terça-feira, novembro 21, 2017

Relações pré-matrimoniais e o pecado

Não interessa propriamente o teor da conversa, que ocorreu ao telefone. Mas interessa referir que, entre outras coisas, falámos sobre as relações pré-matrimoniais. Como se sabe, grande parte dos jovens que decidem casar pela Igreja, hoje, já vivem uma vida em comum e possuem uma vida sexual activa. Por muito que possa custar, é um dado adquirido, perante o qual nem sempre se sabe que pensar. Neste sentido, ouvi do lado de cá da linha de telefone, o que a pessoa do lado de lá disse sem constrangimentos. A relação sexual de quem se ama, mesmo antes do casamento, é menos pecado que andarmos zangados uns com os outros. Porque a primeira, em princípio, é feita com amor, e o segundo é feito sem amor. Eu não sei se concordo com uma afirmação assim tão arriscada. Mas é inegável que o pecado é uma ausência de amor, e o que é feito com amor, em princípio, não é pecado.
A conversa deixou-me a pensar. Deixou-me a pensar sobretudo numa Igreja que, às vezes, concentra demasiadas energias nas questões morais ou sexuais. Para mim, a Igreja não é um conjunto de regras, mas uma forma de viver, tal como a fé não é um mero assentimento a determinados dogmas ou virtudes, mas uma configuração com uma pessoa, Cristo. É preciso humanizar mais a Igreja. Não no sentido de que seja mais mundana, mas no sentido de que seja mais de Deus. O Reino de Deus não é uma construção religiosa para uma conduta religiosa, mas uma dinâmica para um mundo mais humano. Creio que precisamos de uma pastoral humanizadora, não tanto no sentido filosófico, antropológico ou sociológico, mas no sentido cristão da palavra, isto é, uma pastoral que humanize a vida para a levar à plenitude de sentido e de felicidade que o Pai nos concede. Talvez assim, comecemos a olhar-nos uns aos outros com menos olhares reprovadores e com o olhar misericordioso de Deus. Talvez assim a Igreja pudesse explicar aos jovens que as melhores relações são aquelas que, por amor, conseguem trazer mais felicidade à nossa vida.

15 comentários:

Anónimo disse...

Nossa padre, que maravilha de texto, amei a ideia. Isto sim sera a salvação da família, de seres humanos sem nenhum tipo de controle emocional, difícil e encontrar os profissionais para essa tarefa. Salvação de vidas, de sentimentos sendo respeitados que ate hoje as pessoas misturam a vida social com sua mediocridade (em formas..). Eu fui vitima de uma... e sou ainda presa a uma vida sem sentido devido sim, a falta de uma orientação adequada que realmente a igreja poderia sim ter nos ensinados.
Quantos temas sendo discutidos enquanto a vida de muitos rolam sem motivos e sangrentas violências ainda hoje acontece. Estou eu me candidatando a um cargo. Fiz sim o pecado de trazer duas vidas ao mundo, e tento ate hoje a orienta-los no que posso, mas não consegui mentir pra Deus nem pros homens. Fugi de casamentos e optei pelo que vivo, por medo de sofrer mais ainda. Pois poderia me tornado propriedade de outro. Enganei a mim mesma sofro as consequências. Mas ainda tenho um Deus que me acolhe e me conforta. Não me imagino um segundo sem ELE. Ainda acredito em um amor puro e sincero e com respeito. Abraços, Ch M.

Anónimo disse...


Olá Pe!

Deixa-me partilhar uma história pessoal que o teu o post me fez recordar.... Perdi, infelizmente, o pai das minhas filhas quando elas eram ambas muito pequenas. Nunca chgámos a casar, vivemos sempre em união de facto. Algum tempo após a morte do pai decidi baptizá-las.
Embora a Lei preveja que os direitos da união de facto sejam muito semelhantes aos do casamento, o facto é que o meu estado civil continua a ser solteira e, portanto, quando preencho formulários onde tenha que preencher o estado civil preencho como solteira e não me causa transtorno nenhum. Estou muito bem resolvida com a minha história.
No entanto ao preencher os formulários para o Baptismo, quando cheguei ao estado civil senti-me bloqueada, confusa... No sentido em que sabia que o correcto perante a lei seria solteira, mas não me sentia solteira... não fui capaz de o escrever. Qual seria o meu estado civil perante Cristo? Aos olhos da Igreja? Que devem ser os Olhos de Cristo. Decidi deixar o espaço em branco. Ao entregar os formulários, expliquei a razão pela qual tinha deixado o espaço em branco e pedi que fosse preenchido pelo Pároco, de acordo com o seu discernimento.
O preenchimento daquele espaço em branco, foi muito mais do que uma simples resposta num formulário...

SL

Anónimo disse...

bemvindo, Confessionário. Já sentíamos a tua falta, depois de tanto tempo sem ler nada de novo.
Quanto a este tema, não sei que diga. Fizeste-me pensar

Anónimo disse...

"O Reino de Deus não é uma construção religiosa para uma conduta religiosa, mas uma dinâmica para um mundo mais humano."
Concordo em absoluto! Mas também compreendo que a Igreja deve ter uma posição de princípio e apontar o caminho mais correcto. Talvez, durante muito tempo, se tenha associado o "pecado" a todo um conjunto de acções que não eram as ideais, e assim, quase tudo tenha passado a ser pecado... Quanto ao amor que se faz antes do casamento, acho que Deus deve ter mais com que se preocupar, mas quanto ao sexo,( a essa ideia de usar o outro sem nos ligarmos a ele), talvez já não seja tanto assim, porque falta o amor...
Seja como for, devo confessar aqui que também eu sou uma praticante activa do amor sem casamento à vista e, paradoxalmente, não me pesa a consciência, mesmo sendo uma católica convicta...
A Igreja devia deixar de se preocupar com certas miudezas e concentrar energias no combate ás verdadeiras injustiças que(essas sim!), são verdadeiros pecados... Uma Igreja que se ocupa a "regulamentar" o que as pessoas fazem na sua intimidade, anda a fazer mais ruído do que música...
Zu

Anónimo disse...

Adorei, Zu, disse a verdade

Anónimo disse...

Tb gostei, Zu, do que disseste.
Mas não entendo como dizes que a Igreja deve apontar caminhos o mais correcto possíveis, ter posições de princípios, e depois é-te igual dar ou não dar importância a eles. No final, fazes o que te dá na real gana, apesar de te considerares cristã. Como explicas isto?

Ca

Anónimo disse...

Bom dia, seja bem aparecido.
Depois de ler este texto, já esta desculpado, pois demorou, mas valeu a pena, é um tema muito actual, e ao mesmo tempo ainda um pouco "tabu".
"Creio que precisamos de uma pastoral humanizadora, não tanto no sentido filosófico, antropológico ou sociológico, mas no sentido cristão da palavra, isto é, uma pastoral que humanize a vida para a levar à plenitude de sentido e de felicidade que o Pai nos concede. Talvez assim, comecemos a olhar-nos uns aos outros com menos olhares reprovadores e com o olhar misericordioso de Deus. Talvez assim a Igreja pudesse explicar aos jovens que as melhores relações são aquelas que, por amor, conseguem trazer mais felicidade à nossa vida."
Muito bem pensado e explicado. Se todos pensassem assim talvez a igreja fosse vista de outra maneira pelos jovens, e não só, e a ideia de "pecado" fosse um pouco mais "leve".
Bj

Confessionário disse...

Olá 23 novembro, 2017 09:42

Olha que o pecado não tem de ser mais leve. O pecado pesa sempre imensos quilos. Isso é diferente de pensar que há coisas que são mais importantes que outras.

Zu, também gostei de te ler, e também eu fiz a pergunta que Ca fez.

SL, tu sabes...

Zu disse...

Não se trata de fazer o que me dá na real gana... Os princípios devem prevalecer. O amor deve vir sempre em primeiro lugar, mas depois, nem sempre é possível seguir os passos todos pela ordem certa... Dentro de uma lógica de amor, casar ou não casar, presumo, que seja irrelevante para Deus...
Zu

Anónimo disse...

Pe,

Sei?? Sei o que sinto. Sei que sei pouco, mas que já soube menos. Sei que há Padres muito humanos e fraternos. Sei que as leis canónicas, se levadas à letra "limitam" Cristo. Mas não sei a que se refere "tu sabes..." :-) Podes ser um bocadinho mais específico?
SL

Confessionário disse...

SL, referia-me à tua última frase: "O preenchimento daquele espaço em branco, foi muito mais do que uma simples resposta num formulário..."

Anónimo disse...

Comenta-se por estes lados "o pecado" para alguns do padre que assumiu a paternidade de uma criança nascida recentemente.
A opinião publica pode ser devastadora, mas a atitude do clero face a este acontecimento prima pelo cinismo e pela falta de clareza.
Perante alguns leigos o padre não cometeu um pecado que o afaste da vida sacerdotal.
E, como ficamos?
Será o padre que livremente decide se continua como padre ou não, ou terá de ser a "hierarquia" a decidir se o pecado será mortal para a vida do padre?

Brilhante esta frase:
"Talvez assim a Igreja pudesse explicar aos jovens que as melhores relações são aquelas que, por amor, conseguem trazer mais felicidade à nossa vida."
PR

Confessionário disse...

PR, tenho algumas opiniões acerca desse assunto, mas evito publicitá-las, porque me parece que nem as minhas opiniões são abalizadas o suficiente, dado que desconheço 90% do assunto. Creio que apenas não nos compete julgar.

Anónimo disse...

Para o/a PR:
Como é evidente, o "pecado" do padre não é o ter assumido a paternidade de uma criança. Em nome da decência, não seria de esperar outra atitude da parte dele. O pecado está em engravidar uma mulher de forma não planeada nem desejada, no quadro de uma relação não estável e sem aparente futuro, quebrando os seus votos vocacionais. Com a agravante de o padre ter dado sinais de que não tem consciência plena da gravidade do seu erro.
Implica a asneira cometida que ele se afaste ou seja afastado da vida sacerdotal? Não necessariamente.
Implica a asneira cometida que ele se afaste ou seja afastado da paróquia onde estava a trabalhar? Provavelmente.
A decisão é dele? Também mas não só. Porque ninguém se ordena padre a si mesmo.

Anónimo disse...

Aquilo que, infelizmente, costuma ficar de fora desta discussão do sexo antes ou sem casamento: a função reprodutiva.
Se vou ter sexo com alguém (refiro-me a uma relação heterossexual) e somos os dois saudáveis (sem que a dama tenha chegado ainda à menopausa), está aberto o caminho para uma criança vir ao mundo. Por muitos métodos anti-conceptivos a que se recorra, nenhum é 100% eficaz. E que mundo espera essa criança, se ela for fruto de uma mera atracção física, de uma relação fortuita, da busca do prazer sexual nos braços de outrem? Ou pode até ser que a relação seja estável, mas e se (pelo menos) um dos dois não se sente (ainda) capaz ou com vontade de deixar preto no branco que se compromete com o outro para toda uma vida de bons e maus momentos?

É evidente que o papel de casamento não é garantia mágica de felicidade para o casal ou para os filhos. É evidente que muitas das histórias de gravidezes terminam bem: um filho nos braços vem consolidar uma relação, traz uma nova forma de encarar a vida e as prioridades, o passo para o casamento acaba por ser dado convictamente. Mas outras acabam mal: quando muito num casamento de fachada (ainda existe isso), o mais das vezes mães solteiras que se vêem à nora para criar um filho. As estatísticas demonstram: o índice de pobreza infantil está directamente ligado ao de nascimentos fora do casamento.