domingo, abril 25, 2010

As flores que valem vidas

Tenho na minha mão direita dois ramos de flores. Na esquerda outro. Não me perguntem que flores são. São flores. Sei-lhes a cor. Amarelo e branco. Laranja. Assim meio lilás e meio amarelo. Sei-lhes o cheiro. Mas não sei dizê-lo. Sei-lhes o tamanho, que é maior que o seu tamanho real. Sei-lhes a alma, porque, dizem, ela fica no fundo de cada um e faz cada um ser o que é. Sei que cada flor costuma ter um significado, mas para mim estas flores de cores variadas significam o mesmo. Afinal não sou apenas o pastor que carrega as ovelhas, que vive a vida a curar-lhes mazelas, a gritar-lhes para que o ouçam. Sou o seu pastor. Não sei quem os lembrou, ou se calhar sei. Mas quero pensar que foi a verdade e o coração que lembraram os meus paroquianos, no seu conjunto, hoje, dia do Bom Pastor, da importância do seu pastor, isto é, eu.
Longe da minha imaginação e do meu ram-ram, a meio da eucaristia, numas paróquias a seguir à homilia, como quem diz Agora que o ouvimos, ouça-nos; noutras, no momento da acção de graças, que é como quem diz Temos muito a agradecer. Em cada uma delas eu tive a mesma sensação de não saber que dizer ou fazer. Deixar-me apenas encantar. Aqui tens, nosso pastor, estas flores, para te recordar como és importante para nós. Queremos ser o teu rebanho. As palavras não foram bem estas, mas estou a resumir as folhas que leram. Pareciam mesmo combinados. Na primeira eucaristia tive de esconder o meu rosto por entre o ramo das flores, respirar fundo, e cortar a força das lágrimas. Nas outras, apesar da surpresa ter sido igual, reconheço que a força foi mais forte e a emoção mais controlada. Fiquei sempre sem palavras em segundos. Depois falei, falei. Deixei que a minha alma falasse. Nalgumas paróquias as flores deram lugar a outras recordações. Tiveram o mesmo sabor e cor das flores.
Nesta hora, uma hora em que acontece a celebração do sacerdócio e no mesmo minuto acontece a sua acusação desmesurada, vale a pena sentir que somos importantes para alguém. Apesar das nossas fragilidades, dos nossos pecados, das nossas limitações, Deus pode usar-nos e usa-nos para se encontrar com os seus.
Ó meu único e eterno Bom Pastor, hoje senti que valia a pena ser pastor destes rebanhos que me entregaste. Deste teu rebanho. Deste meu rebanho. Estas flores valem tanto!
Amanhã vou levá-las à minha mãe. Ela entende-as tanto como eu. Ela sabe se eu as mereço ou não. E pela mesma razão, eu sei que ela também as merece.

20 comentários:

Elsa Sequeira disse...

Fico contente pelas flores, pelo carinho, que bom!! Tu mereces tudo isso e muito mais, eu sei que simmmm!

Bjtsssss

D. R. disse...

:)

Afinal sempre há alguém que também fica sem palavras mediante as demonstrações de afecto e carinho. :)

Domingo do Bom Pastor... :) Desejo que este dia se repita muitos anos, com a ajuda d'Aquele que é o Pastor Universal.

Beijinho.

laureana silva disse...

Fico tão contente por si padre. Eu bem lhe disse que era muito amado pelos seus paroquianos, é assim como um pai. São os seus filhos espirituais. Que bom que nesta altura em que a Igreja é tão atacada, haja católicos dignos desse nome. Que o Bom Pastor, habite em si para sempre.
Beijinhos e felicidades, muiiiiitas.
Maria

Fá menor disse...

Abençoado seja o pastor que assim cuida do seu rebanho!

Briseis disse...

Que bonito...
A atitude das "ovelhas" foi linda!
Essa atitude reflecte os ensinamentos e a Fé que o seu "pastor" lhes transmitiu.
É óptimo saber que há paróquias assim. Que há sacerdotes assim. Porque, por mais preseverante que seja o Cristão, é inevitável não se sentir atacado e não vacilar com o muito que tem sido dito acerca dos pastores que nos orientam...

Canela disse...

Foi um gesto muito bonito, demonstra carinho, atenção...

Se caisse uma lagrimita, não era sinal de fraqueza.... mas sim de um coração que ama o seu rebanho.

Beijinho fraterno.

Anónimo disse...

Flores que valem vidas.
Pastor só há um Jesus e mais nenhum..

Confessionário disse...

Olá, último anónimo.
Tens toda a razão. O verdadeiro pastor é só um, o "Bom Pastor". Tb o disse nas minhas homilias de ontem.
Mas os padres devem seguir esse modelo do Bom Pastor e serem sinal desse pastor como pastores dos rebanhos que Deus coloca nas nossas mãos...

Anónimo disse...

Precisamos de padres que sejam verdadeiros pastores. Um testemunho muito bonito, muito sentido e de certeza muito regenerador. Tratemos bem os nossos pastores, cuidemos bem deles para que eles NUNCA desistam de nós e nos ajudem a viver mais ao jeito de Jesus. Muitas felicidades. Que Deus sempre o abençoe!!!

Anónimo disse...

Foi bom não foi? O amor é dádiva de Deus. É vida em abundância!

Que Deus sempre o proteja para à imagem Dele ser bom pastor!

Anónimo disse...

Olá!

Um abrajinho muito grande " bom Pastor"
Que a tua mãe "receba" as tuas flores com muito carinho.

alexandra

disse...

Um texto que é, simultaneamente, um louvor a Deus e um hino à Vida. Um louvor a Deus não ritualizado mas muito sentido -convenço-me de que é destes que Ele gosta mais… Um hino à Vida porque ela existe por aí, liberta de fuligem, na abundância que só o Amor permite. Tudo o que se descreve neste post brota dessa fonte imensa!

Afinal, temos ou não o bastante para sermos felizes? Às vezes falta a ousadia de um pequeno gesto de um lado e/ou do outro...

Permita Deus que os paroquianos continuem a ver no seu pároco a figura do Bom Pastor e que ele permaneça Seu fiel representante!

Abraço amigo

Teodora disse...

Eu também adoro o meu pastor, pois tá claro!

Eu sigo o meu pastor cegamente bebo as suas palavras e gestos cuido do seu bem estar zelo pela sua felicidade e para que tudo saia como no guião.

o meu pastor não assobia. é um cavalheiro. trata-me pelo nome, é um querido. canta pelos pastos fora e partilha comigo umas sandochas de presunto enquanto as andorinhos correm atrás de nós.

É tudo muito celestial. como nos filmes. por falar nisso, manda beijos com a mão mas ainda não dá beijos como no cinema (cinema clássico - embora estes, por vezes, fossem um pouco "à macDonald"). AH! aspecto a rever!

Somos um rebanho muito coeso. muito coisinho! bote coesinho nisso! eu e o meu padre somos um rebanho do tamaaaaanho do mundo.

e eu sou uma ovelhinha gira e dócil!

beijos no meu pastor!

Anónimo disse...

Fico feliz por ti, ainda existem pessoas que nos pequenos gestos sabem demonstrar a sua gratidão por tão grande e generosa entrega.
Sou padre há 7 anos e nunca tive qualquer gesto destes no dia do Bom Pastor...
Mas há-que não desanimar.

Abraço em Cristo

Anónimo disse...

Ó meu único e eterno Bom Pastor, hoje senti que valia a pena ser pastor destes rebanhos que me entregaste. Deste teu rebanho. Deste meu rebanho. Estas flores valem tanto!

Valem porque são um sinal que aconchega. Fiquem bem!

P.J disse...

«Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele» (1 Jo 4, 16)

Grande verdade!

Anónimo disse...

Muito lindo. Parabéns pelas flores e pelo amor do seu rebanho. É verdade que temos o Pastor Maior, também é verdade que muitos foram tirados do meio do povo para pastorear o rebanho do grande pastor.

Anónimo disse...

Olá, Anónimo de 26 Abril, 2010 - 23:51, que dizes que és padre há 7 anos e que nunca tiveste qualquer gesto destes no dia do Bom Pastor...(gostava de sublinhar ou colocar a negrito a palavra "destes")
Não terás tido gestos como este; as comunidades são outras, tu és outra pessoa, tens uma maneira diferente de ser pastor. Mas faço-te um desafio, hoje: procura noutras situações, noutras ocasiões, outros gestos (um sorriso, um olhar de cumplicidade, uma palavra de compreensão, um silêncio quando as tuas palavras feriram ou, pelo menos, arranharam um pouco, uma disponibilidade inesperada de uma pessoa que tornou a tua missão mais leve, um certo Natal... que sei eu?) a prova do amor que a/s tua/s comunidade/s te tem/têm, de certeza. [De qualquer modo, repara que as tuas comunidades já te estão a dar algo, nestes 7 domingos do Bom Pastor que já viveste: não o vês? Estão a dar-te a oportunidade de partilhar. E a partilha é algo maravilhoso, um bem inestimável.]
Se dás, invariavelmente receberás, em maior ou menor grau. E mesmo que afinal estejas a ser provado nos afectos e os paroquianos sejam efectivamente frios e ingratos (ou assim te pareçam, pelo menos) - tens razão: há que não desanimar. Aquele que a tudo provê, sabe do que tens necessidade e, a seu tempo, te cumulará da extraordinária abundância dos seus dons (o que não quer dizer que seja o que tu queres, mas é, de certeza, o que te faz falta, como sabes…).

Caro Anónimo, só pretendo ajudar, apenas desejo que estas palavras te possam fazer bem, como as de Jesus. Se assim não for, as minhas mais sinceras desculpas.

E olha que assumo também como minha essa “tentação” que te assalta… Por isso, se calhar, mais do que falar contigo e para ti, estou a falar comigo e para mim… Portanto, não leves a mal...

A.

Anónimo disse...

Gosto de o sentir feliz!

Os padres tristes são tristes padres... E há tantos por aí, cabisbaixos, resmungões, apáticos. Não podem ser bons pastores.

FELICIDADES!

js disse...

Ó Confessionário, ainda bem que foram flores. Lá para o Norte, quando se trata de homenagear o pastoreio do senhor bispo, é frequente encherem-lhe a mala do carro com um valente cordeiro...