A Diana foi para o céu no dia cinco de Maio deste ano de dois mil e doze. Foi direitinha para lá porque ela sabia que o céu existe mesmo e que Deus a esperava mesmo, e que a vida é isto mesmo. Ela foi direitinha para o céu, porque o lugar dos santos é junto de Deus. Ela foi direitinha para o céu porque é no céu que se atinge a plenitude da felicidade e ela merece ser feliz. Ela foi direitinha para o céu porque o seu exemplo de fé e de santidade tem de ser conhecido no melhor tempo da nossa vida que é a juventude. E foi isso que aconteceu à Diana. Ela sabia-o e eu sei-o. Foi a sepultar no dia sete à tarde. O pároco que me substituiu nesta paróquia permitiu que eu fizesse a homilia. Tinha muita coisa a contar. Contei as nossas conversas. Ou melhor, as suas palavras, a sua vida. Senti-me muito feliz a contar a história da Diana. As cerimónias passaram por entre homenagens lindas e por manifestações de fé e amizade. Gostei muito da missa da Diana. Gostei muito da forma como a mãe foi corajosa depois de anos e anos sem descansar o coração. Gostei muito dos amigos da Diana, que também são meus, ali ao lado dela. Gostei de tanta coisa que nem dá para imaginar. Mas o que gostei mais foi do pai da Diana. Um homem que não tem aquilo que se chama fé. Um homem que várias vezes me mostrou como estava revoltado com Deus. Um homem que me disse que não podia acreditar assim num deus que permite estas coisas injustas. Um homem que poucas vezes acompanhou a filha à missa. Um homem que no final de tudo, ao cruzarmo-nos na rua, se agarrou a mim para me dizer. Não conhecia esta parte da minha filha, padre. Obrigado. Hoje recebi a resposta a muitas das minhas questões, padre. Obrigado. E apertou ainda mais o abraço, comovido e sereno. Que pena não a ter acompanhado mais nesta forma da sua vida. Fez-me bem saber tudo isto, padre. Obrigado. A mãe ouviu, olhou-me com um sorriso suave, e eu falei-lhe dizendo. Já é a Diana, no céu, a fazer das suas.
terça-feira, maio 29, 2012
sábado, maio 26, 2012
Esta é para ti, Diana, parte IX, sexta-feira santa
A Diana entrou em coma induzido na sexta-feira santa, a sexta-feira da paixão do senhor. Curiosamente, nessa sexta-feira. Passaram outras, e no sábado passado, pela tarde, recebi novo telefonema do irmão. Quando vi o número do Bruno fiquei alarmado. Curiosamente – outra vez - estava a escrever umas coisas sobre a Diana. Estava com tempo naquela tarde e tinha-lhe prometido que, como ela já não conseguia contar a sua história, eu encarregar-me-ia de o fazer. Estava, portanto, a escrever e a pensar na Diana quando o irmão me ligou. Padre, vou já para Lisboa. As coisas estão como deve imaginar. Não precisamos de dizer mais nada. E não conseguem imaginar como fiquei paralisado a escrever e a escrever. Sabia que tinha de escrever tudo. Não podia parar. Só conseguia mexer os dedos no teclado. O resto ficara parado. Saí de casa porque tinha de sair. Às dezoito horas tinha de estar numa das paróquias para celebrar a missa e fazer um baptizado. O caminho durou uns vinte minutos de desassossego. Olhei por duas vezes o relógio. O coração apertava cada vez mais. Sabia que o melhor da Diana estava para vir. Mas estava perturbado, sem fôlego. Desta vez cheguei quase em cima da hora da missa. Contei a uma paroquiana amiga que estava muito perturbado. Expliquei os motivos e disse. Tenho a sensação que a minha amiga acabou de morrer. Não sei explicar. Algo me diz que é assim. Mas ninguém me ligou. Estava já à mesa de uns amigos para meter qualquer coisa à boca antes de uma outra missa quando tocou o telefone e eu corri para ele. Era o Bruno. Padre, era só para lhe dizer aquilo que já deve saber. Não digas mais nada, Bruno. Diz-me só a que horas foi. Tudo me caiu em cima quando ele disse que deviam faltar uns dez, doze minutos para as dezoito horas. E chorei. Não foi só porque a partida de um amigo dói. Chorei, emocionado, por causa dos desígnios de Deus que são tão grandes.
Esta é para ti, Diana, parte I
N.B. Vou atribuir acrescentos aos anteriores títulos, para ajudar a percepção dos textos.
N.B. Vou atribuir acrescentos aos anteriores títulos, para ajudar a percepção dos textos.
quarta-feira, maio 23, 2012
Esta é para ti, Diana, parte VIII, preparada
As frases da Diana saíram do nada, que é como quem diz Saíram sem serem esperadas. Mas saíram desse nada, e para a Diana é tudo. E para mim acabou por ser tudo.
Estou preparada. Sei para onde vou. Sei o que me espera. Não tenho medo de morrer amanhã. E a lágrima saiu como entrou, também do nada. Uma lágrima de emoção. Uma lágrima de tudo. E na dela colei a minha. Como colei o meu sorriso. E ela colou o dela no meu. Dois sorrisos e duas lágrimas bonitas a percorrerem um rosto bonito e um rosto de admiração. Olho-a e digo que é Deus que estou a olhar. E a nossa linguagem mistura-se, porque nos entendemos. Porque falamos a mesma linguagem. A linguagem de Deus. A visita que demorou quase três horas de mãos dadas e afagos de parte a parte, fixou a mais pura das nossas realidades humanas. Seres frágeis que são de Deus. Sabe, padre, já me apeteceu desistir. E eu disse-lhe que não podia. Deus não queria. Mas que se entregasse nas mãos Dele. Sabe, às vezes fico cansada de estar cansada. Sofro muito. E não é por deixar de sofrer que estou em paz para partir. É porque sei o que me espera. Deus.
domingo, maio 20, 2012
Esta é para ti, Diana, parte VII, o livro
A Diana nasceu em 1991 com uma doença hereditária que faz com que certas glândulas produzam certas secreções anormais, com sintomas que afectam sobretudo o tubo digestivo e os pulmões. Por isso está sempre magra, rejeita comida, não faz bem a digestão de alguns alimentos e não pode comer de tudo. Por isso tem dificuldades para respirar e já andou muito tempo com oxigênio às costas. Por isso foi transplantada. E por isso agora está agarrada a máquinas. Com a vida presa por tubos. O tempo ensinou-me a dar nome a esta doença. Fibrose Quística. Escrevo com letra maiúscula, porque sinto que é maior que a minha compreensão. Como a forma de viver da Diana ultrapassa a minha compreensão. Só a entendo à luz da fé e de Deus. Há uns meses, ainda antes de dar entrada no hospital para se agarrar aos tubos, A Diana foi visitar-me e levar-me uma prenda. O embrulho fazia adivinhar um livro. Padre, assim que comecei a ler este livro pensei em si. Acho que vai gostar. Na dedicatória deixou escrito Acredito que este livro seja uma de muitas formas de conseguir encontrar a Força e a Coragem que precisamos em alguns momentos da vida. Por algum motivo escreveu Força e Coragem com letra maiúscula. A seguir vinha um smile, que os jovens gostam destas coisas e a Diana tem apenas vinte anos. O livro tem a capa amarela com um toque de laranja. Pelos vistos foram vendidos dois milhões de exemplares em seis meses. Chama-se “O Céu existe mesmo”, e conta a história real de um menino que esteve no Céu e trouxe de lá uma mensagem. Antes da minha visita ao hospital já o tinha lido todo. Faz pensar. “O Céu existe mesmo”. E ela lembrou-se de mim ao lê-lo. Porque as nossas conversas sobre o céu são certezas nossas, dos dois. Também falámos disso na visita do hospital. Sorrimos e chorámos. Contámos as nossas vidas. Enfim, estivemos ali os dois, um ao lado do outro, como se fosse o momento para se estar vivo. Como se fosse o momento de ser feliz como Deus quer. Esquecemo-nos das horas. Da hora de comer. O importante, quando se está com quem se aumenta a intensidade e a vontade de viver, vale por tudo o resto. Pequena joia de Deus, o teu lugar é em todo o lado. De certeza o será também no Céu.
quinta-feira, maio 17, 2012
Esta é para ti, Diana, parte VI, a vida
Estávamos ali. Vivos. A falar como era nosso costume. Da vida. Tu sempre soubeste o que a vida vale, Diana. Sempre soubeste aproveitar cada minuto como se só existisse esse. Tu sim, sabes viver. As jovens da tua idade são, na maioria, fúteis. Porque não tiveram a graça que tu tiveste de sofrer desta forma. Eu sei, padre, e agradeço a Deus. Insisti que tinha mesmo muito a agradecer a Deus. Ela acenou que sim. Aquilo que pareceu, à partida, uma desgraça, acabou por te dar uma graça. Aquilo que nos parece a todos uma desgraça, acabou por te dar a graça de saberes viver e de saberes dar valor à vida que tens em cada segundo que ela exista. Eu sei, disse. E foi um Sei como se fosse o maior Sei. Tu és de Deus. Eu sei, disse. Para mim tu és santa. E apenas sorriu. Agradece o dom da tua vida a Deus. Faço-o todos os dias, respondeu. Na despedida perguntei-lhe como estava. Ela respondeu com os braços a fazer um círculo grande. Mais cheia, quis dizer. Obrigada, padre. Fez círculos grandes até eu sair pela porta de quarto dos paliativos. Voltei para trás e disse. Eu é que agradeço. Eu é que agradeço, repeti. Saí e depois disse baixinho. Obrigada, Senhor, por me teres posto esta tua joia na minha vida.
segunda-feira, maio 14, 2012
Esta é para ti, Diana, parte V, o brilho
A Diana estava do outro lado do vidro. A fisioterapeuta estava com ela. Já não consegue fazer muitos movimentos. Já não consegue fazer muitos movimentos, mas a boca e os dentes não param de sorrir. Enquanto me vestia com os apetrechos do hospital próprios para entrar em quartos com cuidados especiais, uma bata, umas touca, uma máscara, reparei como ela sorria para a fisioterapeuta. É normal nela aquele sorriso rasgado e que brota do interior. Faz-me lembrar o sorriso de um Cristo que uma vez vi num filme e não mais esqueci. Um daqueles clássicos antigos que passavam na Páscoa na televisão. Ao meu lado, estavam dois enfermeiros da Diana. Enquanto esperava que a fisioterapeuta acabasse, falei com eles. Todos gostavam dela. Olhe, às vezes andamos à disputa para tomar conta dela. Ela tem um brilho especial. A maioria dos doentes quase nos torna doentes. A Diana não. A Diana faz-nos ter vontade de viver e de ser enfermeiros. Ao pé dela sentimo-nos bem. A mãe da Diana já me dissera aqui há uns tempos que os médicos e os enfermeiros gostavam muito da Diana e andavam sempre de roda dela. Nas quase três horas em que estivemos juntos, lado a lado e ao lado da sua cama, assisti à prova destas coisas que os enfermeiros e a mãe da Diana me haviam dito. Os enfermeiros e as enfermeiras iam passando só para dizer Olá. Acho que não havia um único que não acenasse, pelo menos, do outro lado do vidro. Vês como és especial, Diana. Tens tanto a dar de Deus. Deus deu-te tanto para dar. E apesar do teu sofrimento, aqui estás ainda a dar de ti, da tua vida, da tua alegria, da tua simpatia, do teu brilho, da tua fé, do teu e do nosso Deus.
sexta-feira, maio 11, 2012
Esta é para ti, Diana, parte IV, os sins
A Diana foi transplantada aos pulmões há mais de um ano. Deitada na cama do hospital, confidenciou-me que na época agradecia a Deus essa pessoa que, ao morrer, lhe tinha doado os pulmões. Não sei quem é, padre. Mas agradeço. Fazia-o ao anoitecer, para agradecer o dia de vida que findou. Porém, ultimamente não tinha agradecido. Os pulmões não estão a responder, padre. Estão a rejeitar. Não consigo respirar. Eles criaram, por si, um vírus estranho sem explicação, mesmo para os médicos. Perguntei-lhe porque deixara de agradecer. Fiquei meio revoltada, meio triste, meio bloqueada. Eu disse que esses sentimentos eram normais. Que Deus a ouvia, a entendia, os aceitava. Mas que não deixasse que isso lhe afectasse o mais importante, que era viver a cem por cento. Ela concordou. Também a cem por cento. E hoje, depois de eu sair, vais de novo agradecer a Deus a pessoa que te doou os pulmões, certo? Mais certo não podia ser, porque ela sorriu e disse sim. Sorri sempre. E os sins dela são dos melhores sins que eu conheço.
quarta-feira, maio 09, 2012
Esta é para ti, Diana, parte III, a bagagem
O irmão ligou-me há dois dias. Padre, a minha irmã precisa de si. É tão bom que precisem dos padres. É tão bom que precisem de nós. As coisas não estão bem. Nada bem. Explicou porque não estavam bem. Ela disse aos meus pais que gostava de ver duas pessoas. Uma delas é o senhor. É tão bom que o padre, como padre, seja o escolhido. É tão bom sermos escolhidos. Sabemos que lhe é difícil pelo tempo, pela disponibilidade, pela distância. Ela está em Lisboa, no hospital. Respondi que iria ainda esta semana. Ele respondeu que cada dia é sempre só mais um e que não sabia se havia outro. Deus arranjou então um dia. Deus arranjou uma forma de eu estar disponível num dia que, curiosamente, ficou disponível de um dia para o outro. Na bagagem levei-me só a mim. Deixei as dificuldades para trás. E agora que regresso de Lisboa, paro o carro para escrever tudo o que falámos. Venho com a bagagem cheia. Demoro mais de uma hora a escrever palavras, sentimentos, certezas. Tudo o que falámos e me encheu a bagagem. As horas da nossa conversa e do nosso encontro fizeram deste dia um dos melhores dos meus últimos tempos e da minha fé. Obrigado, Diana.
Para entenderem melhor este post devem ler de novo "Esta é para ti, Diana, parte I" e "Esta é para ti, Diana, parte II". Este texto em concreto foi escrito há mais de um mês, ainda no período da Quaresma. Nos próximos tempos, vou aqui colocar vários textos que escrevi nessa ocasião. Aos poucos perceberão porquê e para quê.
quinta-feira, maio 03, 2012
Tens por hábito rezar o terço...
Depois da sondagem que nos questionava sobre a nossa postura face à Ressurreição de Jesus e face à nossa Resssurreição, vem agora uma outra a propósito do mês de Maio, mês de especial devoção a Maria.
Da anterior sondagem quero ainda realçar as diferenças proporcionais entre as duas questões, pois grande parte acreditava a 100% na Ressurreição de Jesus, mas o número dos que acreditavam 100% na sua própria Ressurreição diminuia bastante. Isto dá que pensar, não dá?!
A nova sondagem começa por "Tens por hábito rezar o terço"... e deves completar a frase com a tua opção.
Podem, como é hábito, expor aqui as razões da vossa resposta ou o que pensam acerca da oração do Terço.
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