sexta-feira, fevereiro 27, 2009

sondagem_ “Pede um desejo para a Igreja Católica em 2009”

Passados que vão quase dois meses do início do ano 2009 e da última sondagem, bem como cerca de 600 votos, chegou a hora de avaliar a sondagem que estava no lado esquerdo, no sidebar. A proposta era:
“Pede um desejo para a Igreja Católica em 2009”

E os resultados são:
1. + coerência entre fé e vida _29%
2. + verdade _15%
2. + adaptação às realidades _13%
4. + formação _12%
5. + oração _ 9%
6. + vocações _ 9%
7. + compromisso cristão _ 8%
8. + fé e - religiosidade _ 3%
9. + fraternidade _ 2%
10. - moralismos _ 2%
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pequenas considerações:
  1. Eu também votei na opção que mais votos arrecadou (+ coerência entre fé e vida), porque me parece que o principal problema dos católicos é exactamente não levarem a fé para a vida, reduzindo esta a meras formalidades, rituais ou tradições. Também me parece que os católicos geralmente não pensam ou sentem como tal. Não raras vezes se descobre que há muitas coisas e ideais propostos pela fé que não interessam aos que se afirmam católicos. No que se refere aos sacramentos, nem vale a pena fazer referência.
  2. Não entendo o motivo da segunda escolha (+ verdade). Procurei perceber em quê, mas sobraram-me muitas outras questões, como: Mais verdade nos conceitos ? Mais verdade naquilo que se diz com o que se faz (mas isto seria o mesmo que a 1ª opção)? Menos mentiras de quem se diz cristão ? Porém, a única verdade é Cristo e essa não pde ser mais verdade. Espero que alguém me elucide mais.
  3. A terceira opção (+ adaptação às realidades) faz-me pensar na inculturação que eu tanto gosto, porque imagino Deus como um ser que se aproxima de nós como somos e não como alguém idealiza; faz-me pensar na « Nova Evangelização » que falava João Paulo II; faz-me pensar naquela mensagem sempre nova que é o Evangelho.
  4. A Formação (+ formação) é essencial para que a nossa fé seja mais coerente e mais consistente. Só ama quem conhece a pessoa que ama.
  5. A oração (+ oração), as vocações (+ vocações) e o compromisso cristão (+ compromisso cristão), para mim, são como que consequências da nossa fé ou paixão por Cristo. Quem ama dialoga. Quem ama entrega-se total e/ou responsavelmente, se for necessário. Quem não chegou ainda a este patamar da fé ou do amor, como pode rezar ou consagrar-se ou comprometer-se?
  6. Suponho que a opção “+ fé e – religiosidade” ou não foi bem interpretada ou foi sentida como uma repetição da opção vencedora. Estranhei a sua percentagem.
  7. A Fraternidade (+ fraternidade) é essencial aos católicos, pois são a comunidade dos discípulos de Cristo. Não podem viver individualmente. Porém, também estranhei que tivesse pouca percentagem, porque conheço bem a forma como nos tratamos uns aos outros de forma sistemática. Perdoem estas estranhezas. De facto, não podiam todas as opções receber as mesmas votações.
  8. Para meu regozijo e, ao mesmo tempo, nova admiração, “- moralismos” foi a última opção. Numa época histórica em que a normal moral quase se reduz ao que eu desejo porque sou livre para o fazer, fiquei admirado que esta não fosse das principais opções. Quer-me parecer que os meus penitentes são gente que tem a sua opção moral bem definida.

Com os olhos postos neste tempo litúrgico da Quaresma, hoje surge nova sondagem. Tendo em atenção que a Igreja nos pede ou aconselha algumas coisas para vivermos ou cumprirmos nesta época, nomeadamente Jejum e abstinência, Esmola, Oração, Leitura da Palavra de Deus, Sacrifícios, Penitência, Confissão, Retiros, Conversão, entre outras, responde às seguinte questão:

Preocupas-te em cumprir ou viver o que é aconselhado na Quaresma?

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Não estás nunca sozinho

Abri-lhe a porta, percorri o corredor até à sala que abro aos amigos, àqueles que entram na casa para estar comigo e não para ver o que ela tem de novo ou desarrumado. Sento-me no sofá e quase desenho no ar o que estou a sentir. Abro os braços e fecho-os contra as coxas. Depois olho para ele. Inclino levemente a cabeça para a frente. Seguro-a com uma das mãos e com a outra seguro a testa. Ele entendeu. Faltava pouco mais de meia hora para outro funeral. Digo outro porque têm sido cerca de três, quatro, por semana. Este ainda por cima era de alguém algo próximo. Daquelas pessoas com quem um pároco faz diálogos, conversas às vezes de chacha, mas que são formas de nos tornarmos presentes, de vivermos com. Além do cansaço e desânimo que me traz tanto funeral, este tornou-se especial até pela idade do amigo que acompanhei na doença, só que mais não seja, com algumas perguntas e conselhos a familiares, e pela quantidade de amigos e pessoas que imaginei estarem presentes no momento. Ele entendeu. A uma distância de um metro, disse apenas duas frases que nunca mais vou esquecer, porque precisava delas naquele dia, e sobretudo porque elas definiram o paroquiano, o amigo que as estava a dizer. Eu estou contigo. Se tiveres alguma dificuldade durante o funeral, olha para mim que vais saber que estou contigo.
Posso garantir-vos que olhei na sua direcção umas duas vezes. Não mais, porque não precisava olhar para lá para saber que não estava sozinho naquela montanha que tinha de escalar. Para a escalar tive de suster algumas lágrimas, esconder algumas vezes o rosto de quem tinha calçadas umas botas com o rasto gasto e escorregadias para subir a montanha. Mas não vou esquecer as palavras que ouvi naquele dia e que me disseram Não estás nunca sozinho.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Eram só mais quinze

Foi preciso morrer, para o senhor padre o visitar. Tanta vez que, na doença, o convidei a passar lá por casa. Arranjam-se as maiores desculpas com argumentos, razões, motivos e causas, tempo e falta dele, disponibilidade e falta dela. Quando a vida não nos puxa para ali, inventamos tudo e mais alguma coisa para dizer que a vida tem razão. Mas hoje a campainha cá dentro soou como há muito não soava. Ficou rouca de tanto tocar. Mesmo depois de se retirar o dedo porque tinha de ir embora, continuo a ouvir o som da campainha como se nada mais cá houvesse dentro senão a campainha. Foi preciso ele morrer. A esposa bem me tinha dito para lá passar. Não disse muitas vezes. Mas para ela, porque se cansou de o dizer, foram muitas. Para mim só agora foram muitas. Estava distraído. Distraiu-me o tempo. Distraiu-me a vida. Eram quinze minutos daqueles que costumamos roubar às horas. Eram só mais quinze. Podiam parecer trezentos e quinze. Mas eram só mais quinze. Agora bem posso dizer que estou a gastar mais de quinze a pensar nisso enquanto a campainha ressoa cá dentro.

sábado, fevereiro 14, 2009

Um colega que deixa de o ser e as consequências

O telefone do confessionário tocou. Do outro lado e de chofre: “Faxavor de continuar a cumprir bem as suas funções”. Depois, em pouquíssimas palavras, explicou quão grave era. Só depois do depois entendi. As vozes daquelas e daqueles que gostam de falar da vida alheia chegaram à conclusão de que eu ia deixar de ser padre porque o tinham ouvido a outra pessoa entendida nestes assuntos de comentar. E que era verdade. Que um padre assim e assado, com mais ou menos esta idade, lá para aqueles lados, ia deixar de ser padre. Só podia ser eu. Bolas. Nem se preocuparam em saber se era verdade! Já estão a ver.
Mas o que mais me indigna é que muitos desses rádios volantes fazem parte do grupo daqueles que condenam o celibato. Os padres deviam casar! dizem. Têm uma opinião muito aberta sobre assuntos de igreja. São progressistas. Tão progressistas, que na hora do assunto ser real, exclamam: É um escândalo! E alimentam as telenovelas e as histórias, aquilo que é verdade e aquilo que é fruto da imaginação. E depois ainda metem todos no mesmo saco. Aquele também já tem noiva. E aquele. Qual é o padre que não tem várias candidatas a viver em sua casa!
E a mim só me faltava possuir parcas semelhanças com o colega que vai deixar de o ser.
Ora bolas, não me chegava o celibato!

domingo, fevereiro 08, 2009

Estou?

Estou? Atende-se o telefone quase sempre com esta pergunta. Estou? Como se fosse uma pergunta para nós. E esperamos que a outra pessoa não responda à pergunta. Queremos que diga o que pretende. Ela diz também Estou? E ali ficamos a perguntar uns aos outros se estamos. E se acaso não ouvimos ninguém, repetimos Estou, sim? até ouvirmos do outro lado a mesma repetição Estou? Nunca havia pensado desta forma, mas olhando agora para a pergunta, não será que o fazemos para tentar perceber onde estamos! Com quem estamos! Se estamos presentes ou ausentes? Se somos nós que falamos ou se é alguém que fala do outro lado da linha por nós! Se estamos vivos e a viver ali!
Há dias aconteceu assim na igreja. Não foi por mal. A pessoa não tem essa maldade dentro de si. Dartacão dartacão. O telemóvel tocou a primeira vez durante a homilia, e saiu disparado porta fora. Como saiu dos primeiros bancos, quase todos os olhos dentro da igreja o seguiram, inclusive os meus. Da porta entreaberta três vezes se ouviu Estou? Mas depois voltou. Com certeza não estava. Perto do final da missa, a mesma melodia se ouviu. Dartacão dartacão. O senhor é pessoa para não saber desligar o telemóvel. Alguns colegas acham oportuno colocar um desenho de um telemóvel com uma cruz por cima, à porta da Igreja. Eu costumo pensar que o comum das pessoas sabe que há ocasiões em que o telemóvel deve estar desligado ou em silêncio. Mas aquele senhor é do grupo de pessoas que não faz por mal. Usa o telemóvel porque toda a gente usa. Porque é preciso usar. E isso não significa que toda a gente saiba usar. Vai daí, e porque já estava cansado de sair da Igreja, atendeu logo ali. Estou? Se até àquela ocasião, os olhos só procuravam o senhor, agora os olhos dentro da igreja riam e murmuravam. Eu ri e abanei a cabeça. Mais em sinal de estupefacção do que desaprovação. Estava sentado, ainda na acção de graças. Por isso, tive oportunidade de pensar na pergunta que o homem do telemóvel fizera. Será que quando estamos na Igreja, estamos mesmo?

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Estava saturado de estar saturado

Estava saturado de estar saturado. Estava com os paroquianos, mas desejava logo a seguir estar em casa. Fechado ou pelo menos que não entrasse ninguém com facilidade. Que pudesse sair de vez em quando, de preferência para longe e sozinho. Dizia que ainda conseguia sorrir para as pessoas quando estas lhe causavam um transtorno que, na maioria das vezes, para ele constituía um problema. Perguntei como conseguia e ele respondeu-me que era sincero. Que se esforçava por amar a pessoa e não o que ela estava a dizer. Sorria por fora, e para dentro usava os dentes quase cerrados do sorriso para premir com força e relaxar os nervos. Perguntei-lhe porquê e respondeu-me que não sabia. Perguntei-lhe se não tinha amigos, e respondeu-me que sim. Mas que ultimamente, mesmo quando estava com eles desejava chegar a casa rápido porque tinha o não sei quê para fazer. Se estivesse com eles em casa, fazia um esforço enorme para estar acordado contando piadas. Mas não gostas deles? insisti. Gosto imenso. Que seria de mim sem eles! Perguntei-lhe se andava cansado e respondeu-me que não. Que estava apenas saturado. Mas depois lembrou que quase todos os dias ainda antes de jantar já se encontrava com sono.
A conversa ocorreu ao telefone e desliguei para falar pessoalmente com o padre Y. É um pouco mais novo que eu. Não sei como vou entrar em sua casa. Mas estas conversas são de casa e não de rua ou fios de telefone.
Porém ao virar costas lembrei o que há dias dizia a umas senhoras da paróquia. Às vezes apetece-me adoecer para passar umas férias no hospital. Ao menos nessa ocasião as pessoas aprenderiam a viver com aquilo que se pode e não com aquilo que gostam de ter ou da forma como gostam de ter.

domingo, fevereiro 01, 2009

Nem uma palavrinha de agradecimento, parte III

A zeladora dos altares não demorou muito a vir ter comigo de novo. Estivera a meditar em casa. Queria perceber ainda mais. Pelo menos melhor. Contei então uma história. Os membros do corpo estavam cansados de trabalhar para que o estômago tivesse comida. Então decidiram fazer greve. Deixaram de exercer as suas funções. Não é difícil descobrir como em pouco tempo começaram a sentir-se fracos. A desfalecer. Depressa concluíram que todos os membros deviam cooperar se queriam sentir-se saudáveis, e o estômago reconheceu também que devia repartir com igualdade tudo o que chegasse a ele. Depois do final da história, que não alonguei nem adornei, repeti: Todo o cristão tem um lugar na comunidade, que não pode ser apenas o de mero espectador. Deve cumpri-lo não como um prolongamento do ministro ordenado, mas pela missão que Deus lhe tiver reservado. Aliás, o sacerdócio comum dos baptizados não faz inútil o sacerdócio ministerial, não o substitui. Um e outro participam do sacerdócio de Cristo. Vem na Lúmen Gentium. A organização da comunidade não se trata de mera eficácia administrativa. Tem a sua raiz numa consciência mais profunda do Povo de Deus. O grupo da comunidade cristã crescerá na corresponsabilidade tanto quanto mais houver partilha de responsabilidades. E, minha senhora, não deve haver motivo de invejas, ciúmes ou arrogâncias. É como numa família: cada um faz o que pode para contribuir para ela e assim cumpre o seu papel. Por detrás não podem estar subjacentes nem poder, prestígio social, remuneração económica ou elogios. Por detrás deve estar a nossa missão sacerdotal. O melhor lugar pode até ser o mais discreto! O melhor lugar, a meu ver, é aquele em que se pode servir o irmão mais e melhor.
Deu-me um abraço e passou a fazer arranjos de flores muito mais bonitos.
Se querem saber, há dias elogiei-lhe não só o arranjo de flores como o seu arranjo com o rímel. Porque sim, porque estavam mais bonitos e sinceros.