Pediu um minuto que tardou quinze, e disse que era uma palavra que transformou em tantas quantas cabiam em quinze minutos. Não foram mais, nem palavras nem minutos, porque estavam umas quarenta pessoas esperando a missa que iniciou passados dez minutos da hora prevista. O excesso de pontualidade que me caracteriza foi interrompido pela minha vontade séria em acolher a senhora, apesar de que ela só pretendia ouvir um Sim ao que pedia, e mais nada. Por isso falou e repetiu que a Igreja não era aberta. Como se ela tivesse que ser escancarada. Usou reiteradamente o nome do Papa para dizer que ele sim, que ele acolhia as pessoas nas suas necessidades. Como se alguma vez ele tivesse afirmado que já não era preciso os padrinhos terem fé para acompanhar seus afilhados no crisma. Ou como se ele tivesse mudado o catecismo. Ou as normas para aceder aos sacramentos. Uma coisa é acolher e outra dizer que sim a tudo. Mas parece que agora está na moda invocar o papa para dizer aquilo que ele não diz a fim de se conseguir a todo o custo um Sim laxista, facilitista e light, expressões que o papa insistentemente usa para afirmar que não pode ser assim. Que não pode nem deve existir laxismo, facilitismo e fé light.
Perguntou-me se havia alguma solução e eu respondi, com um sorriso, que sim, que a senhora que pretendia ser madrinha também se podia crismar. Perguntou se poderia simplesmente apresentar-se na celebração, e respondi, com um novo sorriso, que teria de fazer um caminho de autenticidade para não receber uma coisa, mas um sacramento. Interrompeu-me então porque nem ela nem a pretensa madrinha aceitariam essa imposição. Na verdade, estava a fazer-lhe uma proposta que ela interpretou como uma imposição. E como já estava cansado, e sem sorrisos, pois já se me haviam esgotado, tive de perguntar-lhe: então a senhora não quer que lhe imponha nada, mas está há quinze minutos a tentar impor-me a mim?!
Convenhamos que não há forma de acolher quem não quer ser acolhido e a quem tão só interessa senão um Sim. Talvez por isso ela só pediu um minutinho, pois para dizer sim bastaria. Para acolher é preciso muito mais caminho que nem os minutos nem as palavras conseguem contabilizar.
Não relatei todo o teor da conversa, e em abono da verdade, há que dizer que depois disso já falámos largos minutos, já pediu desculpa pela abordagem menos cuidada, já aceitou as soluções que encontrámos em conjunto. Mas escrevi na altura o que sentia, porque geralmente quem menos aceita são os que mais impõem. E isto ocorre diariamente nas nossas igrejas.