Gesticulava para que aqueles que o ouviam entendessem a intensidade das suas palavras e a força da sua intenção. A Igreja tem de fazer a opção preferencial pelos pobres. Isto é o que repete continuamente o papa Francisco. Isto é o que o concílio Vaticano II disse e ficou oculto entre palavras e documentos. E que agora a teologia, influenciada pelas tendências da América Latina, trazidas aos de cima com auxílio do mesmo papa, mais referem. O dedo no ar voava junto com as frases afirmativas. Ou imperativas. E depois para se justificar, deu um exemplo. Vem um pobre à igreja – referindo-se ao templo – e não lhe fazemos caso, deixando-o ao fundo da igreja. Vem um rico ou importante, e levamo-lo para a primeira fila. E neste momento, o dedo esgrimia-se como uma espada apontada aos ouvintes. Quase a gritos, disse Quem deveríamos levar para a primeira fila era o pobre.
Ou seja, este amigo entusiasta pelo lugar teológico dos pobres, como ele fazia questão de salientar, estava tão focado nos pobres que, afinal, a única coisa que mudava era o lugar do pobre. Ele passava o pobre para a frente da igreja, por causa da sua condição de pobreza. Quando, na minha humilde opinião, se devia olhar para a nossa Igreja – referindo-me ao conjunto de seguidores de Cristo – como o lugar teológico dos iguais entre iguais, sem qualquer tipo de discriminação, ainda que esta pareça ser positiva.
Eu sei que não se deve tratar o pobre como se ele não fosse pobre. Assim como defendo que a paternidade ou maternidade da Igreja e de Deus se concretizam num amor segundo as necessidades do amado ou amados. Nesse sentido, a Igreja deve esforçar-se por prover ou diminuir as necessidades materiais – ou outras - dos pobres. O que eu não concordo é que se tratem os pobres como se a condição deles, embora mais assinalada e defendida por palavras, teologias e pastorais, seja uma condição inferior às outras. Creio que os verdadeiros pobres – e não me refiro propriamente aos indigentes ou pedintes de esmolas – gostam de se sentir iguais entre os iguais. Ou estarei errado?!
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "a solidariedade que não se faz de cima para baixo"