A dona Maria da Conceição inscreveu-se para a celebração comunitária da Unção dos doentes. Participou na reunião de preparação. Mas logo me disse que não podia estar. Tinha lá a família em casa. Faltou, portanto. Não fez o sacramento da Unção dos doentes, por conseguinte. Passada que foi uma semana, no final da missa da paróquia, veio ter comigo à sacristia. Queria o diploma da Unção, senhor padre. Mais do que um certificado, o diploma era uma recordação para quem fez o sacramento. A sorrir do caricato e a sorrir com ela, expliquei que o diploma era para quem tinha feito a Unção. Não fazia sentido levá-lo para casa como recordação de nada. Ou como certificação de nada. E o desplante da dona Maria da Conceição não se fez esperar. Dizia que se morresse e não fosse para o céu, a culpa era minha. Mas, independentemente dos motivos, ela é que decidiu faltar ao sacramento. Só podia estar a brincar. Ainda hoje espero que tenha sido uma brincadeira. Só pode. Como se o embrulho da prenda fizesse as vezes da própria prenda. Às vezes é mais fácil entender as coisas de Deus que as coisas dos homens.
segunda-feira, abril 30, 2012
quinta-feira, abril 26, 2012
A senhora de gancho
O gancho no cabelo salientava-se, como se quisesse apanhar alguma coisa
ou alguém. Acabara de chegar para celebrar a Eucaristia quando ela veio ao meu
encalço. Precisava falar comigo. Não tinha muito tempo, a não ser cinco
minutos. Disse-me de chofre que era para me agradecer ter levado Jesus à casa
da mãe acamada no dia de Páscoa. A ironia fez-me recordar que um dia antes da
Páscoa, portanto no Sábado Santo, pelas vinte e três horas, uma outra filha ou
nora da senhora acamada viera pedir-me para levar a Cruz de Jesus à mãe no dia
de Páscoa. Recordo na altura ter-lhe respondido que iria com todo o gosto
visitá-la, confessá-la, providenciar que recebesse a comunhão em casa, mas que
no Domingo de Páscoa era-me impossível. Recordo ainda que nesse dia comecei as
minhas cerimónias antes das nove horas e terminei, com uma pausa de cerca de
uma hora para almoço, pelas dezanove horas. Além de estar estafadíssimo, era-me
de todo humanamente impossível aceder ao pedido. Mas que iria num outro dia. Ao
que me respondeu que não. Que teria de ser nesse dia. Ainda rebusquei no meio
da agenda uma hipótese, por pequena que fosse, dado que a senhora estava
acamada e era dia de Páscoa. Mas ela só queria que eu lhe levasse a cruz como
era costume na sua terra. Afinal o que a senhora queria, porque trazia este
hábito da terra de onde vinha, era a visita pascal, ou como alguns lhe chamam,
as Boas Festas, o Folar, os acompanhamentos. E além de não ter a
disponibilidade que a senhora particularmente queria, também não o ia nem podia
fazer na paróquia. Não era hábito nem oportuno. Mas a senhora insistiu. Eu vou
lá então visitá-la. Não, senhor padre. Tem de levar a Cruz. Só faltava ter de
levar também quem a carregasse, quem levasse a caldeirinha de água benta, quem
levasse a carteira para levantar o folar, e ainda a alva e a estola vestidas.
Expliquei que não podia aceder ao pedido mas que iria, com todo o gosto, um dia
visitá-la. Virou costas porque não era isso que queria. Nem queria confessar-se
ou comungar. Queria a visita da Cruz porque é hábito na sua terra. Queria o
hábito da sua terra. Queria da Igreja o hábito a que estava habituada todas as
páscoas. A senhora do gancho, ironicamente agradecida, depois das mesmas
explicações que fiz à sua irmã ou cunhada, dispondo-me a visitá-la, disse que
não, perguntando se era assim que os padres queriam mais fiéis nas igrejas.
Informou-me, resolutamente, para que eu soubesse, que era católica. E virou
costas. Eu fui para a Igreja celebrar a Eucaristia e ela voltou para o lugar de
onde veio. A rua ou a sua casa, não sei. Na igreja é que não entrou. E são
assim os nossos católicos de hoje. Querem tudo menos o que deviam querer.
Querem hábitos mas não querem a fé.
terça-feira, abril 17, 2012
As aulas da segunda-feira da Carmo
A senhora Carmo é professora do Ensino Básico. É uma óptima paroquiana. É uma cristã que procura sê-lo. Tem alunos do terceiro e quarto anos. Ao redor de uns vinte. Quase todos filhos de casais novos. No meio de uma colher de sopa, em sua casa, contou-me com mágoa que quase todas as segundas-feiras perguntava aos alunos se tinham ido à Missa no Domingo anterior. E um não redondo e em coro se ouvia pela sala. Um miúdo e outro, de vez em quando, contrariavam o não sonoro. A Carmo lastimava-se. Conversava com eles. Explicava-se. Procurava pelas razões. Os pais também não vão. Não querem saber de Deus a não ser nas festas e nos funerais. À porta da igreja, de preferência. Os miúdos podem não faltar à catequese, mas da mesma forma como não faltam ao ballet ou à piscina.
Vinte crianças significam cerca de quarenta pais mais alguns irmãos. Serão cerca de oitenta pessoas que querem pouco ou nada de Deus. São menos oitenta pessoas nas nossas igrejas. São menos pessoas com fé nas nossas terras. São as nossas terras a esvaziar-se de fé. São a fé que desaparece.
Vinte crianças significam cerca de quarenta pais mais alguns irmãos. Serão cerca de oitenta pessoas que querem pouco ou nada de Deus. São menos oitenta pessoas nas nossas igrejas. São menos pessoas com fé nas nossas terras. São as nossas terras a esvaziar-se de fé. São a fé que desaparece.
quarta-feira, abril 11, 2012
O padre Tiago diz que anda cansado
Quero chamar-lhe Tiago. Porque em Grego é uma dádiva de Deus. O padre Tiago diz que anda cansado. Chega a casa e só lhe apetece ver televisão. Ou ouvir televisão. Diz que gosta de ouvir diálogos. E se for para a cama cedo ainda tem muita conversa a por em dia com os seus pensamentos. Não gosta destas conversas. O Padre Joaquim e o padre José e o padre Mário estão doentes. Escolhi os nomes ao acaso. Fala-se de uma depressão. Ou quase depressão. São novos. Bastante novos. Têm menos que dez anos de padre. O padre Tiago tem doze. Como ele, outros se manifestam cansados de andar de um lado para o outro. Cinco, seis, sete e mais paróquias. Embora pequenas, multiplicam-se os esforços. Vale mais um esforço grande do que muitos pequenos. Não aparecem às reuniões diocesanas ou outras. Estão cansados deste formato funcional de ser padre. Desta forma ocidental de viver em Igreja à volta de várias paróquias que têm fé à custa de sacramentos desvirtuados da sua essência e colados à sociedade laica. Estava a conversar com o padre Tiago e falávamos de padres novos que não estão a ser felizes. Nisso da felicidade, os padres mais velhos dão passos mais largos. E não se sabe, ou até sabe, porquê. O que precisavam estes padres que andam cansados, doentes, saturados? Perguntou o Tiago. Exigimos tantas coisas aos padres, e deveríamos apenas dizer aquilo que dizemos aos cristãos. Que sejam felizes. O que interessava é que os padres fossem felizes.
terça-feira, abril 03, 2012
Acreditas na tua e na Ressurreição de Jesus?
A Páscoa está à porta. Podemos dizer que a Ressurreição é a base da nossa fé. Porém há quem tenha muitas dificuldades em acreditar na Ressurreição. Mesmo aqueles que dizem ter fé. E ainda existem diferenças de pensar e reagir entre o acreditar na Ressurreição de Jesus e o acreditar na nossa Ressurreição. Por isso hoje surgem estas duas novas sondagens que estão no sidebar:
- Acreditas na Ressurreição de Jesus?
- Acreditas na tua Ressurreição?
Pedia o favor de responderem obrigatoriamente às duas sondagens, para que se possam tirar conclusões fiáveis. Podem igualmente deixar aqui os seus comentários ou opiniões.
E o que vos desejo, nesta Páscoa, é que Jesus esteja vivo no vosso coração!
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