domingo, março 26, 2023

Não sou padre para fazer a minha vontade, mas a vontade de Deus.

Quando alguém, há dias, me perguntou, por palavras parecidas com estas, porque é que ainda era padre quando tanta gente está constantemente contra os padres, quando estes vivem em suspeição constante, têm de humilhar-se a um celibato e a um constante confronto com os outros que só se abeiram da Igreja para consumir sacramentos sem verdade de coração, eu não soube responder senão que não era padre para fazer a minha vontade, mas a vontade de Deus. Todos nós queremos, e eu não sou diferente, que Deus faça a nossa vontade. Mas quem se entrega a Deus, fá-lo não para que se faça a sua própria vontade, mas a de Deus. Mesmo quando não entendemos os Seus desígnios. Mesmo quando não obtemos respostas aos porquês e temos de carregar uma cruz enorme e pesada que, mesmo assim, nunca se poderá comparar com a de Jesus. Não sou padre para fazer a minha vontade, mas a vontade de Deus. E se a vontade de Deus for diferente da minha, que assim seja. Porque gostava que a minha vontade fosse sempre a vontade de Deus. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Estava capaz de gritar"

quinta-feira, março 23, 2023

Visão de Fé

No domingo passado, a mãe não teve possibilidade de ir à missa, mas o filho de sete anos acompanhou o pai, e ficaram no terceiro ou quarto banco da igreja, como é costume. O Mateus tem um modo de se dar com Deus que encanta quem ouve as histórias que a mãe conta. A missa era uma missa normal e a homilia era uma homilia normal que actualizava o relato da cura do cego de nascença nas nossas vidas. Chegado a casa, a mãe, para ver se ele estivera atento, perguntou-lhe de que tratava o evangelho. O Mateus, com as mãos na cabeça, respondeu prontamente: "nem vais acreditar. Jesus deu visão a um senhor cego, mas não foi só visão de ver. Foi também visão de Fé". 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Chama-se Jesus"

terça-feira, março 21, 2023

comprimido [poema 362]

vou-te dizer o que senti ontem quando me apertaste o corpo 
e hoje, quando amanhã se voltar a repetir esse aperto

sinto que nunca serei pequeno o suficiente
para te encontrar
 
dia Mundial da Poesia 2023

sexta-feira, março 17, 2023

os problemas

O João tinha um problema e estava obcecado com ele. Deitava-se e levantava-se como se deitava, com esse problema. Que ele dormia pouco, porque o problema não dormia nele. Em conclusão, vivia pouco mais que esse problema. De facto, quando um problema nos preocupa, parece que a nossa vida é só esse problema. O problema acaba tomando conta de nós e pode anular-nos. Até esquecemos que muitos problemas já passaram nas nossas vidas e deixaram de ser problemas ou, pelo menos, deixaram de ser o problema. Assim como esquecemos os problemas que os outros têm, muitas vezes, bem maiores e mais dolorosos. João, olha que Deus não nos criou para vivermos os problemas, mas para vivermos com eles. Eles fazem parte da nossa condição humana, mas não nos impedem de estar vivos. E Deus não dorme. Mesmo que pareça não nos resolver o problema, dá-nos a mão e ajuda-nos a subir um degrau de cada vez, pois só assim se sobem as escadas. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A palavra difícil"

segunda-feira, março 13, 2023

A senhora de papelão

Caminhavam numa rua de uma cidade grande, mãe e filha de cinco anos, quando tiveram de passar junto a uma senhora deitada no passeio, embrulhada por uns papelões de um bege sujo pelo uso, mal-vestida, mal-arranjada, a chorar. Estava frio. A mãe e a menina iam com pressa, porque tinham uma consulta marcada no médico e não podiam atrasar-se, mas a filha não retirava os olhos da senhora dos papelões. Uns bons metros depois, largou a mão da mãe, pôs-se em frente dela, obrigando-a a parar, e perguntou porque é que a senhora estava a chorar. A mãe tentou explicar-lhe que ela deveria estar a chorar por causa da dificuldade da vida, porque não deveria ter casa para se abrigar do frio, cama onde dormir e prato onde comer. Como as crianças destas idades nunca se contentam com uma pergunta, a pequena disparou de imediato: Então porque é que tu não a ajudaste? A mãe ficou desarmada por fora e sobretudo por dentro, deixando que as lágrimas da senhora de papelão chegassem ao seu rosto. Com a maior honestidade possível, baixou-se e explicou à filha que tinha errado muito ao não ajudá-la. A pequena limpou-lhe algumas lágrimas e abraçou-a. Abraçaram-se. E aquela mãe, ainda hoje, quando conta esta pequena história, chora como a senhora de papelão. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "O Carlos que é meu sacristão"

sábado, março 11, 2023

o nevoeiro que ri [poema 361]

e o nevoeiro ri-se
na vontade cinzenta de escurecer,
 
ri-se do mundo que vai fazer...
desaparecer
 
ri-se de tudo o que escurece
e desaparece,
para que apenas ele se veja, 
por entre as réstias de um sol escondido,
de uma giesta que outrora era uma árvore,
de uma levada que deixou de ser um rio
e um punhado de terra que fora um caminho,
de uma parede que um dia foi uma casa
ou uma cruz que já foi uma grande catedral
 
ri-se como nevoeiro que quer ser...
eternamente nevoeiro 

terça-feira, março 07, 2023

A nota sem dono

Era seu costume levar sempre qualquer coisa ao mendigo que estava sentado no seu posto de abrigo, ao sair da faculdade. Uma peça de fruto, um chocolate, uma moeda, uma notita. Chegou a levar-lhe um maço de cigarros, porque ele fumava. Ao princípio achou estranho que um mendigo fumasse quando tinha necessidade de tantas outras coisas. Mas depois foi percebendo que era assim que ele gastava a vida, porque não tinha outro modo de a gastar. E aceitou-o como ele era. Foi a descoberta mais bonita que fez da mendicidade. Não julgar quem é mendigo. Tornaram-se amigos, ao ponto do mendigo dizer bom dia e boa tarde sempre que se viam, e ao ponto deste meu colega padre o chamar do meu amigo mendigo. Estas coisas não se contam e ele só mas contou porque, há dias, quando se aproximava do transporte para casa, encontrou uma nota de dez euros no chão. Pegou nela, percebeu que não era possível encontrar-lhe o dono. E no outro dia, de manhã cedo, antes de entrar na faculdade, depois do bom dia habitual e de um trocar de pequenas palavras, arranjou um novo dono para a nota, o seu amigo mendigo.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Quem olha para dentro, desespera"

sexta-feira, março 03, 2023

o obrigado

Passara um ano desde que, como me recordou, estivera a desabafar comigo por causa de um grande problema que, na altura, estava a viver. Na ocasião, entrara na sacristia, acompanhada das lágrimas, para uma palavra que se transformou em muitas palavras. Entrara com o peso da dor e precisava dividi-lo com alguém. Hoje regressara, porque viera a uma missa pela intenção especial de uma amiga que falecera, entretanto. Vinha de braço dado com a filha, a dor que ela precisara desabafar há um ano. Cruzámo-nos no final da missa e, já na rua, veio ao meu encalço para perguntar se me recordava de há um ano a ter acolhido na dor. Naturalmente que eu já não lembrava pormenores, mas ela lembrava cada atenção, cada olhar, cada palavra, cada segundo que eu investira nela. E por isso, dizia, venho agradecer-lhe. Ainda não tinha tido oportunidade de o fazer. E insistia. Padre, tenho tanto que lhe agradecer. A filha interrompeu-a, para concordar com ela. Respondi que eu era somente um instrumento de Deus. Que lhe agradecesse a Ele. Porque era Ele que fazia tudo. É Ele que faz tudo. Nós somos apenas seus instrumentos. Apesar de até concordarem comigo, ambas referiram que então eu era um bom instrumento de Deus. E repetiram. Obrigada. Foi bom ouvi-lo nestes tempos constrangedores e confrangedores. Obrigado. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Padre com fé"

terça-feira, fevereiro 28, 2023

Beijos na mão

Pegou na minha mão sem eu quase dar conta. Sem mais nem meio mais, levou-a aos lábios e começou a beijá-la. Assim, do nada. Fechou os olhos entretanto, voltado para o seu mundo interior, mas sem parar de dar beijos pequeninos na minha mão. Muito pequenos, mas de um tamanho indizível. Beijos murmurados que, para mim, foram gritos. Foi como se sentisse que eu precisava de sossegar o meu coração. Sussurrei-lhe ao ouvi que o amava muito e ele dava mais força à expressão dos beijos. Foi assim durante um largo tempo. E quando chegou a hora de o deixar, de terminar a visita, o meu querido pai olhou fixamente para mim como se me quisesse dizer que ele olhava por mim. Foi bonito, foi intenso, mas também foi de lágrimas, limpas com as mesmas mãos que tinham sido acabadas de beijar. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A oração do meu pai"

sábado, fevereiro 25, 2023

o cego [poema 360]

via as pessoas como árvores a andar

mesmo depois da saliva do mestre lhe ter tocado

no olhar 

 

via pessoas como criaturas sem bondade

a correr no meio da floresta, sem as olhar

 

via o mundo como o lugar das árvores a andar

para um lugar onde não chegava o seu

olhar

Mc 8,22-26

quinta-feira, fevereiro 23, 2023

Precisas de mim, Senhor?

Deus troca-nos as voltas diante das inúmeras ocasiões em que menosprezamos a nossa vocação e missão sacerdotal, porque não vemos os frutos que desejávamos ou porque sofremos embates dolorosos com que não contávamos ou porque, simplesmente, parece que não fazemos nada de especial. E então a vocação questiona-se e periga-se. Por isso, não raras vezes nos questionamos sobre a necessidade da nossa missão. Porquê isto? Por que continuar? O que é que tu queres, Senhor? Mas precisas mesmo de mim e da minha vocação? E depois, sem que se esperasse, em menos de vinte e quatro horas, ou mais coisa menos coisa, és solicitado por um casal que confia na tua missão e precisa que medeies as dificuldades que estão a passar; liga-te uma pessoa que precisa da tua ajuda por causa de alguém que se tentou suicidar e precisa de ajuda de um padre que, como disse, saiba ouvir, dar espaço ao sofrimento e ajudar a encontrar sentidos e luzes ao fundo do túnel; e ainda te contacta uma família que precisa que vás estar com uma familiar em fase terminal, pois precisam tranquilizar-se, tanto esse familiar como a restante família, e sabem que tu, o padre, podes fazer a diferença. Depois da pergunta que um padre faz a Deus da necessidade do seu ministério, obtém estas respostas, e tem de se calar, porque Deus troca-nos as voltas e responde-nos de uma forma meio estranha, mas tão concreta...


A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Chama-se Jesus"

domingo, fevereiro 19, 2023

Jesus no escuro

A capela fica no andar de baixo e é convidativa. Passam-se lá uns bons bocados. De vez em quando, chama-me e eu entro. Geralmente durante o dia, sem horas pré-programadas. É o que mais gosto dela. Está ali sempre, à mão, e pronta a receber-me sem horários e que fazeres. Mesmo durante a noite. E foi numa noite destas que entrei e me sentei ao fundo, numa das últimas cadeiras almofadadas. Não acendi a luz porque as duas lâmpadas acesas, embora discretas, chamavam a atenção para o essencial, o sacrário e a cruz. A luz desta última era tão ténue, mas tão ténue, que mal se percebia a silhueta de Jesus. Era o meu Jesus escondido, pensei. Para que eu soubesse que estava lá, mesmo quando só desse para perceber uma linha ou duas da sua presença. Porém, o mais curioso ocorreu passados uns largos minutos no escuro. Quanto mais tempo permanecia na escuridão, mais o seu rosto se desenhava e se tornava visível. A luz ia crescendo e tomando-lhe forma por inteiro. Quanto mais tempo estava na escuridão, mais se notava a sua presença. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "A fissura do braço de Cristo"

sexta-feira, fevereiro 17, 2023

a pétala [poema 359]

era só uma pétala de uma flor
que teimava em ser de outra cor…

todas as pétalas do jardim gritavam em coro:
não podes ser pétala se assim não for!
 
era só a pétala mais bela daquela flor,
o sol nela brilhava como se fosse ardor
as chuvas faziam nela um ninho
as abelhas escolhiam-na pelo sabor
toda a criatura olhava para ela no caminho.
 
era só uma pétala
não era a flor.
 
caiu ao chão... para ser terra
onde pudesse, um dia, brotar uma flor

segunda-feira, fevereiro 13, 2023

as lágrimas do Isidoro e as lágrimas do padre

O Isidoro é um homem de fé, que não falta nunca à missa e ajuda no que pode. A idade começa a notar-se, mas não desiste de dar o seu contributo na comunidade cristã. Digamos que é tímido e discreto, mas conversamos o suficiente. Para além disso, vai conhecendo o seu pároco e sabe que ele procura estar atento aos seus, sobretudo os doentes. As suas homilias falam muitas vezes do sentido da vida e do sofrimento, da morte como caminho da ressurreição e das forças que brotam da fé. E o senhor Isidoro adoeceu. De um momento para o outro, aquilo que parecia uma dor de estômago, passou a ser um caso complicado de cirurgia urgente. Ele já tinha tido a sua dose de sacrifício e dor em outras operações. A operação não correu mal, mas o recobro foi muito difícil. Segundo me contou, viu a morte várias vezes. Até porque estava quase pele e osso. Mas, sabe, padre, houve uma noite que sonhei consigo. E as lágrimas caíram-me. Não era por medo. Era por me lembrar de tantas coisas que o senhor fala e que eu precisava ouvir novamente. Naquela noite, desejei muito ouvir novamente o senhor e reconhecer em si, como instrumento de Deus, a força que eu precisava. O Isidoro contava isto, entre soluços. E a mim vieram a correr duas pequeninas lágrimas de comoção. É que Deus faz coisas através de nós que nem nós sabemos. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A chorar durante a missa"

sexta-feira, fevereiro 10, 2023

Os papas são homens?

Nasci no tempo de Paulo VI, que admiro sobremaneira, mas só tenho verdadeira recordação de vida e de fé nos últimos três papas. 
Lembro o saudoso papa João Paulo II, o santo súbito, o homem carismático que encantava as multidões, e que mostrou a sua doença e sofrimento até ao fim, deixando o pontificado nas mãos da máquina do Vaticano. Liderou no sofrimento e, na altura, gostei muito disso como sinal de que temos valor até ao fim da nossa vida aqui na terra. Reconheço porém, que não comandou a Igreja nesses tempos. 
Já o papa Bento XVI, um homem bem mais tímido, com a sua renúncia manifestou que o serviço era mais importante que o testemunho, que ser pastor era também saber retirar-se para que outros pastores em melhores condições guiassem o seu rebanho. Na época foi como uma bomba que explodia nas mãos dos que achavam, e porventura ainda estão convencidos, que os papas são infalíveis porque estão mais perto de Deus, na sua divindade, que dos homens, na sua humanidade. 
O papa Francisco, por quem nutro uma empatia de concordância com um novo modo de ver as coisas da Igreja e da humanidade, parece-me um homem livre e destemido, ao ponto de cair em descuidos sistemáticos diante da comunicação social ou do inesperado. É igualmente um homem de simplicidade, que procura uma vivência simples e natural das coisas, começando pelo modo como se estabeleceu no Vaticano e como procura viver com os que o rodeiam. 
Ora, vai-se a ver e os papas, afinal, cada um à sua maneira, são apenas homens com uma missão enorme, gigantesca. Eu diria, com uma missão que parece sobre-humana, mas que é completamente humana, embora a finalidade da missão seja Deus. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A Igreja que não é de um Papa"

terça-feira, fevereiro 07, 2023

os casamentos sem divórcio

A noiva sentara-se à minha frente para dialogarmos sobre o seu casamento. Pormenores. Alguma logística. Acerca das leituras não quis saber. Deixou ao meu critério de escolha. Mas sobre a homilia, largou um pedido. Senhor padre, gostava que não falasse de divórcio no meu casamento. Pois muito bem. Falar só coisas bonitas e positivas, que a moça não quer que na festa dela se falem de coisas menos boas. E tem razão, a moça. Tem toda a razão. Os casamentos não servem para falar de coisas tristes. São celebrações do amor e o amor é o caminho da felicidade. Não é o caminho da tristeza. É o caminho da união e não da separação. Por isso, não falarei de divórcio no casamento desta noiva. E evitarei nos casamentos de outras noivas que hão-de vir. Aprendi que nos casamentos só se deve falar de coisas boas, não vá ser mau agouro da coisa. É que uma vez, num casamento, contou-me ela, eu apresentara alguns dados de divórcios em Portugal e acontece que, passado pouco tempo, aqueles nubentes se divorciaram. Foi mau agouro. A tal homilia começara por constatar que o amor era o que mais nos fazia felizes, depois perguntava então porque motivo é que havia tantas divórcios, e no final apresentava pistas do que seria ou deveria ser o verdadeiro amor, aquele amor que não redunda em divórcio. No entanto, a noiva só escutara os dados. E o mais certo é que toda a assembleia só tenha ouvido os dados. E o agoiro agoirou. Pronto, prometo que não vou agoirar mais. Mas olhem que isto me fez lembrar aqueles pais que evitam que os filhos encarem a morte dos entes queridos e fazem de conta para que estes não se aflijam. Não vá ser mau agoiro também e as crianças fiquem tristes.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O caso descaso!"

sábado, fevereiro 04, 2023

flor desfalecida [poema 358]

há uma flor em mim que murchou
de tanto a regar, se cansou, e na terra
húmida de lágrimas, descansou

eu ia todos os dias à fonte buscar mais água
com a cantarinha cheia até ao cimo, a transbordar 
de vida por onde, pouco a pouco, passo a passo,
caía...
e as margens que bebiam dessas gotas, 
em frenesim, cresciam, faziam um jardim
um muro que era um jardim que não tinha,
imaginem só, fim
 
a flor em mim, porém, encharcou-se
por tanto dela cuidar, e desfaleceu
sufocada, com tanto 
amor
cedeu

e se deu

terça-feira, janeiro 31, 2023

viver para amar e amar para viver.

Escrevo a olhar para o relógio porque tenho algo para depois. Esse algo que está sempre à minha frente, mas que eu carrego como uma sombra atrás. Um algo que fazer. Um algo que tratar. Um algo que nos aponta para algo a seguir, mas o tornamos um agora constante. Típico das sociedades e dos homens pós-modernos. Insatisfeitos e inseguros. 
Gostava muito de escrever coisas de padres sem medir as palavras, e usando-as sem uma moral ou um objectivo para evangelizar. Gostava de escrever coisas de padres com uma certa distância de o ser.
Gostava que um dia nós, os padres, fossemos tão comuns, que as nossas palavras fossem formas de viver uma vida de amor sem pensar. E que importasse pouco o ministério que temos. E que importasse ainda menos o que temos de fazer. Gostava de viver para amar e de amar para viver.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Como te amo, Senhor?"

sábado, janeiro 28, 2023

Best post 2022 [parte III]

Deixamos os resultados da sondagem que perguntava: Qual foi para ti o melhor post de 2022? 
Os resultado passarão a estar junto aos restantes resultados de anos anteriores, AQUI.


Os três mais votados foram:

quarta-feira, janeiro 25, 2023

Estratificação da Igreja

Estruturamos demasiado a Igreja, e pior, estratificamo-la. Por isso não é de estranhar que haja quem queira ascender ao sacerdócio ou episcopado como uma progressão. Porque vemos a Igreja como uma estrutura estratificada. Nisso, as ordens religiosas são exemplares. Hoje podes ser o superior do convento e amanhã o varredor do mesmo. Embora também na pratica nem sempre assim seja. A estratificação fomenta o poder. O poder fomenta o clericalismo. O clericalismo fomenta a estagnação. Cristaliza a Igreja e fá-la viver na autorreferencialidade. Precisamos de uma Igreja organizada, mas menos estratificada. Precisamos de uma Igreja em que as diferenças se unam em comunhão e que a identidade da Igreja não se confunda com uma hierarquia, mas com um modo de vida de amor. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Porque é que Deus precisa dos padres?"

domingo, janeiro 22, 2023

O bispo que era um de nós

Um bispo de uma diocese longínqua, antes de realizar o sacramento da confirmação a um grupo de mais de três dezenas de jovens, quis dialogar com eles, em tom coloquial e aberto. O bispo achava que era assim que se falava com os jovens. Era e é. Com os jovens fala-se olhos nos olhos, de igual para igual. Ainda não haviam passado muitos minutos desde o início do diálogo, quando o senhor bispo colocou os jovens crismandos à vontade para que perguntassem tudo o que queriam saber sobre um bispo, dizendo ‘Sou um de vocês, podem perguntar tudo’. Então, um dos jovens mais atrevidos levantou o braço e, sem papas na língua, foi directo ao assunto: ‘Senhor bispo, enquanto o senhor se vestir como se veste e andar nesse carro topo de gama com motorista, o senhor não será um de nós’. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A solidariedade não se faz de cima para baixo"

quinta-feira, janeiro 19, 2023

falas de amor [poema 357]

e se as paredes desmoronam sem raíz, 

fale-se de amor que elas voltarão ao lugar

onde nasceram e se fizeram escada

 

e se as frases não se conseguem terminar,

fale-se de amor que elas serão pétalas

no meio de histórias vivas e a florir

 

e se os rios secam porque a fonte se perdeu,

fale-se de amor que as lágrimas hão-de ser

a fonte maior que algum dia se criou

 

e se o amor faltar porque tudo parece o vazío

fale-se de Deus, que nele até o nada

também é amor.