O Manuel e a Maria casaram pela Igreja. Escolhi-lhes estes nomes para significarem os outros nomes daqueles que ainda se casam pela Igreja e nunca mais foram vistos na Igreja. Não são assim tantos. São cada vez menos. Mas são quase uma maioria dentro daqueles que ainda se casam pela Igreja. Casam e voltam novamente para baptizar o filho que agora trazem ao colo. Acham que tem de ser assim e são honestos no seu achar. Voltam porque ainda há uma ligação com a Igreja, mesmo que seja como um supermercado. Isso é o que fazem no resto das suas vidas numa sociedade que fomenta o consumo de bens, de coisas, de pessoas, de vidas, de espiritualidades. E os que estão à frente das nossas comunidades cristãs, os padres, vamos aceitando estas intermitências e tentamos - ao menos eu tento - fazer destes ‘voltares’ um momento de acolhimento e de gestação. Contudo, por dentro, o que mais me apetecia era dizer umas palavras indignas de serem palavras, vociferar e gritar que Deus nos ama e que isso é muito mais forte e intenso que um baptismo, um casamento ou qualquer outra expressão sacramental ou ritual que a Igreja tem à disposição. O Deus que nos ama é o que a Igreja deveria ter para oferecer e o que as pessoas deveriam buscar quando se abeiram da Igreja.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O caso descaso!"