segunda-feira, dezembro 30, 2013

Amar com a vontade de Jesus

Num dia destes em que Jesus nos disse no Evangelho Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros, no final da missa tomei a liberdade ou decisão, que alguns deverão ter ajuizado como tola, de sugerir que não tivéssemos receio ou pejo em dizer uns aos outros que nos amamos. Fi-lo porque acho que ainda temos muito medo desta palavra. E também para ser exemplo, algo que me saiu de uma vontade estranha, assim como um apetite que surge e não se explica, disse em cada paróquia como gostava deles. Na paróquia maior fui mais longe e acrescentei-lhe uma introdução. Apesar de, às vezes, não gostar de algumas coisitas, gosto muito de vós. Nem sei bem porque fiz tal acrescento, mas ele estava-me no inconsciente. Vieram depois à sacristia algumas pessoas dizer-me que também gostavam muito de mim. Foi muito bom, e espero que a comunidade seja cada vez mais autêntica no legado que recebemos de Jesus. Mas uma Lúcia mais atrevida perguntou porque é que eu tinha dito que não gostava de algumas coisas, mas gostava deles, como se isso não fizesse sentido. Eu respondi, de forma consciente, com a medida do amor de Jesus, pois que Ele também amava as pessoas não porque fossem boas, mas porque Ele tinha vontade de as amar.
 
E assim me despeço deste ano 2013, na expectativa de que o novo ano traga novidades neste nosso espaço: O Confessionário dum Padre

terça-feira, dezembro 24, 2013

O Natal traz sentido às nossas vidas

A azáfama do meu Natal chegou com festas e missas nos lares, nas casas de alguns doentes, nas escolas, na catequese, em jantares dispersos por motivos variados. Chegou cheia de alegria, como é normal nesta época. Ainda não me cansei. Espero não me cansar porque o Natal não cansa. Nem aos padres que têm muitas missas para celebrar e muitas terras para calcorrear. O Natal é muito mais que as prendas, as luzes, os pinheiros iluminados, os presépios. Para mim o Natal chega a ser muito mais que os encontros, embora seja uma celebração do encontro de Deus com os homens. Infelizmente há muita gente que confunde o Natal com o homem das barbas brancas e com a consoada em família. Vou dizer-vos o que é para mim o verdadeiro Natal. Foi o que fiz com os idosos de um dos lares das minhas paróquias, onde o Natal pode ser uma época de maior dor, porque estão ou são abandonados, porque estão doentes ou sem forças, porque se recordam de forma profunda que a vida está a passar rápido e já lá vai mais um Natal. Comecei a homilia da missa que celebrei com eles a fazer perguntas, informando que quem acertasse ganhava um prémio, o prémio da descoberta. A primeira pergunta era sobre o motivo pelo qual existia o Natal, e lá foram respondendo, por entre os poucos dentitos e muitos sorrisos, e por mais ou menos estas palavras, que o Natal existia porque Deus tinha vindo ao mundo e tinha assumido a nossa humanidade. Estavam de Parabéns. Mas a segunda pergunta era mais difícil. Porque é que o Menino Deus tinha encarnado e se tinha feito homem. As respostas foram variando entre o porque nos amava ou o para nos salvar ou o para nos ensinar muitas coisas. Entretanto, no meio da barafunda que foi todos quererem dizer da sua sabedoria, alguém disse que tinha vindo ao mundo para nos mostrar como se deve viver. Obriguei-os de seguida a fazer silêncio e arregalaram os olhitos. De facto Deus veio ao mundo para nos mostrar o Sentido da Vida. Que esta tem sentido. Que esta é um dom maravilhoso de Deus. Que o Amor de Deus manifesto na sua humanidade, bem como todas as Suas expressões, mostram que vale a pena viver. Bateram palmas os meus amiguinhos. E terminei dizendo que não interessava se estávamos doentes ou a sofrer, por dentro ou por fora, porque o Natal reforçava em nós a certeza de que a vida é tão boa, e que podemos ser felizes mesmo que nos falte tudo ou muita coisa que gostaríamos de ter. O que nunca nos falta é este Deus que nasce para nós e para nos mostrar e garantir o Sentido da Vida! E vão mais palmas, porque estas coisas sabem melhor que qualquer rabanada ou bacalhau.
 
Aproveito para desejar a todos um Natal cheio desta certeza e um ano cheio do Deus que nos garante esta certeza!

terça-feira, dezembro 17, 2013

O Papa que faz hoje anos

Hoje fala-se do Papa. Quer-se dizer, fala-se todos os dias do Papa Francisco e enchem-se as páginas dos jornais e das televisões. E não diria que é mau. Graças a Deus que ele tem proporcionado notícias positivas da Igreja aos escaparates das primeiras páginas de todo o mundo. Ainda há dias um entendido habitual das televisões, que é descrente e usa da palavra para fazer comentários abalizados, dizia positivamente que o "Papa devia dar uma lição de moral aos grandes patrões e banqueiros”. Infelizmente às vezes estas coisas não passam de modas. Mas enquanto durar que dure. Mas hoje fala-se do Papa Francisco porque faz setenta e sete anos. Poucos devem ter ficado indiferentes à notícia e feito caso da idade. Crentes e não crentes.
Ora aconteceu que, numa das minhas pequeninas comunidades, daquelas em que o comum dos participantes tem uma idade acima da mediana e uma cultura dita erudita abaixo da mesma, já quase no final da eucaristia, ali no após comunhão, um senhor de bom coração levantou-se sem ninguém esperar e começou a falar sozinho. Não fiz caso e fiquei na expectativa. Falou alto e bom som por estas ou por outras palavras semelhantes. Olhem, eu acho que nós devíamos dar uma salva de palmas ao nosso Papa que faz hoje anos. Não deram tempo sequer para me levantar e já toda a minha gente batia palmas. Acompanhei-os, levantei-me e convidei-os depois a rezarmos um Pai-nosso para que o Senhor Deus o continuasse a encher de graças e nos continuasse enchendo de graças a nós através dele. Toda a minha gente rezou com entusiasmo. E ainda antes que acabasse a missa eu já conversava comigo mesmo sobre estas coisas dos mediatismos do Papa, sobre o que as pessoas pensam dele e sobre o que os mais simples e comuns dos homens sentem em relação a este Papa que escolheu o nome que mais se lhe ajusta, Francisco. Por isso quero lá saber do que dizem as televisões ou os jornais. O que interessa mesmo é o que vou ouvindo às pessoas e o que vou sentindo no seu pulsar. Parabéns, amigo.

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Apartes de Maria

Chamou-me à parte, bem à parte. São assuntos à parte, e não queria pensar que estava a pecar por pensar neles. Tire-me uma dúvida, senhor padre. Então Maria nasceu Imaculada? Sentei-me a seu lado, para sentar igualmente os pensamentos. É um assunto mesmo à parte. Que eu pouco considero. Gosto de dar a Maria o atributo de Imaculada, como o dogma o assinala. Mas não me assusta que ela não fosse assim tão imaculada, pois que Deus não escolhe os perfeitos, os sem pecado. No entanto aceito o dogma. Afinal ela foi a mãe do salvador. Mas quando a interessada da senhora Carla me fez a pergunta, e ainda por cima, uma pergunta que claramente a afrontava, fiquei dominado nos meus apartes. E continuou. Para que precisávamos que ela fosse imaculada? Quanto à sua virgindade, até consigo compreender. Mas para que é que ela havia de ter sido concebida sem a mancha do pecado original. É só uma questão teológica, não é? Admirei-me da cultura religiosa da senhora Carla. E porque concordava com ela, pese embora o risco de contrariar a noção do dogma, eu disse-lhe. Não se preocupe com isso, senhora Carla. A mim também não me preocupa. Que ela foi escolhida, foi. Que ela é a mãe do Salvador, é. Que ela é especial, é. Que ela é dos primeiros modelos de fé, é. Que ela toca profundamente cada crente, toca. Mas não me preocupa se é imaculada ou não. Ficámos ambos sossegados. Mas agora, ao escrever, sinto que algo me perturba diante do magistério e tradição da Igreja.

terça-feira, dezembro 03, 2013

A vida

A vida passa a correr. Amanhã já será para o dia seguinte um ontem. Teimamos em querer viver uma vida cheia, mas amanhã o dia de hoje já não tem nada. Tem apenas o que ficou em nós como o ser que nos tornámos. Teimamos em ser donos da nossa vida quando ela passa sem que lhe demos ordem. E um dia a nossa porta abre para não mais se fechar e é nessa hora que a gente pergunta E agora? esquecendo que a porta esteve sempre aberta. Bastava tão somente saber que era a nossa porta. Porque este mundo tem a nossa porta virada para o norte, o sul, o este e o oeste. Para todo o lado. Perdemos-lhe o norte e convencemo-nos que a escolha tem de ser nossa. E é. Mas ninguém escolhe a porta branca porque não é escura. Tem de se escolher porque é branca. E andamos toda uma vida que passa a correr numa busca que está lá, mas que teimamos em não ver porque queremos ser donos da nossa escolha e isso pode impedir-nos de ver que ela está lá. E quando a porta se abrir para não mais se fechar já é tarde, tal como o dia de hoje já foi e não mais volta. Fica apenas aquilo que ficou de nós.