe, dei duas voltas por ti. Agora dou mais três por mim.
E eu que pensava que sabia o que ia no coração das pessoas que fazem estas coisas!
vem a propósito este texto que escrevi em tempos: A criança do Santuário
sábado, fevereiro 06, 2016
Qual a obra de misericórdia corporal que mais tens praticado neste ano jubilar?
A sondagem que tínhamos online constatou como é grande o número daqueles que têm pouca preocupação para que hajam mais vocações ao sacerdócio, embora também não possamos afirmar que existe uma despreocupação geral.
Diz-se por aí que a Igreja actual, sobretudo no Ocidente, está em crise vocacional. Diz-se que cada vez são menos os padres. Diz-se que os Seminários estão vazios. Mas será que a Igreja precisa mais padres ou mais leigos empenhados e comprometidos? Esta sondagem reforçou em mim a ideia de que se calhar o nosso esforço vocacional deveria centrar-se nos leigos, pois estou convencido que quanto mais leigos comprometidos tivermos, mais vocações ao sacerdócio poderemos vir a ter. É apenas uma opinião. Mas dá que pensar!
Hoje surge nova sondagem enquadrada no ano da Misericórdia: Qual a obra de misericórdia corporal que mais tens praticado neste ano jubilar? Por um lado, aproveitamos a oportunidade para recordar as "obras de misericórdia corporais". Por outro, esperamos que nos faça reflectir sobre o modo como temos sido misericordiosos.
quinta-feira, fevereiro 04, 2016
a mãe [poema 90]
Não há mais além
Para dizer uma mãe
Há um aqui em mim
Sem morrer nem fim
Ela é quem nos tem
Ela é o que me sou
Ela é, como dizer,
a mãe
Para dizer uma mãe
Há um aqui em mim
Sem morrer nem fim
Ela é quem nos tem
Ela é o que me sou
Ela é, como dizer,
a mãe
terça-feira, fevereiro 02, 2016
Os ruídos e silêncios da missa
Ainda celebro missas com ruído de fundo semelhante a vento que entra pelas portas mal fechadas. Um ruído que soa a terço rezado e por vezes a repetição das palavras que eu professo. Pensava eu na minha meninice sacerdotal que com o tempo este ruído iria desaparecer. Mas não. Há ainda pessoas nas nossas missas do tempo em que a missa era em latim e dava jeito ocupar o tempo com algo útil, que se percebesse e que fosse autêntico. O autêntico possível. E essa gente é a que ainda tem mais tempo disponível para ir à missa. É a gente de um certo tempo de cristandade. O resto da gente já não tem tempo sequer para rezar terços durante a missa. Ou fora dela.
Incomoda, de certa forma, este ruído. Mas também incomoda ouvir silêncios do lado de lá do altar.
Subscrever:
Mensagens (Atom)