A Maria veio de França ao funeral da mãe. Teve de vir à pressa e deixar a sua vida normal para trás. Tanto deixou, que agora está a ser-lhe difícil voltar a essa vida normal. A mãe partiu. A mãe a quem ela ligava todos os dias. A mãe que a ensinara a viver e a incentivara a emigrar porque a vida está difícil de viver. E agora partira. Não tinha ainda setenta anos, e partira. É muito comum a pergunta. Mas a Maria não se inibiu com isso e, no meio de um afago, perguntou. Porquê, padre? Porque é que Deus a levou? Porque é que Deus ma tirou? Dói-me sempre o injusto do verbo levar ou do verbo tirar. Deus não leva ninguém. Deus não tira ninguém. Deus ama. Mas também estes verbos e estas expressões são comuns. E temos de levar ou lidar com eles. O luto tem destas coisas. Precisa destes verbos, destes espaços. E por isso o padre tem de ser muito compreensivo. E as respostas, como Jesus fazia, podem ser feitas com outras perguntas.
Estávamos perto do quintal de uma das vizinhas. Uma daquelas que enche o quintal de flores. Flores amarelas, vermelhas, roxas, rosas, tingidas, matizadas. Flores de todas as cores e feitios. No meio delas, destacava-se uma rosa branca, lindíssima. Com o indicador apontei na sua direcção, e falei na direcção da Maria. Aquela flor é linda, não é? Acenou que sim, a olhar para ela e depois para mim. Depois empoleirou os ombros, como que a perguntar que interessa isso para a conversa, ou a afirmar que isso não lhe interessava de momento. Continuei a apontar na direcção da rosa e perguntei: Já pensou porque é que Deus fez aquela flor tão bela? Para responder repetiu o empoleirar dos ombros. Fiquei à espera, e na espera ela deve ter-se sentido incomodada, porque deixou escapar quatro palavras num sussurro que só quem pressupõe entende. Ninguém faz essas perguntas. Acho que ainda usou o vocativo Padre. Mas já não ouvi porque falou muito baixo ou porque interrompi. Nós geralmente não perguntamos a Deus sobre as coisas boas. Só perguntamos das más. E olha, Maria, que, com certeza, a resposta deve ser a mesma. Não é nem porque sim nem porque não. É tão só porque é.
Estávamos perto do quintal de uma das vizinhas. Uma daquelas que enche o quintal de flores. Flores amarelas, vermelhas, roxas, rosas, tingidas, matizadas. Flores de todas as cores e feitios. No meio delas, destacava-se uma rosa branca, lindíssima. Com o indicador apontei na sua direcção, e falei na direcção da Maria. Aquela flor é linda, não é? Acenou que sim, a olhar para ela e depois para mim. Depois empoleirou os ombros, como que a perguntar que interessa isso para a conversa, ou a afirmar que isso não lhe interessava de momento. Continuei a apontar na direcção da rosa e perguntei: Já pensou porque é que Deus fez aquela flor tão bela? Para responder repetiu o empoleirar dos ombros. Fiquei à espera, e na espera ela deve ter-se sentido incomodada, porque deixou escapar quatro palavras num sussurro que só quem pressupõe entende. Ninguém faz essas perguntas. Acho que ainda usou o vocativo Padre. Mas já não ouvi porque falou muito baixo ou porque interrompi. Nós geralmente não perguntamos a Deus sobre as coisas boas. Só perguntamos das más. E olha, Maria, que, com certeza, a resposta deve ser a mesma. Não é nem porque sim nem porque não. É tão só porque é.