Depois de desfiar um sem número de conflitos interiores, de infelicidades, de situações e problemas, acabou por dizer que a sua vida não tinha sentido algum. Que era completamente infeliz. Já não acreditava nas minhas palavras da homilia do outro dia, quando eu afirmei que Deus nos queria felizes e que a salvação prometida não era outra coisa senão a felicidade. Então porque Deus não interfere nas nossas vidas a fim de nos fazer felizes, padre? Se Ele nos quer felizes, porque permite que não o sejamos? Enquanto falava, remexia os dedos uns nos outros, revirava os olhos para a porta, como se tivesse medo desta se abrir e trazer mais um problema. Apesar de zangada com deus, como ela afirmava, no fundo, esperava Dele, através de mim, uma resposta, um sinal, uma forma de descobrir o que é isso da felicidade.
Expliquei que devemos viver felizes com o que temos e não com o que não temos. Mas isso não chegou. Ela era demasiado jovem para aceitar aquilo que tem, quando ainda deseja tanto da vida. Por isso acrescentei. Não há gente feliz e gente infeliz. Não há felizes e infelizes. Há é quem consiga olhar as coisas, mesmo as adversas, com olhos de quem quer encontrar a felicidade. E há quem só veja infelicidade nas coisas. Há quem fique preso nas adversidades que acontecem, impedindo que o seu coração perceba a quantidade e a qualidade das coisas belas que acontecem nesse mesmo tempo. Assim nunca há espaço para ser feliz. Olha a vida como quem quer ser feliz e não como quem quer a felicidade dada. A felicidade existe em si, mas tem de procurar-se.
Tudo depende da forma como olhamos as coisas. Nunca ouviste dizer que o sabor do chocolate depende da pessoa que o saboreia? O chocolate só é chocolate porque alguém o saboreia. E pode haver mesmo quem não goste de chocolate. Ou pelo menos deste chocolate. Ou daquele. Ao que ela, trocista, como que delambendo os lábios, disse. Nunca tinha pensado nisso, padre. Tem por ai um chocolate para mim?
Expliquei que devemos viver felizes com o que temos e não com o que não temos. Mas isso não chegou. Ela era demasiado jovem para aceitar aquilo que tem, quando ainda deseja tanto da vida. Por isso acrescentei. Não há gente feliz e gente infeliz. Não há felizes e infelizes. Há é quem consiga olhar as coisas, mesmo as adversas, com olhos de quem quer encontrar a felicidade. E há quem só veja infelicidade nas coisas. Há quem fique preso nas adversidades que acontecem, impedindo que o seu coração perceba a quantidade e a qualidade das coisas belas que acontecem nesse mesmo tempo. Assim nunca há espaço para ser feliz. Olha a vida como quem quer ser feliz e não como quem quer a felicidade dada. A felicidade existe em si, mas tem de procurar-se.
Tudo depende da forma como olhamos as coisas. Nunca ouviste dizer que o sabor do chocolate depende da pessoa que o saboreia? O chocolate só é chocolate porque alguém o saboreia. E pode haver mesmo quem não goste de chocolate. Ou pelo menos deste chocolate. Ou daquele. Ao que ela, trocista, como que delambendo os lábios, disse. Nunca tinha pensado nisso, padre. Tem por ai um chocolate para mim?
Meti as mãos ao bolso. Fiz o gesto de retirar algo. Levantei o braço com a mão fechada. Aproximei a mão dos olhos dela. Abri. O sorriso trocista passou a sorriso de expectativa. E o meu, de expectativa, passou a malandrice. A mão não trazia nada. Estava vazia. Olhou para mim e eu disse Consegues olhar para este chocolate e saber-lhe o sabor?