sábado, junho 26, 2010

Hoje entrou Deus em minha casa

Sacudi a lama das botas no tapete da entrada. E a porta abriu-se, apressada, para que eu entrasse. A filha mais velha de dez irmãos procurara-me na noite anterior para dar lá um salto a casa. O pai estava de cama, a última cama que o vai receber, de certeza, padre. Está deitado nos últimos lençóis que vai usar. Pressinto-o. Pode lá dar um salto? As palavras não eram directas, porque não queriam ser assumidas. Não queriam ser verdade no seu coração. Por isso dizia o que queria dizer sem que dissesse o que pensava dizer.
Seriam umas dez horas quando bati à porta. Sacudi a lama porque o tempo na rua nunca é igual ao tempo por dentro da nossa casa. Ela não tinha avisado o pai, para que ele não pensasse que ela pensava que ele precisava. Recordo que na rua estava frio e escuro. Nublado. Mas em casa havia um ambiente quente, claro, terno. Entrara noutra realidade. Olhe, pai. Disse a filha. Olhe quem o veio ver. Abriu os olhos, vivos, ao contrário de quase todo o corpo. Olhe. Olhou. Sorriu e disse Hoje entrou Deus em minha casa.
Não consigo descrever-vos o que senti, porque as emoções fortes, mais do que escrevê-las, vivem-se. Porém, posso garantir que naquele dia senti que valia a pena ser padre. Nem que só por uma vez na vida reconhecessem que nós éramos um caminho que Deus atravessa para chegar ao homem, já valia a pena. Não estava em causa ser confundido com Deus, porque de Deus não tenho senão o que Ele quis. Esteve em causa sentir que, independentemente do barro com que somos feitos, Deus usa-nos e molda-nos para se manifestar ao homem.

Na tua opinião, os padres são necesários?

Terminou o ano sacerdotal. Entre muitas perguntas e questões que se levantaram e levantam, achei oportuno fazer nova sondagem com a pergunta: Na tua opinião os padres são necessários para o mundo?

Para a maioria dos meus "penitentes", pelo menos 70%, a vinda do Papa a Portugal foi muito importante, como vimos em anterior sondagem. Ele é, portanto, muito importante para um país, para uma Igreja, para o mundo. Mas até que ponto os padres o são também, independentemente das suas fragilidades?

Fica a questão para reflectirmos.

Depois de responderes na sondagem do sidebar, podes deixar aqui mais clara a tua opinião.

quarta-feira, junho 09, 2010

A menina que era para ficar à porta

À hora marcada lá estavam. Ela de vestido bege, com alguns folhos mas simples, com um ramo de rosas na mão e uma fita na cabeça. Ele de fato e gravata azuis. Tinham decidido casar e baptizar a sua filha que, apesar de ir ao colo, já mexia e esbracejava. Como a circunstância era peculiar, a criança estava no colo da avó, a mãe da mãe. Poucos convidados. Muita simplicidade no acontecimento. Uma beleza de simplicidade que me agradou, e por isso, já paramentado, fui à porta recebê-los, conversar, combinar. A avó não saia do guarda-vento, a antessala da igreja, aquela parte da entrada da igreja que ainda parece ser fora da igreja. Pensei que queria acompanhar a filha e o genro. Entretanto, distraída por alguém que a chamava de dentro da igreja, a avó ia avançar em direcção ao altar quando a filha, portanto a mãe da criança, gesticula uma expressão de susto, de receio, de aflição, e quase grita para que a mãe não avance. Mãe, não passes daqui com a menina. A mãe, portanto a avó, pede desculpa e regressa ao lugar do guarda-vento. Percebi a aflição, o receio, o susto. Como percebo as confusões que muitos dos nossos ditos cristãos ainda têm na cabeça. Como percebo a mistura confusa que fazem de superstições, bruxarias, comezinhas, benzelhices e a fé, os sacramentos, a vida. Ou melhor, não percebo.
Perguntei à mãe da menina se queria ausentar a filha da sua cerimónia de casamento. Se iam separar-se naquele momento, pais e filha. Se não tinha mais sentido participar em tudo, já que era um dom de Deus. Depois expliquei que não é o lugar que faz a vida, mas o amor de Deus. Expliquei em palavras mais simples. E disse que Deus ama também os que ainda não estão baptizados ou que nunca se vão baptizar. E que o mal acontece no mundo independentemente de estarmos baptizados ou não. O que interessa é a fé com que fazemos as coisas, o amor com que celebramos os sacramentos. Expliquei em palavras mais simples para que entendessem. E entenderam.
Convidei-os então a subirmos ao altar e lá fomos os cinco, padre, pai, mãe, filha, avó e a menina que era para ficar à porta.

sábado, junho 05, 2010

Na tua opinião, o celibato dos padres...

Nova sondagem. Relacionado com o post anterior, surge a hipótese de continuarmos a reflexão, dando-lhe uma outra vertente. Será oportuno ou não o celibato dos padres? Será imprescindível ou não o celibato dos padres? Radicará ou não na sua vocação ministerial?

Podes comentar aqui as tuas respostas ou as votações que forem surgindo, depois de responderes na sondagem do sidebar!