Percorria centenas, senão milhares de quilómetros, sentado ou deitado no sofá azul da sala. Não era verde porque o azul condizia melhor com a cor que mais gostava. Contudo, neste momento, ele preferia que fosse verde. Preferia que tudo fosse verde e iluminasse de esperança a sua vida. Ou melhor, a vida de quem amava. A cabeça não parava. Mesmo com os olhos fechados. Percorria centenas, senão milhares de quilómetros, a pensar como era, como fora, e como seria. Nunca pensava no como é agora, neste instante. Isso é apenas para sentir-se. Não é para pensar-se. Nós usamos geralmente o pensamento fora do controlo emocional. Por isso anda, corre, voa por todo o lado em busca de um algo que não se encontra. Faz quilómetros sem conta, para trás, para a frente. Faz quilómetros de estradas, de cidade em cidade, de terra em terra, e faz quilómetros de tempo, para o passado e para o futuro.
Apesar da quietude do espaço, da ausência de ruídos ao redor do meu sofá, eu não páro. Não páro, porque hoje estou muito longe de mim. Estou onde está alguém que amo, alguém a quem tenho uma ligação especial. É uma ligação de sangue e de fé. Meu pai. Meu pai que hoje dá entrada numa nova vida e não consigo deixar de percorrer quilómetros em busca do seu bem-estar. Em busca de uma imagem que me faça pensar que ele está “bem, mas bem”, expressão que costuma usar, e que todo o seu estado actual de saúde não é mais do que uma ficção de Deus.