quarta-feira, agosto 30, 2017

esse silêncio [poema 155]

Inauguramos o silêncio entre portadas
De casa em casa que são pedras lavradas
Esse silêncio que não conhecemos senão
No espaço entre umas pessoas e as outras
Ou entre si mesmas na quietude de não ser
Há ali a comunicação dos gestos que são.

Corro de porta em porta, com o coração
Nas fechaduras, entro e saio e a quietude entra
Em mim, nesse silêncio que também se abre
E me diz: Não estou só, apesar do meu nada

Há alguém que se faz tudo para eu falar!

domingo, agosto 27, 2017

Mais um colega sacerdote foi levado pelo Senhor

Mais um colega sacerdote foi levado pelo Senhor, como se costuma dizer, para junto de Si. Não gosto da frase, mas uso-a. É uma frase que na morte nos diz que somos levados por Deus, como se Ele nos tirasse algo. Não gosto de pensar que Deus nos leva como quem nos tira a vida, sobretudo quando estou convencido que é nesse momento que mais nos dá de Si. Também não vejo Deus como um egoísta que leva as pessoas para si. Gosto mais de pensar que somos nós que vamos. Somos nós que vamos para ao pé Dele. Mas o que eu penso também deve ser de pouca importância. 
O meu colega tinha tanto a idade como a falta de saúde propícias para falecer. Fui ao funeral que o senhor bispo presidiu. Não lhe destapei o rosto. Não me apeteceu. Não tive vontade de satisfazer essa curiosidade. E ao longo da missa, que me perdoem, mas o meu pensamento não poisou sobre ele, sobre o caixão ou sobre as suas memórias. Andou por todo o lado a pensar em mim, neste sacerdócio que vivo ao lado dos poucos que vamos restando. Cada vez é mais desproporcional o número dos padres que morrem dos que vão sendo ordenados. Cada vez sobram mais paróquias e mais trabalho para os mesmos. A nostalgia veio a mim. Não porque tenha medo. É só mesmo porque gostava que as coisas fossem diferentes. 
Por isso o meu pensamento andou pelo relógio do tempo, umas décadas ou anos à frente, a pensar que um dia destes, se não mudarmos o modo como servimos a Deus, é bem capaz de ter de ser Deus a mudar.

quinta-feira, agosto 24, 2017

meu deus [poema 154]

Lá no alto havia um céu
Que um dia caiu e fez-se véu

No meu rosto de cera pálida

Me abria e me assombrava
Calava-me mas não me calava

Olhem, ali vai um Deus
Por entre terras e céus
Anda de mão dada e ferida
Fez-se carne, faz-se vida

O céu deixou de ser céu,

Passou a ser o que eu sou
e de mão dada me levou

segunda-feira, agosto 21, 2017

Uma católica que não pratica muito

Padre, eu não vou à missa, mas acredito. Sou católica mas não pratico muito, disse ela enquanto jantávamos à mesma mesa. E depois de lhe perguntar que significava para ela acreditar, foi asseverando que de vez em quando rezava e que para ela Deus existia e acabava por ser importante. Fez-me recordar aqueles meio-católicos que aprendem a sê-lo como religião de vontades extemporâneas. Essa religião que é fruto da educação, mas que não implica senão uma filiação numa instituição que se chama Igreja católica. 
A Ana está prestes a casar. Por isso lhe perguntei se o facto de ela acreditar no noivo, acreditar que ele existe ou que é importante para ela, ligar-lhe de vez em quando, sobretudo quando se lembra ou precisa de alguma coisa dele, lhe bastava. Sorriu para mim e respondeu que não. E que acharia se apenas de vez em quando tivesse oportunidade de tomar as refeições com ele, mesmo depois de casados. Ó padre, isso seria muito mau. 
Pois passa-se o mesmo com a fé. Não basta acreditar que Deus existe, lembrar-se dele algumas vezes, achar que ele é importante no sentido de ser coisa grande. É preciso que a gente viva partilhando com ele, confiando nele, querendo-o, vivendo com ele e nele, amando-o. É preciso tomar a refeição com ele. É preciso vê-lo como alguém importante, melhor ainda, imprescindível, para que a minha vida faça sentido. É isso que é ter fé. É isso que é ser católico.

sexta-feira, agosto 18, 2017

Que atributos opinas serem mais ajustados aos católicos de hoje em Portugal?

Já lá vão quatro meses desde a última sondagem, da qual apuramos os resultados como constam na foto em jpg. A pergunta referia-se à Ressurreição. Em Junho de 2009 publicámos sondagem idêntica, e agora podes comparar os resultados AQUI.
 
Hoje iniciamos nova sondagem a propósito do tipo de católicos que se auto-denominam como tal em Portugal: Que atributos opinas serem mais ajustados aos católicos de hoje em Portugal?