Desci as escadas zangado. Antes de pisar o primeiro degrau estivera a dizer umas quantas coisas ao lá de cima. Acabado de descer o último degrau, deparei-me com uma paroquiana de rosto fechado. Esbocei um sorriso largo e ela também. Olhei-a nos olhos e ela fez-me o mesmo. Sorrimos ambos como se quiséssemos fazer de conta que nada se passava. E o padre foi o primeiro a quebrar o sorriso. Então, dona Teresa, que se passa? Não sabia que fazer da vida e não entendia porque Deus não agia na vida dela como ela precisava. Nem a propósito, disse eu. Ainda agora estive a ajustar umas contas com Ele. A dona Teresa abriu o rosto de admiração, e disse, Olhe que às vezes apetecia-me berrar com Deus. Sosseguei-a respondendo que não havia mal nisso, e que eu berrava com Ele muitas vezes. Mais vale dizermos aquilo que pensamos. Afinal Ele já sabe e nós ficamos aliviados. Eu acho até que pode ser uma interessante forma de oração.
quarta-feira, outubro 31, 2012
sexta-feira, outubro 26, 2012
A senhora, de nome que não interessa
Há uma senhora, de nome que não interessa, que, já reparei, gosta de reparar na vida dos outros e falar dela, a vida dos outros.
Em cada terra, em cada paróquia, há sempre senhoras, de nome que não interessa, que vivem a sua vida a reparar na vida dos outros. Nas mais pequenas, sentam-se ao cimo do balcão e fazem uso da sua língua, geralmente má, para desfazer novelos e criar novelas da vizinha, da amiga da vizinha, e das amigas das amigas da vizinha. As que moram em terras ou paróquias maiores sentam-se à mesa do café para que o chá seja bem regadinho com a história que ouviram falar.
A senhora, de nome que não interessa, gosta de andar atrás do padre e assim como fala das vizinhas, aproveita e fala do padre, que esse dá uma novela de maior audiência. Por azar da vida, veio contar-me duas ou três coisas a respeito de duas ou três senhoras que colaboram na Igreja. Não gosto de dar importância a conversas destas, mas, como é hábito, escutei-a porque o meu dever é escutar. A meio da conversa pedi-lhe para falar coisas boas dessas senhoras e ela não conseguia. Foi quando se calou. Aproveitei para ensinar que dos outros só devemos falar bem, e que devemos ter atenção se não recalcamos nos outros aquilo que está dentro de nós. Terminámos assim a conversa e quero pensar que ela vai melhorar. Mas depois de ela sair porta fora, lembrei um dito senhor da televisão, de nome que não interessa, que há dias se saiu com esta à frente do écran. Aqueles que passam o dia a falar da vida dos outros que arranjem uma vida. De facto, quem está de bem com a sua vida, não gasta tempo a falar, geralmente mal, da vida dos outros.
Em cada terra, em cada paróquia, há sempre senhoras, de nome que não interessa, que vivem a sua vida a reparar na vida dos outros. Nas mais pequenas, sentam-se ao cimo do balcão e fazem uso da sua língua, geralmente má, para desfazer novelos e criar novelas da vizinha, da amiga da vizinha, e das amigas das amigas da vizinha. As que moram em terras ou paróquias maiores sentam-se à mesa do café para que o chá seja bem regadinho com a história que ouviram falar.
A senhora, de nome que não interessa, gosta de andar atrás do padre e assim como fala das vizinhas, aproveita e fala do padre, que esse dá uma novela de maior audiência. Por azar da vida, veio contar-me duas ou três coisas a respeito de duas ou três senhoras que colaboram na Igreja. Não gosto de dar importância a conversas destas, mas, como é hábito, escutei-a porque o meu dever é escutar. A meio da conversa pedi-lhe para falar coisas boas dessas senhoras e ela não conseguia. Foi quando se calou. Aproveitei para ensinar que dos outros só devemos falar bem, e que devemos ter atenção se não recalcamos nos outros aquilo que está dentro de nós. Terminámos assim a conversa e quero pensar que ela vai melhorar. Mas depois de ela sair porta fora, lembrei um dito senhor da televisão, de nome que não interessa, que há dias se saiu com esta à frente do écran. Aqueles que passam o dia a falar da vida dos outros que arranjem uma vida. De facto, quem está de bem com a sua vida, não gasta tempo a falar, geralmente mal, da vida dos outros.
quarta-feira, outubro 24, 2012
A que objectos de escritório associas mais a figura de Jesus?
Continuando a ideia que propus na anterior sondagem, com o objectivo de reflectir sobre a forma como vemos, pensamos e sentimos Deus, sugiro desta vez que pensemos na figura de Jesus partindo de objectos de um escritório. Pode parecer uma proposta estranha, quase inadequada. Porém, pessoalmente, gosto de procurar o mais além, aquilo que possa parecer absurdo, para encontrar um sentido e uma busca maior, mais profunda e muito pouco absurda. Assim, desta vez, olhei à minha volta, ou melhor, à volta da minha secretária, e procurei objectos para reflectir qual ou quais associaria à figura de Jesus. Já sabem que esta sondagem, como a anterior, terá mais sentido se justificarem a vossa escolha. Por isso, proponho que o façam nos comentários.
A pergunta é: A que objectos de escritório associas mais a figura de Jesus?
segunda-feira, outubro 15, 2012
O Ano da Fé que bem precisamos
Andavam na vindima, e nas vindimas há tempo para todas as conversas. Uma senhora querida, que vai sempre à missa e até canta no coro, aproveitou a ocasião para evangelizar, que é assim que os cristãos deveriam fazer. Mas foi em vão, contou-me ela. Só faltou ser enxovalhada. Estava lá um senhor de bigode, aqui da terra, que nunca vai à missa, que me disse assim. Vossemecê julga que por ir à missa, e cantar na missa, vai para o céu?! Vai tanto como eu, porque não há céu. E ela que lhe respondeu com outra pergunta. Então se não há céu, que foste fazer à missa do funeral do teu irmão? E quando pensava que o desarmava ou o ia fazer pensar no que acabara de dizer, este virou costas e disse. Tem razão. Olhe que não fui lá fazer nada. E depois é o que se vê, disse-me ela no fim de uma missa. Eu contei as pessoas que vieram hoje à missa. Eu também contara. Fora fácil contar as oito pessoas que lá estavam. O senhor padre falou, na missa, do Ano da Fé que aí vem. Bem precisamos dele. E repetiu. Bem precisamos dele.
sexta-feira, outubro 12, 2012
Os padres também amam
Necessito amar. Mas cortam-me as pernas do amor, para que o amor não ande. Digo-o com todas as primeiras e segundas intenções. Digo-o, porque neste exacto momento tenho uma mão aberta, com os dedos afastados. Fecho-a, e apesar de fechada, tudo me foge da mão, por entre os dedos. E fica apenas o punho fechado. Sai-me da boca e da vontade sem querer. Deus criou-nos assim, com esta vontade infinita de amar. Afinal, é o amor que nos traz a felicidade e Deus quer-nos felizes. Saímos do seminário com esta certeza de que temos de amar a todos, mesmo que isso implique não amar ninguém. E vamos fazendo assim o nosso sacerdócio. Convenhamos que alguns constroem essa casa com uma série de janelas abertas. E não aponto nenhum dedo, pois tenho a mão fechada. Aproveito e fecho também as cortinas. Dizem-nos que para o sacerdócio só há esta porta. E eu acredito nisso, em sentido figurado. Mas todos necessitamos amar, em sentido real. Faz parte da nossa essência de seres finitos que procuram o infinito numa entrega, numa partilha, numa forma de se não ser sozinho no mundo. E tu que fazes, Senhor? Dás-nos uma família. Mas precisamos mais. Dás-nos uma irmandade a que chamas presbitério. Mas é uma virtualidade do amor. Dás-nos uns amigos, como eu costumo dizer, do peito. Mas também esses a vida nos afasta. Porque mudamos de poiso e nada é eterno senão Tu. Porque a vida é simplesmente assim. O que eu acho bonito no meio disto tudo, é que o amor, para ser valioso, tal como tudo o que tem valor, tem de ser procurado. Mas estou para aqui há um ano, e sinto falta desses amigos do peito. Não os perdi. Só estão longe. E é assim quem, em nome de Deus, tem de ou devia ser perfeito.
terça-feira, outubro 09, 2012
Estava capaz de gritar
Estava capaz de gritar. Estava capaz de gritar em plena missa, anteontem, Domingo, dia de Nossa Senhora do Rosário, faz onze anos que a minha mãe faleceu. Era um Domingo, tal como anteontem. Era um final de tarde, seriam umas seis horas. Anteontem, seriam umas sete, a família, junta por outros motivos, acabou por ir, igualmente junta, à missa que também se celebrava pela mãe. Desta vez fiquei do lado de lá. Fiquei do lado de lá do altar. Estava cansado. E não só. De vez em quando acho bom rezar do lado de lá, do lado diferente, do lado que me é mais estranho. Para quebrar a monotonia. E para experimentar o que é ser simplesmente leigo. Cada um deve celebrar a missa com o seu ministério ou função. Concordo. Mas de vez em quando, onde nem nos conhecem, sabe bem estarmos no meio da multidão, a sentir como a multidão sente. Reconheço agora que a maior parte dos sentimentos que tive durante a missa não eram os da multidão. Eram os meus. Eram a minha mãe. No início da missa o padre enganou-se e não leu o nome correcto da mãe ao anunciar a intenção. Sei como são estas coisas e não me importei. Mas a partir daquele momento, o meu pensamento voou na tua direcção, mãe, e a missa foi um quase só pensar em ti. Por isso estava capaz de gritar. Houve ali um momento, enquanto o padre falava e falava, em que me apeteceu interrompe-lo para gritar. Que a minha mãe morreu faz onze anos e queria tê-la por cá. Depois perguntava porque é que se tem de morrer numa idade imprevista. Constatava como são imprevistas as doenças e com o arrastar do tempo elas aparecem mais frequentes e são mais prováveis. Parece que estão latentes no subconsciente de alguém e saltam para fora para morrer. Depois falava do cancro da mãe para dizer que ela não se queixava, porque tinha fé e amava o Deus que lhe tinha dado a vida. Essa vida. Gritava o mais que pudesse para dizer que aquela mulher que é santa, que é de Deus, e que soube aguentar firme na dor e na vida, era a minha mãe. Queria exibi-la com orgulho, como se os outros quisessem saber alguma coisa disso. Não me zango com Deus. Também não adiantava, porque a vida e a morte vão continuar a ser como são. Fogem do nosso controle. Por isso é que Deus é Deus e nós não. Sei que o tempo que vai entre o início da vida e o início da morte é apenas o projecto de Deus para cada um, e que cumpri-lo seria o objectivo maior do nosso existir, sob pena de a nossa vida não valer de nada e para nada. Mas anteontem estava capaz de gritar, porque nem sempre nos apetece fazer a vontade de Deus, ou cumpri-la, ou aceitá-la. E a minha mãe estava ali bem presente, na minha missa. E pouca gente deu conta disso.
sexta-feira, outubro 05, 2012
Que cor associas mais a Deus?
Depois da última sondagem, achei oportuno termos uma série de sondagens que nos levassem a reflectir sobre a forma como vemos, pensamos e sentimos Deus. Vou, por isso, nos próximos tempos, propor algumas sondagens com este espírito. Hoje a pergunta é: Que cor associas mais a Deus?
Esta sondagem terá maior sentido se justificarem a vossa escolha. Por isso, proponho que o façam nos comentários.
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