sexta-feira, outubro 31, 2008

As paróquias que estão a morrer

A conversa não aconteceu no café, mas foi uma conversa de café. Conversa de café de padres. Falávamos das nossas vidas, das nossas canseiras, das nossas paróquias. À medida que cada um falava, eu anotava no meu semblante conclusões para o futuro da nossa Igreja. Ouvi mais que falei. Falei mais com expressões do rosto que com as palavras a sair da boca. Reconheço que estava mais interessado em tirar conclusões. E hoje, quase a entrarmos em Novembro, mês em que as folhas caem mais sem pedir ajuda, e em que o tempo nos faz ver tudo mais escuro, recordo o que um deles disse a determinada altura acerca de uma paróquia onde entrara há uns meses. Sabiam que não tenho lá primeira comunhão faz já uns quinze anos? Perante tamanha afirmação feita como pergunta, não fui apenas eu que esbocei um rosto de admiração. Todos imaginámos que o trabalho do pároco anterior não tinha sido cuidado e que agora o nosso colega teria de colocar toda aquela gente a fazer a primeira comunhão. Julgámos errado. Bem costumo dizer que não devemos ser juízes dos outros e que apenas Deus verdadeiramente pode exercer esse acto de julgar. E só o pode fazer Ele, porque o faz sempre numa perspectiva de amor para com quem exerce o julgamento. Julgámos errado e o colega explicou. Não tinha havido primeiras comunhões porque durante estes anos não tinha havido crianças naquela paróquia. Mais admirados ficámos. Um outro colega, rindo despregadamente, insinuou que assim não teria tanto trabalho nem preocupações. Todos nos juntámos à risada. Mas o nosso colega confidenciou. Mais uma vez julgastes errado, porque isto constitui maior preocupação. É que as nossas paróquias estão a morrer.

sexta-feira, outubro 24, 2008

sondagem_ “Como classificas os católicos hoje em Portugal?”

Passado que vai mais de meio ano da última sondagem e 549 votos, chegou a hora (parecia que nunca mais chegava!!!) de avaliar a sondagem que estava no lado esquerdo, no sidebar. A questão era:
“Como classificas os católicos hoje em Portugal?””

E os resultados são:
1. sem formação _27%
2. indiferentes _19%
3. tradicionalistas _16%
4. não praticantes _10%
5. gente de fé _ 9%
6. simpatizantes _8%
7. supersticiosos _5%
8. anti-clericais _4%
9. praticantes _1%
10. responsáveis _1%
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pequenas considerações:

Não podemos esquecer que o fazer uma classificação, por si, é sempre um acto que depende da perspectiva de vida de quem vota. Por este motivo, esta sondagem pode ser apenas um mero barómetro para auscultar aquilo que pensa um grupo de pessoas. De facto não podemos nunca classificar ninguém nem medir de forma exacta a sua fé. No entanto, podemos aproveitar estes resultados para pensar.

Não vou fazer muitas considerações. Vou deixá-las para cada um as realizar. Mas não posso deixar de realçar:

  1. que 72 % das respostas evidenciam um total afastamento, uma inadequada formação ou a total ausência dela;
  2. que a anterior conclusão traz consigo uma grave constatação: que aqueles que habitualmente chamamos de católicos portugueses não são verdadeiros católicos;
  3. que “gente de fé”, “responsáveis” e “praticantes” apenas contabilizam 11 %;
  4. que não parece haver um grande espírito anti-clerical;
  5. que o mais votado se prende com a falta de formação, o que indicia uma fé por “arrasto” e a urgência de contrariar esta situação;
  6. que a vida dos padres ou agentes de pastoral fica complicada, dado que o seu trabalho vai ser nos próximos tempos algo próximo da “manutenção”, porque é o que as pessoas vão pedir; próximo da “tradição” porque é o que as pessoas querem; votado à formação, o que exige tempo e dedicação, coisa que menos abunda;

    Que considerações farias tu?

Hoje surge nova sondagem, enquadrada nas novidades (seria novidade?!) ou preocupações que têm surgido do Sínodo dos Bispos sobre a “Palavra de Deus na vida e missão da Igreja”. Também podes explicar os motivos da tua opção. A pergunta é:

Como classificas de uma forma geral as homilias que tens ouvido?

quinta-feira, outubro 16, 2008

É dentro de nós que a vida se resolve.

O Guilherme tem dezanove anos. Bateu à porta com o rosto curvado. Com o corpo curvado pela vida e não pela idade. Faz parte desta geração que consome as coisas, a escola, os amigos, os prazeres, o tempo, a estrada, a vida. Faz parte da nossa geração, daqueles que tendo vinte, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta ou setenta anos, vivemos consumindo o que a vida nos dá sem que o sabor dela se entranhe no nosso corpo e na nossa mente. Vivemos mais numa e para uma sociedade que nos define, do que nos definimos perante e para uma sociedade. Por isso hoje o mundo passa depressa e se ontem tínhamos um bibe no corpo e uma chupeta na boca, hoje temos os cabelos grisalhos. Tudo não passa de uma noite mal dormida e quando acordamos estamos a uma grande distância daquilo que éramos.
Por isso hoje queria dizer-vos aquilo que disse ao Guilherme por causa da imensidão de problemas que ele mencionou na sua vida. Queria dizer-vos que nós resolvemos a vida desde dentro. Não resolvemos os nossos problemas com a mudança das situações, com a mudança das coisas à nossa volta, com a mudança dos outros. Tentamos esquecer. Tentamos mudar de lugar, de habitação, de curso, de carro. Tentamos mudar de amigos, procurar amigos, mudar os seus comportamentos e atitudes. Impingimos a nossa forma de sentir e pensar. Mas é dentro de nós que a vida se resolve.