quinta-feira, agosto 10, 2023

casamentos quase civis

Saí agora da igreja, depois de concluído um casamento que me pareceu muito mais um casamento de conservatória de registo civil do que um casamento católico, embora saiba que as raízes da fé estavam, porventura, nalguns dos presentes. Saxofone à entrada com músicas que não tinham nada a ver. Nenhum grupo de animação musical, a não ser este senhor que tocou à entrada do noivo um tema, outro à entrada das damas de honor, outro à entrada dos meninos das alianças e outro à entrada da noiva. Nada de litúrgico ou de mensagem religiosa. Leituras a correr, cerimónia a correr, tudo a correr que à saída se esperava outro grande arraial com música de circunstância, foguetes e o habitual arroz em quantidade. Drone à mistura. Flores pela passadeira, gritos e palmas a horas e a desoras. Quase toda a assembleia comungou, o que me levou a desconfiar pois não respondiam aos diálogos da celebração. O ritual fez-se. Cumpriu-se. Concluiu-se. No final assinámos os registos e pronto. Por mais correcto que eu tentasse ser ou por mais simpáticos e merecedores que fossem os noivos, quase tudo me lembrou o casamento pelo civil a que assisti já lá vão uns tempos. Se não fizermos algo para contrariar esta tendência, qualquer dia estas cerimónias não são mais do que uma cerimónia social na qual tanto dá estar um padre ou um conservador.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Um casamento que se chama civil"

4 comentários:

JS disse...

Não leves demasiado a sério o teu papel, Confessionário. Lembra-te que és apenas uma testemunha. Os celebrantes são os noivos; e se eles se amam, e enquanto se amarem, estarão inevitavelmente, irremediavelmente a testemunhar e a participar no amor de Deus pela humanidade.
Queres música? Para a próxima, canta o Evangelho, ou a bênção nupcial. Ou então, entregas ao saxofonista a partitura do Avé Maria de Gounod. :)
Durante séculos, os casamentos eram celebrados à porta da igreja, no exterior, ou até noutro espaço. Só depois o casal vinha ou entrava na igreja, para receber uma bênção e assistir à missa. Um modelo a recuperar?
O casamento é primordialmente da ordem da lei natural e por aí se destaca da realidade dos restantes sacramentos. Está na lista dos 7 mas não deve ser metido no mesmo saco.
Ó Confessionário, pareces um chef de haute cuisine desolado por andar a servir diárias no tasco da aldeia. Para superar a tua dor, tens mesmo de resolver este dilema. Tal como muitos dos teus colegas.

Anónimo disse...

Também já assisti a casamentos desse tipo, em que a diferença dos casamentos civis está quase apenas no celebrante!
padre sofre!!!

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Estava na expetativa de ver aqui uma sua abordagem às Jornadas Mundiais da Juventude!
Talvez me esteja a adiantar...Peço desculpa pelo facto.
Sobre este casamento tão desabrido não me recordo de ter visto. No entanto, decerto, a Igreja tem de estar aberta à novidade, desde que o sacramento do matrimónio fique sempre bem vincado e demarcado.
Ailime

Confessionário disse...

Ailime, não sei muito bem que escreva sobre as JMJ, depois do muito que já se disse.
Sobram-me as palavras, na verdade.
Naturalmente que participei neste grande evento da Igreja católica e sinto-me muito orgulhoso por ser Português e por ser um português católico.
Já participei em 4 JMJ e esta, sem dúvida, superou muitas expectativas. Ainda estou a recuperar do cansaço e, em simultâneo, a preparar o longo fim de semana de festas que se avizinha. Talvez escreva alguma coisa no meio disto tudo, mas... será sempre uma incógnita, porque não conseguirei nunca dizer tão bem muito do que já foi bem dito.