Foi à mesma hora, que não havia outra maneira. Nisto esti-vemos de acordo. Dois funerais em um. Até aqui nada de anormal, que o caso é sempre melindroso. Nem mesmo a cerimónia teve o seu quê. Ambos homens. Ambos com o mesmo nome. Se não fosse funeral e momento de dor para alguns, a coincidência dava para sorrisos. Não sorri. Que me custa fazer funeral que seja. A dor dos outros provoca um mal estar que não consigo explicar, apesar do hábito, que isto tem sido, como diria alguém, às dúzias. Mas no final deu-me que pensar. Saí a correr com o peso dos pensamentos às costas. Explico. Para transportar os corpos é costume termos duas opções. Ou vai à mão, que o cemitério é perto. Ou vai na carrinha funerária. Não obsto nunca, pelo menos ali que, como afirmei, o cemitério é perto. A Igreja estava cheia, como sempre se enche em ocasiões idênticas. Muitos homens. E o caso aconteceu assim, tão simples como conto. Um dos caixões foi transportado por vários homens, em número de seis. O outro foi pela carrinha, e até lá, apenas pelo cangalheiro e por um senhor da família. E havia lá mais homens vigorosos, digo eu.
Fui para casa sem jeito, porque eu costumava dizer que nesta hora todos somos iguais, não há ricos nem pobres. E hoje fiquei com dúvidas. A única certeza que me resta é a de Deus. Que ambos entraram no céu carregados pelas mesmas mãos, as de Deus. Com o mesmo amor, o de Deus