Não conheço nenhuma estrada que tenha o nome de um padre. Nem um beco. Mas escolhi este título para falar dos quilómetros do padre. Há uns cinquenta anos, o padre tinha um quilómetro ou dois de estrada. Às vezes mais e tardava-se muito tempo na mula ou no cavalo para chegar de uma paróquia a outra. Era pároco de uma ou duas paróquias, quando muito três. Hoje o padre tem muitos quilómetros pela frente, muitas curvas e contracurvas. Muitas paróquias. E se antes o padre sabia os nomes das pessoas e intervinha nos nomes que os pais davam às crianças no baptismo, hoje o padre não consegue saber os nomes de todos. A estrada alargou-se. A vida alargou-se. O ministério alargou-se. O cansaço alargou-se.
Não é, por isso, de estranhar que muitos dos meus colegas façam do automóvel um escritório. Tudo aparece na bagageira ou no banco de trás. Livros, rituais, sacos de hóstias por consagrar, uma alva e uma estola. Uma pasta com documentos. Livros no meio da confusão. E, às vezes, uma peça de fruta ou um tupperwere com comida. E muitas garrafas de água vazias, que se vão acumulando como tapetes. E como a maioria do tempo gasto no automóvel é um tempo solitário, não vem mal ao mundo nem pressa para ter o “escritório” arrumado.
O padre moderno passa muito tempo na estrada. A vida transformou-se numa corrida de automóvel mesmo quando está fora dele. A vida humana, em geral, e a do padre, em particular, tem-se tornado numa corrida, com ou sem automóvel. Tão apressada e tão preenchida de coisas e afazeres que, muitas vezes, o mais importante fica escondido ou apenas se vê a correr do lado de fora da janela, como aquela margem da estrada que nunca acaba, que está sempre lá, mas que não temos tempo para olhar.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "
O buraco"