Estava num retiro para sacerdotes, num momento especial, diante do Santíssimo Sacramento exposto. Com base numa passagem do evangelho de João, lá para o final do mesmo, quando Jesus pergunta insistentemente a Pedro se O amava, eu fazia ao Senhor a pergunta com que comecei este retiro. Que queres de mim, Senhor, quando eu próprio não sei bem, muitas vezes, o que quero? Confidencio, com pudor, que esta pergunta tem sido recorrente nos meus últimos tempos, cansados, inquietos, expectantes. Perguntava e tornava a perguntar ao Senhor, sem obter um sinal que me satisfizesse. As luzes não aumentavam nem diminuíam. Não havia sinais na rua. Nem coisas extraordinárias a acontecer. Só havia silêncio, sobretudo no meu coração.
Nisto, um sacerdote, de idade avançada, dirigiu-se a mim, de entre os vários sacerdotes presentes, perguntando e pedindo se o podia confessar. Levantei-me prontamente e afastámo-nos os dois para um local mais recôndito. Não tem propriamente interesse o conteúdo desta confissão. Mas eu fui, durante a mesma e aos poucos, edificando-me com a virtude daquele homem que entregara a sua vida ao Senhor e que agora, com falta de saúde, em sofrimento, quando as capacidades já não lhe permitem muito, continuava a entregar-se de uma forma que eu não consigo explicar ou definir. Acabada a confissão, levantámo-nos e foi cada um para seu lado. Ele foi para diante do Santíssimo exposto e eu vim a correr para o quarto de modo a esconder as lágrimas no rosto.
Não sei se foi a resposta do Senhor e ou se foi a resposta que eu esperava. A verdade é que me senti instrumento da misericórdia de Deus. No meio de muitos outros sacerdotes, com certeza mais dignos que eu, este padre escolhera-me a mim e eu fora um pequenino instrumento de Deus. Como disse, não tenho a certeza de que tenha sido a resposta à pergunta que, insistentemente, fazia ao Senhor. Ou até sei. Talvez não saiba como a dizer. Mas sempre posso dizer Obrigado, meu Senhor. Ofereço-te esta lágrima feita de amor.