Este padre já faleceu. Já lá vão uns dez anos e faleceu com mais de setenta. Mas contaram-me esta história que me apeteceu contar também. Era um padre simples de uma paróquia simples. Morava, como quase todos os padres, sozinho. Morava numa casa com três quartos, mas apenas ocupava um. Era um bom padre e não tinha dificuldade aparente em morar sozinho. Levava essa forma de viver como a forma normal de viver de um padre. Como a forma de viver com Deus. Segundo me contaram, não o encarava com desgosto, tristeza ou solidão. Ia partilhando a vida com aqueles que faziam parte da sua simples paróquia. Era uma paróquia simples, mas tinha uma catequese com muitas crianças e adolescentes. Um deles era um acólito assíduo. Tinha feito a primeira comunhão havia pouco tempo e entusiasmara-se no serviço de ajuda à Missa. Numa dessas ocasiões, o padre achou oportuno lançar-lhe a proposta de ser padre. Olha lá, já alguma vez pensaste em ser padre? A resposta não se fez esperar e, na simplicidade de quem não media as palavras, ele respondeu que não. Nem pensar. Que não queria ficar sozinho como o senhor padre. Nem pensar. Não queria viver a vida sozinho. Contaram-me que o padre ficara sem palavras. Imagino que ficara com imensos pensamentos. Os mesmos de quem me contou a história. O padre morava sozinho e provavelmente foi assim que morreu. Sozinho.
Quero fazer votos de que na nossa vida de padres, embora morando sozinhos, nunca nos sintamos sós.