Recebo diariamente notificações de alguns órgãos de comunicação social no computador, sobretudo de cariz religioso. Como um que, desde o início deste novo confinamento, envia diariamente uma notificação a dizer: “veja a missa diária em…”. Não sei se a escolha do verbo usado é de propósito ou não. Mas há dias estacionei os olhos nessa notificação e dei por mim a concordar com ela. Porque, nestes moldes, é mais verdade dizer que se vê a missa do que dizer que se participa nela, por mais boa vontade que as pessoas tenham, por mais que a eucaristia seja fulcral na vida dos cristãos e por mais que estas celebrações sejam as celebrações eucarísticas públicas possíveis nestes tempos confinados.
Para valorizar de verdade as igrejas domésticas que são as famílias, tenho-me esforçado, em conjunto com alguns colegas, por providenciar aos meus paroquianos, semanalmente, uma celebração familiar dominical, em linguagem acessível e o menos clerical possível, com o essencial de uma celebração da Palavra, comunhão espiritual e um gesto para vivenciar um compromisso.
Sou de opinião que, nestes momentos em que nos encontramos privados da eucaristia comunitária presencial, mais importante que assistir passivamente à missa, seja na rádio, na televisão ou nas plataformas digitais, muitas vezes em zapping, é participar presencialmente numa celebração da Palavra ou outra oração similar, sobretudo em família. Devíamos aproveitar esta oportunidade para transformar os nossos lares em igrejas, pois a comunidade paroquial é uma família feita de várias famílias, é uma Igreja feita de várias Igrejas domésticas.
Se já antes era mais cómodo assistir à eucaristia presencial do que participar activamente nela, agora ainda se tornou mais cómodo fazê-lo do sofá, e não acho possível celebrar a fé como quem assiste.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "a senhora vai à missa"