terça-feira, dezembro 23, 2008

O Natal de dois mil e cinquenta

Apreensiva a leitura que fiz há dias. Que em dois mil e sete Portugal registou um valor do índice de fecundidade de 1,3 filhos por mulher. Que tem vindo a diminuir substancialmente e que, se acaso esta situação não melhorar, em dois mil e cinquenta chegar-se-á a uma situação insustentável, com uma idade média acima dos cinquenta anos e um rácio de idosos sobre população activa superior a 0.6. A previsão lógica é que acabem as pensões de reforma ou os activos se revoltem com os impostos e taxas que terão que pagar. Dá que pensar. Deu-me que pensar.
Também não foi há muitos dias que fui visitar o lar. Faço-o de vez em quando. Quando o faço, quase sempre regresso a casa com algo para pensar. Os lares são locais propícios para pensar a vida. A época do Natal é propícia igualmente para pensar a vida. Porque Ele também quis viver como nós. Mas não foram estes os meus pensamentos desta visita. A manhã estava fria, mas tinha um sol a vislumbrar-se ao longe. Um pouco longe. Depois de falar com os utentes do lar sobre o amor que Deus nos tem, um amor tão grande que O obriga a tornar-se o mais próximo de nós possível, assumindo uma vida igual à nossa, com sofrimentos e tudo, sentei-me para almoçar ao lado deles. Enquanto dava voltas ao bacalhau, lembrei como vou juntar a minha família, nesta consoada, à volta do bacalhau. Por isso, e por curiosidade, perguntei quantos utentes iam passar o Natal a Casa. Informaram-me que seriam 10 % no máximo. Como achei aquilo absurdo, insisti se não tinham filhos? A resposta deixou-me ainda mais espantado. Praticamente todos.
E foi nesse momento que fiz contas à vida. Por este andar, em dois mil e cinquenta os velhos vão ser em número muito superior aos novos e os pais aos filhos. Se já hoje os filhos não dão o mínimo de atenção aos pais, pior será quando o número de filhos for menor. Em dois mil e cinquenta passaremos o Natal sozinhos nos lares de terceira idade. Praticamente todos.
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Aproveito a ocasião para desejar a todos os "penitentes" e amigos um Natal que nos faça sentir o valor e importância da Vida, uma Vida dada por Deus para sermos felizes!

sexta-feira, dezembro 19, 2008

sondagem_ “Como classificas de uma forma geral as homilias que tens ouvido?”

Passados que vão quase dois meses da última sondagem e 583 votos, chegou a hora de avaliar a sondagem que estava no lado esquerdo, no sidebar. A questão era:
“Como classificas de uma forma geral as homilias que tens ouvido?”

E os resultados são:
1. Medíocres _44%
2. Péssimas _22%
3. Óptimas _13%
4. Boas _11%
5. Razoáveis _ 9%
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pequenas considerações:
Hoje não faço grandes considerações. Cada um as fará como entender.
  1. Apenas faço a constatação de que em Portugal ou nos países onde estão os “meus penitentes” não há homilias razoáveis. Ou são acima do bom ou acima do mau.
  2. Também não quero esquecer que uma homilia será sempre boa ou má dependendo da pessoa que a ouve, daquilo que precisa ouvir e da interpretação que fizer daquilo que ouve.
  3. E ainda realço que 66 % das respostas evidenciam homilias abaixo do razoável e 24 % acima do razoável, o que significa que acima do razoável é quase um terço do abaixo do razoável.

Hoje surge nova sondagem, a pensar no ano 2009, um ano que se aparenta difícil. Talvez seja oportuno tentarmos descobrir o que para nós seria mais necessário. Por isso desta vez não surge uma pergunta, mas a oportunidade de fazer um pedido.

Pede um desejo para 2009

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Deus e o telemóvel da Ana

O telemóvel da Ana pifou. A Ana ia pifando. Ó padre, ele há coisas, contava-me porque eu sou o padre e porque precisava de desabafar com alguém que entendesse a relação de Deus com as suas coisas. O meu telemóvel pifou de todo. Prova disso é que, para além de não se ligar, quando ontem saí da missa retirei-o do bolso e verifiquei que ele estava a carregar. Não estava ligado à electricidade, mas estava a carregar. Já tinha ouvido dizer que a missa era um momento para "recarregar baterias" mas sempre pensei que fosse uma metáfora. A Ana é muito divertida. Faz-me lembrar a simplicidade e o humor de Deus na forma como ela encontra sempre algo divertido para explicar como Deus se relaciona com as suas coisas. Aproveitei a oportunidade e meti-me da mesma forma divertida com ela. Então a menina também leva o telemóvel para a missa? Não me diga que espera alguma chamada importante nessa hora? Ou faz parte do grupo daqueles que, colocando-o em silêncio e a vibrar, obrigam depois o pessoal a procurar, afinal, quem tem o bolso a tremer? Não deixei que ela sequer respondesse. Queria levar a melhor na brincadeira. Se calhar é por isso que o teu telemóvel pifou. Deus não deve gostar disso. Ao que ela, com ar de quem ia vencer a brincadeira e dar a martelada final. Ó padre, ainda não acabou a minha história. Veja como Deus sabe da necessidade que tenho do telemóvel. Acabei de receber, há coisa de uns vinte minutos, uma chamada dos Escuteiros a dizer que a minha frase foi seleccionada e que ganhei um telemóvel. Já nem me lembrava que tinha participado naquilo. Ora veja como Deus, dado que não conseguiu carregar bem a bateria, decidiu premiar-me com uma novinha e com o embrulho todo atrás. Já desconfiava, mas hoje aprendi que é mesmo Deus quem nos dá as prendas no Natal.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

O céu e o inferno, parte II

E continuou. Isso não explica que o céu seja uma coisa e o inferno seja outra. Nem explica a necessidade dos dois. O pai do Diogo era inteligente. Há muito não via tamanha inteligência interessada e participativa num encontro de preparação de qualquer sacramento que fosse. Geralmente as pessoas questionam pouco, poucas dúvidas lançam, porque assim a reunião é mais curta, porque têm receio de dizer algo que os coloque mal, porque quase sempre não estão seguros das suas convicções ou ciências, porque os outros podem olhar de lado, porque o padre se pode chatear e a igreja não gosta que se façam perguntas. Mas o pai do Diogo tem a inteligência à flor da pele. Por isso pergunta e por isso eu deixo que a forma como sinto o céu e o inferno sejam transpiradas para aquela reunião, mesmo que alguma parte dessa forma de sentir possa ser contra o Magistério da Igreja.
Para mim tudo tem a ver com a proximidade (continuo a dizer que não é física) que temos com Deus. Quem estiver mais perto, ficará mais satisfeito. Quem estiver mais longe não consegue senti-l’O tão bem e fica muito insatisfeito. Esta insatisfação leva ao desalento e à dor. Aliás, o facto de estarmos lá mas não estarmos perto é que torna tudo mais difícil. Porque se lá não estivéssemos não ia custar tanto. Se não sentíssemos esse afastamento não ia custar tanto. Tudo tem a ver com aquilo que se sente ou não se sente. O afastamento é o inferno e a proximidade o céu.

domingo, dezembro 07, 2008

O céu e o inferno, parte I

Num encontro para preparar baptismos, e quando explicava a forma como Deus queria salvar todos e como não fazia grande sentido esperar que o Baptismo fosse o nosso bilhete para a salvação, mas sim a prova de que nós queremos a salvação, o pai do Diogo pediu-me licença para perguntar e perguntou. Para que é que Deus nos quer salvar? Como faz para nos salvar?
Sem parar os raciocínios que ia fazendo, fui respondendo com o Reino de Deus, a Ressurreição e afins. Claro que as palavras que utilizei estavam demasiado gastas pelo magistério da Igreja e não me fazia propriamente entender. Dei conta porque ele pediu nova licença para perguntar e perguntou. Pode dizer-me o que é essa história do céu e do inferno?
Quando estudava teologia no Seminário havia muitas definições ou teorias que achava difíceis de compreender. Mais ainda de explicar. Sem dúvida que uma delas é a do céu e o inferno. A sua existência. A sua forma.
Que ninguém pense que o inferno é um lugar de muitas chamas e muita sede e que o céu é um jardim paradisíaco, fui dizendo. Já na altura dos meus estudos ficara claro que não eram espaços, que não os podíamos imaginar ou recriar como um espaço físico para onde se vai depois de morrer. Por isso não podemos confundir o céu azul e bonito que vemos por cima de nós com o céu de Deus. Mas se não são locais para onde se vai, porque se diz que se vai para lá?
Sabia que não era fácil explicar-me, mas avancei que Não é o espaço que nos faz estar, mas nós, a nossa pessoa. O ir para lá é uma forma de lá estar. Eu posso estar num sítio estando noutro deveras, porque o meu sentir está noutro lado. Também posso estar com alguém sem estar ao seu lado. Posso estar com Deus, a seu lado, sem ser um estado físico, mas um estado de sentir. É apenas uma forma de estar. E de certeza que estaremos com Deus depois da nossa morte, no céu ou no inferno…

quinta-feira, novembro 27, 2008

Quer ser padrinho

O António vai a crismar porque quer ser padrinho. Foi à Catequese porque queria ser padrinho. Nunca foi de faltar muito porque queria ser padrinho. Sabe de cor os sete sacramentos que a catequista lhe ensinou porque quer ser padrinho. Sabe que o crisma confirma o baptismo e por isso se chama Confirmação, porque quer ser padrinho. Sabe inclusive que é mais do que uma confirmação. Disseram-lhe que tinha a ver com a maturidade da fé. Aprendeu os dons do Espírito Santo que, dizia, curiosamente também são sete, porque quer ser padrinho. Porta-se bem nos últimos encontros de preparação para o crisma porque quer ser padrinho. Vai-se confessar porque quer ser padrinho. Vai a crismar com um padrinho ao lado porque quer ser padrinho. Mas quando lhe pergunto porque quer ser padrinho, não sabe porque quer ser padrinho.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Será que os animais vão para o céu?

Irmão Sol. Irmã Lua. Irmã árvore. Irmão pintassilgo. Irmão cão. Faz sentido gostar do que Deus criou, como faz muito sentido gostar e tratar bem dos animais. Um amigo meu gosta do que habitualmente dizemos ser o melhor amigo do homem, os cães. Digo-o sem segundos sentidos. Relaciona-se bem com eles. Eu também me relaciono bem com eles, mas apenas quando estão presos. Fora disso é só uma espécie de respeito. Eu gosto de lhe chamar respeito. Porém, o meu amigo gosta tanto deles que um dia, numa conversa daquelas em que costumamos reflectir assuntos ou passar algum tempo à procura de assuntos para reflectir, saiu-se com esta. Será que os animais vão para o céu? Fiquei de pernas e mãos atadas no sentido mais intelectual da expressão. Nunca se me havia deparado semelhante questão. Não imaginei sequer que um dia pudesse ser questão. Comecei por dizer aquilo que era mais fácil, o Olha pró que te deu. Não me podia desarmar e por isso passei para o Ora bem, eu penso que. E depois de pedir ajuda a Deus, se é que Ele pudesse estar interessado em ajudar-me, fui raciocinando em voz alta. Ora bem, eu penso que eles são capazes de se relacionar, mas não são capazes de amar no verdadeiro sentido da palavra, porque amar é algo gratuito, desinteressado. Os animais amam quando recebem algo, quando se habituam. Há pessoas assim, mas isso não interessa para esta nossa discussão, disse para amenizar ou aliviar o diálogo. Por este motivo não devem conseguir estabelecer relação de amor com Deus, não achas? Ora bem, eu penso que se não estabelecem relação de amor com Deus, não tem sentido pensar que eles possam ir para o céu. Disse mais umas três ou quatro vezes palavras parecidas com pensar e possam e ora bem eu penso que, porque não sabia o que dizer mais. Mas para mim o céu, apesar dessa ideia fenomenal de ser um paraíso, não precisa de tanta criatura bela. Só de imaginar que podia haver cães no céu à solta…

sábado, novembro 15, 2008

O meu retiro

Estava no meu décimo segundo ano, prestes a ingressar em teologia. Um passo decisivo. Éramos mais que dez, mas não lembro o número ao certo. Não foi isso que me marcou. O nosso Director Espiritual agendara um retiro a que chamava de decisivo. A entrada em teologia era um passo importante. Modelo de Santo Inácio. Pequena introdução à reflexão com os passos a seguir. Depois uma hora de meditação individual. Foi uma semana de grande silêncio. Ainda recordo o tinir dos pratos às refeições e o chilreio dos pássaros. Passei uma tarde sentado no monte, apenas com Deus, uma sandes e uma maçã. Conversei muito com Ele e comigo. Às tantas o padre pregador ensina uma técnica. Desenhem numa folha duas colunas. Na primeira enumerem as razões pelas quais devem ir para padre. Na segunda as razões para não irem. Foi um grande debate interior. Enchi a folha, tanto de um lado como do outro. Penso agora que escrevi mais na primeira que na segunda. Mas às tantas, parei bruscamente. Assaltou-me um pensamento. Melhor, um sentimento. Deus ama-me tanto! E repetia-o. A repetição não saía de dentro de mim. Recordo que estava na Capela, sozinho, a um canto. Era um final de tarde. O lusco-fusco salientava a luz que alumiava o Santíssimo. Atirei a folha ao chão. Não havia necessidade dela. O amor de Deus bastava. Fiquei a olhar a luz que pousava na folha. Era a luz que vinha do sacrário. Deus ama-me tanto! Uns anos mais tarde, antes da minha ordenação, ainda sentia esta repetição. Hoje ainda vou buscar forças a este retiro, a esta repetição. Engraçado como não foi amor a Deus que me tornou sacerdote, mas o amor de Deus.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Nem pensar

O Tiago é um miúdo esperto. Tem treze anos. Vai sempre à missa. É meu acolito. Tem um sorriso do tamanho de Deus. Enquanto segura na vela junto ao Evangelho, espreita para acompanhar a sua leitura. Penso que é um miúdo que Deus já tocou de maneira especial. Por isso penso também que poderia ser chamado de forma especial para o sacerdócio. De vez em quando insisto qualquer coisa como Bem poderias ir para padre. Davas um bom padre. Já te imaginaste meu colega? Desde pequenito que insisto. Hoje deu-me para falar de novo. A mãe estava presente. Ela ficaria contente, de certeza. Estavam mais duas pessoas na sacristia. A missa terminara, e eu insisti. Bem que podias ir para padre. Nem pensar, respondeu convicto. Um dos presentes lembrou que assim não podia casar. Todos os presentes pensámos no celibato e no casamento. Mas o Tiago acrescentou. Não tem nada a ver com isso. Então, porque não hás-de ir para padre, perguntei. Nem pensar. Já viu o que os padres passam, o que os padres têm de aturar?! Nem pensar.
Calou-me a insistência. Calou o palpite dos presentes. Calou aqueles que procuram respostas quase científicas para a falta de vocações consagradas. Falou daquilo que muitos sentem, partindo daquilo que vêm e ouvem, quando lhes é feito o convite.

sexta-feira, outubro 31, 2008

As paróquias que estão a morrer

A conversa não aconteceu no café, mas foi uma conversa de café. Conversa de café de padres. Falávamos das nossas vidas, das nossas canseiras, das nossas paróquias. À medida que cada um falava, eu anotava no meu semblante conclusões para o futuro da nossa Igreja. Ouvi mais que falei. Falei mais com expressões do rosto que com as palavras a sair da boca. Reconheço que estava mais interessado em tirar conclusões. E hoje, quase a entrarmos em Novembro, mês em que as folhas caem mais sem pedir ajuda, e em que o tempo nos faz ver tudo mais escuro, recordo o que um deles disse a determinada altura acerca de uma paróquia onde entrara há uns meses. Sabiam que não tenho lá primeira comunhão faz já uns quinze anos? Perante tamanha afirmação feita como pergunta, não fui apenas eu que esbocei um rosto de admiração. Todos imaginámos que o trabalho do pároco anterior não tinha sido cuidado e que agora o nosso colega teria de colocar toda aquela gente a fazer a primeira comunhão. Julgámos errado. Bem costumo dizer que não devemos ser juízes dos outros e que apenas Deus verdadeiramente pode exercer esse acto de julgar. E só o pode fazer Ele, porque o faz sempre numa perspectiva de amor para com quem exerce o julgamento. Julgámos errado e o colega explicou. Não tinha havido primeiras comunhões porque durante estes anos não tinha havido crianças naquela paróquia. Mais admirados ficámos. Um outro colega, rindo despregadamente, insinuou que assim não teria tanto trabalho nem preocupações. Todos nos juntámos à risada. Mas o nosso colega confidenciou. Mais uma vez julgastes errado, porque isto constitui maior preocupação. É que as nossas paróquias estão a morrer.

sexta-feira, outubro 24, 2008

sondagem_ “Como classificas os católicos hoje em Portugal?”

Passado que vai mais de meio ano da última sondagem e 549 votos, chegou a hora (parecia que nunca mais chegava!!!) de avaliar a sondagem que estava no lado esquerdo, no sidebar. A questão era:
“Como classificas os católicos hoje em Portugal?””

E os resultados são:
1. sem formação _27%
2. indiferentes _19%
3. tradicionalistas _16%
4. não praticantes _10%
5. gente de fé _ 9%
6. simpatizantes _8%
7. supersticiosos _5%
8. anti-clericais _4%
9. praticantes _1%
10. responsáveis _1%
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pequenas considerações:

Não podemos esquecer que o fazer uma classificação, por si, é sempre um acto que depende da perspectiva de vida de quem vota. Por este motivo, esta sondagem pode ser apenas um mero barómetro para auscultar aquilo que pensa um grupo de pessoas. De facto não podemos nunca classificar ninguém nem medir de forma exacta a sua fé. No entanto, podemos aproveitar estes resultados para pensar.

Não vou fazer muitas considerações. Vou deixá-las para cada um as realizar. Mas não posso deixar de realçar:

  1. que 72 % das respostas evidenciam um total afastamento, uma inadequada formação ou a total ausência dela;
  2. que a anterior conclusão traz consigo uma grave constatação: que aqueles que habitualmente chamamos de católicos portugueses não são verdadeiros católicos;
  3. que “gente de fé”, “responsáveis” e “praticantes” apenas contabilizam 11 %;
  4. que não parece haver um grande espírito anti-clerical;
  5. que o mais votado se prende com a falta de formação, o que indicia uma fé por “arrasto” e a urgência de contrariar esta situação;
  6. que a vida dos padres ou agentes de pastoral fica complicada, dado que o seu trabalho vai ser nos próximos tempos algo próximo da “manutenção”, porque é o que as pessoas vão pedir; próximo da “tradição” porque é o que as pessoas querem; votado à formação, o que exige tempo e dedicação, coisa que menos abunda;

    Que considerações farias tu?

Hoje surge nova sondagem, enquadrada nas novidades (seria novidade?!) ou preocupações que têm surgido do Sínodo dos Bispos sobre a “Palavra de Deus na vida e missão da Igreja”. Também podes explicar os motivos da tua opção. A pergunta é:

Como classificas de uma forma geral as homilias que tens ouvido?

quinta-feira, outubro 16, 2008

É dentro de nós que a vida se resolve.

O Guilherme tem dezanove anos. Bateu à porta com o rosto curvado. Com o corpo curvado pela vida e não pela idade. Faz parte desta geração que consome as coisas, a escola, os amigos, os prazeres, o tempo, a estrada, a vida. Faz parte da nossa geração, daqueles que tendo vinte, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta ou setenta anos, vivemos consumindo o que a vida nos dá sem que o sabor dela se entranhe no nosso corpo e na nossa mente. Vivemos mais numa e para uma sociedade que nos define, do que nos definimos perante e para uma sociedade. Por isso hoje o mundo passa depressa e se ontem tínhamos um bibe no corpo e uma chupeta na boca, hoje temos os cabelos grisalhos. Tudo não passa de uma noite mal dormida e quando acordamos estamos a uma grande distância daquilo que éramos.
Por isso hoje queria dizer-vos aquilo que disse ao Guilherme por causa da imensidão de problemas que ele mencionou na sua vida. Queria dizer-vos que nós resolvemos a vida desde dentro. Não resolvemos os nossos problemas com a mudança das situações, com a mudança das coisas à nossa volta, com a mudança dos outros. Tentamos esquecer. Tentamos mudar de lugar, de habitação, de curso, de carro. Tentamos mudar de amigos, procurar amigos, mudar os seus comportamentos e atitudes. Impingimos a nossa forma de sentir e pensar. Mas é dentro de nós que a vida se resolve.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Um olá bem grande

Olá, amigos.
Devo-vos uma explicação e faço-a agora neste breve texto.
Estive imensamente ocupado, o que me impediu de escrever com a regularidade que pretendia e que, alguns pelo menos, têm pedido. Neste momento, e apesar de ainda não estar em férias, encontro-me em tentativas de descansar um pouco. Por isso e apesar de ter alguma disponibilidade, não tenho nem a inspiração nem a vontade necessárias para fazer partilhas escritas. Também não tenho visto com regularidade o email e respondido às dúvidas, dificuldades, inquietações que por lá abundam. Peço imensas desculpas pelo facto. Espero fazê-lo quando algumas condições se reunirem.
Não. O Confessionário não vai desaparecer. Mas nas próximas semanas vai continuar a ser difícil vir aqui, escrever aqui, sentir-vos aqui, amar-vos aqui...
Desejo-vos umas boas férias (para quem as tem). Mas não esqueçam que de Deus não se faz férias! Até breve.

segunda-feira, junho 30, 2008

Todas as semanas têm um Domingo

Todas as semanas têm um Domingo. Óbvio. Isso significa levantar a trouxa e levar armas e bagagens pelas estradas da zona. Levantar cedito. O suficiente para uma boa higiene, que o dia merece, umas pequenas fatias de qualquer coisa, umas orações rápidas, uma vista de olhos pelo esquema da homilia. Sim, que preparo sempre a homilia. Faço um esquema bem completo. Para evitar fugir do assunto e para atingir bem os fins propostos. Propostos por mim e pelo Evangelho. Sempre com referência neste. Melhor, sempre a beber da fonte que este é. E toca a marchar. Cheio de sono. Olhos semi-abertos. Primeira estação. Já está tudo mais ou menos pronto. Tenho grupos corais muito bons. Por esta banda abundam bandas. E ajuda. Os acólitos. Os Ministros. Entro pelo fundo. Sorrio. É costume meu. Mesmo com sono, sorrio. Nem que seja para disfarçar as olheiras. Saudação. Se possível, faz-se com que todos se sintam bem. Final. Desejo bom Domingo. Segunda estação. Entrei, andei e saí do carro aceleradamente. O senhor padre anda sempre a correr, dizem. Quando há baptizados então. Sim. Só os celebramos na eucaristia, com a comunidade presente, com a comunidade a acolher, a receber. Nessas ocasiões, voo. A homilia já sai melhor. Se é incisiva, saio de encontro pelo meio da assembleia. As histórias só de vez em quando, para não gastar todos os trunfos. Quase não olho para o papel, mas está presente para alguma correcção. Há sempre um ou outro que boceja. Não dormiu bem, justifico para meu bem. Eucaristia arejada. Participação de muitos. De vez em quando os da catequese. Fazem-se sinais interessantes. Um dia destes, a propósito do evangelho da multiplicação, distribuímos um pedaço de pão que foi partilhado por uns e outros. Chegou e sobrou. Só falta a chouriça, disse alguém. O momento da consagração é muito especial para mim. O tom de voz muda. Sem hipocrisia. Muda porque assim o sinto. Não há como celebrar eucaristia! Terceira estação. Sai tudo muito melhor. Só que a intensidade da cerimónia começa a pesar. O pessoal diz que sorrio muito. Se não sorrio, alguma coisa está mal por dentro. De vez em quando o Pai-nosso reza-se de mãos dadas. Uh… que grande novidade. Todos o fazem. Se for necessário há palmas. Acólitos e acólitas. Ministros e Ministras. Leitores organizados. Temos Folha Paroquial em todas as paróquias. Lá estão todos os que têm serviços na semana seguinte. Contém todos os avisos e até as intenções de missa. Um texto de reflexão. Evito perder tempo no final com avisos.
De vez em quando há quarta estação. Um desvio no calvário. Alguma Procissão. Ou reunião. Ou encontro. Ou festa. Ou, sei lá. Geralmente termina ao findar do dia. Todo roto. Amanhã tenho mais ainda que fazer. Não é Domingo, mas é dia de trabalho. Porém celebrar a eucaristia com os meus é bom! Hoje estou aberto a sugestões. Como celebrar ainda melhor?! Quem dá sugestões!?

terça-feira, junho 10, 2008

Como se avalia um padre?

As pessoas falam mal daquele, do outro e daqueloutro padre. Dizem bem deste, do outro e deste outro, pelo menos neste momento. Noutros momentos esquecerão o bem que haviam dito. Geralmente dizem melhor do outro que deste, pelo menos enquanto este estiver por perto. Quando este partir, ou para longe ou para sempre, era um bom padre. Usa-se mais o era que o é, o passado que o presente, para dizer bem de um padre.
Têm tendência a dizer bem dum padre novo, mas enquanto celebra de forma mais alegre ou aberta. Porque se acaso ousa dizer não posso, já não é assim tão bom. Se diz amén a tudo, não tem personalidade, é fraco. Precisamos um mais forte. Se alterar algum hábito, tira-nos a fé. Se apresentar ideia novas, qualquer dia os santos caem do altar. Se entrar num café é dos nossos. Se entrar habitualmente, deixa de ser nosso para ser como os outros. Se fala com as pessoas é simpático, mas anda mal acompanhado. Se passa muito tempo em casa, não faz nada. E se vai à Igreja menos vezes que o padre antigo, só cá está para levar o dinheiro.
Os padres velhos são geralmente bons padres no sentido mais solidário que existe. Uns pobres padres. Já não fazem nada. Estragam tudo. Têm vícios. Há quem os abomine. E há quem os desculpe.
Os padres de meia-idade nem são uma coisa nem são outra. Não costumam ouvir gracejos ou piropos, mas também ninguém lhes dá o benefício da dúvida. São aqueles que aparentam a maturidade que precisamos no nosso padre, mas que já não conseguem engraçar, façam o que fizerem. Já não têm ponta para admirar e começam a cansar. É melhor vir outro antes que este chegue a velho.
Mas o que é um bom padre? Como se avalia?
Avalia-se pela quantidade de coisas que consegue fazer? Pela quantidade de coisas que consegue que outros façam? Pela forma como reza? Pela forma como faz rezar? Pelas vezes que se vê na rua? Pelas vezes que está em casa? Pelas vezes que vai à igreja? Porque bebe connosco? Porque não bebe? Porque tem personalidade? Porque é simples e humilde? Porque é sábio? Porque é culto? Porque é organizado? Pelas palavras que diz? Pela sua voz? Pelos sorrisos que dá? Pela qualidade da missa? Porque demora muito? Porque demora pouco? Pela sua criatividade? Pelas festas que faz? Pelos pulos que dá? Porque veste bem? Porque é bonito? Porque diz palavras sábias? Porque fala bem? Porque escuta melhor? Porque é novo? Velho? De meia-idade? Ou porque já se foi?

quarta-feira, junho 04, 2008

Quem entrasse nos meus pensamentos, ouvia-me berrar

Tinha acabado de escutar uma senhora que ainda usa o véu, cumpre todos os preceitos e sabe todas as orações, mas que não conhece a verdade do amor de Deus. Segundo ela, o amor de Deus existe para se sentir, e não para que seja distribuído por quem não merece. O amor de Deus que eu conheço não é assim. E por mais que lhe explicasse que Jesus perdoou, inclusive, aos que o mataram, ela não quis saber. O senhor padre não percebe nada. Eles maltrataram-me. Perguntava-lhe sobre ela e ela respondia sobre os outros. Perguntava-lhe se no coração já os tinha perdoado e respondia-me que eles não eram bons. Perguntava-lhe se conseguia ter o coração disponível para eles e insistia que eles não eram bons. Informava-a que não precisava de confiar e ela dizia cruz credo. Mas que precisava de perdoar para se sentir bem consigo própria e repetia-me que eles é que não estavam bem. Tentava encontrar algo de bem nela que sobressaísse e a fizesse repensar a vida e ela persistia falando mal dos outros. Afirmei que o mal dos outros não devia fazer espelho em nós, mas ela repetia o palavreado. Ensinava-lhe que era mais fácil amar quem nos ama, mas que o cristão também ama quem nos magoa e ela virava a cara. Eu acrescentava e ela repetia. Acrescentava e ela repetia, até esbracejar por não me ouvir dizer o que desejava ouvir. E cansei. Cansei por ver nesta interminável conversa um coração cristão confundido. Cansei por rever nesta conversa milhares de corações cristãos confundidos. O senhor padre não sabe nada.
Por isso quem entrasse nos meus pensamentos, ouvia-me berrar. Um grito mudo, seco, que me fez cerrar os punhos por debaixo da casula antes de iniciar a eucaristia.
Porquê, meu Deus?! Porque é que as pessoas te confundem com as suas superstições?! Porque é que se dizem cristãos como forma de sossegar a consciência?! Porque não entendem a tua beleza?! Porque não te entendem?! Porque não amam como tu amas?! Porque não sabem perdoar?! Porque apontam o dedo umas às outras, esquecendo os seus próprios erros?! Porque é que juntam as mãos para rezar, mas não as juntam para amar?! Porque é que estendem a mão para receber, mas não a abrem para dar?! Porque é que a nossa forma de nos afirmarmos cristãos não nos faz melhores?

sexta-feira, maio 30, 2008

Não sei o que é não ter emprego

As conversas particulares ou são segredos ou são receios ou são confidências. Às vezes são as três em simultâneo. Por isso entrámos no escritório para uma conversa particular. Eu sentado e ela em pé, como que para fugir na primeira dificuldade sem que eu tivesse oportunidade para agarrá-la, e como se a conversa não pudesse ser demorada.
Os pobres de hoje vivem assim, em pé para fugir, para não perder tempo, para não demorar a sensação das dificuldades, para não assumir que se precisa, para que ninguém possa murmurar a pobreza dos seus. Os pobres de hoje, que aumentaram em número e diminuíram o da classe média baixa, têm vergonha de precisar de ajuda.
O sorriso era forçado. Ter de justificar a sua necessidade precisava de um sorriso. Assim como precisava de sorrir para que os filhos sorrissem. Precisava de ajuda. Eu ouvia sem falar. Às vezes não conseguimos mais que ouvir, porque não sabemos as palavras ou gestos certos. E enquanto ela me falava das dificuldades da vida, lembrei-me de um jovem que, em tempos, decidira entrar no Seminário. Lembrei também as minhas gargalhadas quando me contaram que este, questionado sobre os motivos pelos quais queria ingressar no Seminário, respondera que assim tinha a certeza de arranjar emprego. Nada mais desapropriado, mas nada mais acertado. Emprego garantido. Trabalho sem horários definidos, mas sempre garantido. Remuneração indefinida, mas sempre garantida.
Por isso ao ouvi-la, senti-me atado. Estranhamente atado entre uma vida que escolhi por causa de Deus, mas que me facilita a causa dos homens. Reconheço que perante o meu trabalho, esforço e responsabilidade, a remuneração não é a suficiente. Mas perante a vida, os encargos e os outros, sinto-me um privilegiado. Não tenho nada. Porém, não me falta nada que, de facto, faça falta.
Escondi as mãos nos bolsos porque não sabia onde as colocar. Não fazia sentido ter uma mão aberta ou fechada. Não fazia sentido ter uma mão que não pudesse apertar outra. Era mais fácil escondê-la, atá-la, cerrá-la. Quando nos despedimos, retirei-a do bolso e mais o que lá estava. Mas o que é um peixe num mar imenso?! Sobretudo quando não se tem cana de pesca, rede ou barco?!
Claro que ser padre não é um emprego no verdadeiro sentido da palavra. É uma vocação, algo que se vive inclusive durante o sono. Ser padre define-me. Não é um atributo. Mas hoje, ao olhar aquele sorriso forçado, senti-me um privilegiado porque nunca senti o que é não ter emprego.

segunda-feira, maio 19, 2008

A fé de Portugal

O bom do João foi a Fátima a pé. Fez o percurso com entusiasmo. Contou-me que ia rezando o terço, mesmo quando os outros não queriam. Uma vez por dia rezavam em conjunto. Era um grupo de mais de uma dezena de pessoas. Gente da terra que, uma vez por ano, faz esta viagem. Regressado de Fátima, o João sentia-se incomodado no mais íntimo da sua fé. Tinham conseguido chegar no dia 13, a cerca de meia hora da Eucaristia do recinto. Óptimo, pensou ele e repetiu no diálogo comigo. Mas um dos companheiros de viagem tinha uma promessa para cumprir. Vir da “cruz alta” de joelhos com o filho ao colo e dar duas voltas à Capelinha com o mesmo peso aos ombros. A decisão do grupo fora unânime: acompanhar o colega para que ele conseguisse cumprir o prometido a Nossa Senhora. Não queriam pactuar com a tristeza da “senhora” se ele não o cumprisse.
Não foram à Eucaristia? Perguntei. Por isso vim falar consigo, padre. Não fomos, e eu sinto-me incomodado com isso. Ainda tentei convencer o pessoal, mas eles não me quiseram ouvir, e eu não consegui resistir. Então foram a Fátima com fé em Nossa Senhora, com a devida devoção, mas não quiseram saber da Eucaristia? E não procuraram outra, que em Fátima costumam haver várias? Não, padre. Depois regressámos a casa. Que me diz? Fiz bem ou mal?
O João não teve coragem de mostrar a sua verdadeira fé, aquela que vê na mãe, chamada “de Fátima”, como o meio de chegar melhor ao Seu Filho, como o meio de amar mais o Seu filho Jesus. E é esta a fé de Portugal, que tem uma enorme devoção a Fátima, às promessas e às tradições. Basta pensar nas pessoas que vão a Fátima cheias de fé e de promessas, mas que não vão à missa, nem na paróquia nem no santuário. Basta recordar como tanta gente enche as fileiras das procissões das festas, fora ou dentro delas, e as que vão à missa dominical. Basta pensar naqueles que gastam uns cêntimos numas velas mas não partilham dos mesmos cêntimos com os vizinhos pobres. Basta pensar nos sacrifícios feitos para peregrinar a Fátima e nos sacrifícios que não são feitos para perdoar quem nos magoou. Basta pensar em Portugal, para perceber que esta é a fé dos portugueses, uma fé em Fátima, nas tradições e nas promessas.
Que me diz? Fiz bem ou mal?

quarta-feira, maio 07, 2008

Tinha uma vida cheia de tudo

Enquanto o corpo correspondia, transparecendo formas definidas e esbeltas, era de opinião que não devia ter muitos filhos. Os que não custassem e que servissem para formar família bastavam. Tinha uma vida cheia de tudo. Bom marido. Boas casas, que eram mais que uma. Dinheiro suficiente para que não lhe faltasse a felicidade. Guardara o necessário para fazer uma velhice sem sobressaltos. Inclusive, sabia conviver com a vida e com Deus na sua participação dominical da missa. Era boa mulher e boa mãe. Nunca deixara que os seus dois filhos soubessem o que era não ter mãe. Tinha dois porque um tinha sido descuido. Estivera para abortar. Não tivera coragem dessa vez, mas conseguira tê-la noutra. Agora a mulher que tinha tudo, que era feliz e que não quisera ter o desconforto de ter meia dúzia de filhos, estava ao meu lado, mal sentada porque não conseguia aguentar as dores, e ela própria contava a sua vida de felicidade efémera e de enganos com a vida. Chorava disfarçadamente para que ninguém reparasse, embora toda a gente a soubesse desditosa. A mão não possuía força suficiente para se limpar. Por isso a pintura dos olhos esborratava-se. Pertencia a uma classe um pouco acima da média. Agora a pintura espalhada pelas lágrimas mostrava o que está por de trás de qualquer tipo de classe. E contava que o seu marido morrera e que os últimos anos tinham sido imensamente duros porque tinha cuidado dele sozinha. Desculpava os filhos dizendo que não tinham tempo. Mas agora ainda menos, porque tinham morrido ambos antes do pai. Padre, não tenho quem cuide de mim. Não tenho filhos que me cuidem. Estou muito doente. Sinto-me impotente para resolver o que quer que seja. Gastei os últimos cêntimos com remédios. O que me vai valendo é o Centro. Falava do Centro Paroquial. Se tivesse, ao menos, mais um filho ou dois, padre!
Agarrei-me a ela com força, a força que Deus me dera para ter naquele momento, para também eu ser forte e a fazer forte. Limpei-lhe uma lágrima com um dos meus dedos. Mas não insisti, porque o mesmo dedo parecia querer aproximar-se de um dos meus olhos. Disse três ou quatro palavras que nem lembro porque fiquei a falar por dentro. Sei que ela parou de chorar. As palavras devem ter valido de conforto. Quando se levantou com a minha ajuda e me disse adeus, eu pensei no como tanta gente resiste a ter mais filhos por um qualquer motivo que, vá-se lá a saber, a maioria das vezes não é mais que uma forma de evitar preocupações e problemas, esquecendo que outros problemas e preocupações podem vir atrás dessas opções.

quinta-feira, abril 24, 2008

Os maus é que deviam morrer

Os maus é que deviam morrer. Estava revoltada, dizia-me. Só por dizê-lo eu intuía que não era revolta. Era dificuldade em entender, em aceitar. Já viu, padre. Tinha apenas 32 anos. Tinha duas crianças. Morrer assim de repente. Sem explicação. Os médicos falaram em infecção. Mas nunca justificaram. Foram dois dias. Em dois dias foi. Não é justo, padre. Deus não foi justo. Ela era boa pessoa. Tinha razão neste ultimo comentário. Reconheço que o que conheço dela fazia dela uma pessoa boa. Mas não tinha razão no penúltimo. A justiça de Deus não tem qualquer semelhança com a justiça que usamos os homens. Quem merece ou não o amor de Deus? A quem é justo Deus amar? A quem é justo Deus chamar? Porque havia de chamar apenas os maus? E o mundo ficava a abarrotar dos bons até se tornarem maus?
É maravilhoso Deus amar, não porque se mereça, mas porque quer. É assim o amor no matrimónio também. Ama-se como a pessoa é, independentemente dos seus defeitos ou fraquezas. Ele ama porque ama. Não ama porque tenha de amar. Por isso a sua justiça é diferente da dos homens, que dão consoante o que o outro merece. Que julgam consoante méritos ou deméritos. Será que Deus não poderia ou deveria amar indistintamente? O nosso problema não será a inveja da justiça de Deus, porque não conseguimos amar como Ele? Porque é que só os bons deveriam viver? E porque havemos de fazer distinções numa hora tão bonita como é a entrega total a Deus da nossa vida? Um dia, num funeral duma amiguinha jovem, disse que Deus gosta de ter o seu vaso cheio das flores mais belas. Quando encontra uma quere-la o mais depressa possível. Deus é justo porque nos sabe amar a cada um como cada um precisa. Deus é justo porque na Sua balança pesa a pessoa e mais nada.

quinta-feira, abril 17, 2008

Nem Pai-Nosso nem Ave-maria

Lembro como os meus pais rezavam comigo quando ainda gostava mais da bola que de outra coisa. Lembro como a minha mãe me aconchegava os cobertores e me ajudava a dizer a Jesus que gostava muito Dele. Lembro que ia à missa com ela e, embora não percebesse bem o que por lá se passava, desejava ardentemente que chegasse o Domingo para irmos todos lá de casa à missa. Era uma festa. Lembro que o primeiro dia de catequese foi um grande feito. Já estava na catequese! Lembro que rezávamos o terço em família e até me gabava de o rezar ou de joelhos ou de braços em cruz. Apesar de poder parecer um excesso, eu sentia na altura que era um grande amigo de Jesus porque era capaz de me sacrificar com Ele na oração. Outros tempos. Outra forma de ser família. Outra forma de estar no berço da sociedade e da Igreja que é a família.
A João é catequista do primeiro ano. Tem dez miúdos na catequese. São muito queridos, dizia. Mas, senhor padre, não sabem nem uma oração. Nem Pai-nosso nem Ave-maria nem nada. Fico triste. Tenho passado muito tempo a ensinar-lhes a Ave-maria. Não aprendem. Insisti para pedirem aos pais que rezem com eles. Um miúdo respondeu-me que o pai não tinha tempo. Que quando ia para a cama, estava muito cansado e tinha que levantar-se cedo. Na missa procuro-os e não os encontro. Que hei-de fazer, senhor padre?
Não soube responder. Competia aos pais responderem. Encolhi os ombros. Consegui apenas dizer que não desistisse e que mostrasse como Jesus gostava deles e gostaria que eles conversassem ou brincassem com Ele como falam ou brincam com os amigos.

quarta-feira, abril 09, 2008

a senhora vai à missa

Doente, a senhora Ascensão, não pode caminhar por seus pés. Estes não ajudam a transportar o peso da vida, da idade, da doença, das dores. Antes era capaz de fazer quilómetros para se encontrar com o Senhor na Eucaristia. Em muitos anos não me lembro de faltar à missa de Domingo, senhor padre. Mas agora só vou quando a minha filha me leva de carro. Ela mora longe. Não vai sempre. Não me visita sempre. Não pode sempre. E aqui, como é uma anexa, passam-se várias semanas sem missa. Sabe, já não há padres que cheguem para as encomendas. A paróquia fica a três quilómetros. Não consigo. As pernas não ajudam, as malvadas. Sorria e olhava para elas. Inchadas. Rosadas. Mas olhe que eu vejo a missa na televisão. Interrompi-a para dizer que fazia bem. O importante era o coração que estava disponível para celebrar o dia do Senhor. Que às vezes se podia ir à missa sem celebrar a Eucaristia e sem celebrar o dia do Senhor. Interrompeu-me ela o raciocínio para acrescentar. Mas olhe que faço tudo como se lá estivesse. Levanto-me e sento-me. Ajoelho-me. Respondo. Será que faço bem?
E nesse momento lembrei aqueloutras que me contavam que viam a missa enquanto cozinhavam ou arrumavam a casa. E pensei: faz bem melhor que aqueles que ouvem a missa enquanto fazem outras coisas. Por isso repeti com mais força. O importante é o coração disponível para celebrar o dia do Senhor. A Ascensão celebra com mais verdade que muitos que vão à missa. Saiba que nesta dor de sofrer e de não poder ir à missa, a senhora vai à missa.

sexta-feira, abril 04, 2008

penso que sinto hoje aquilo que é ser padre

Deus fez tudo o que somos. Por isso fez o que sinto neste momento e agradeço-lho, embora Lhe peça um sinal. É que hoje penso que sinto o que é verdadeiramente ser padre. Ou pelo menos o padre que Deus me pediu para ser e as capacidades que me dotou para o ser. Hoje entendo que ser padre nem sequer é ouvir as pessoas. Hoje entendo que a Igreja de Deus nem sequer é a igreja das celebrações. Elas são a fonte para a nossa vida. No entanto a Igreja de Deus é a Igreja da vida, a Igreja da vida dos homens, a igreja dos homens. Ser padre é estar com a vida e com os homens. É estar com eles nos seus problemas e aflições. É estar disponível para as suas vidas e vivências. É ser com eles. É deixar de sermos apenas o homem que Deus quis que fôssemos para sermos o padre que Deus quis fazer para os outros. Hoje penso que sinto o que é aquela entrega total de que tanto se falava no Seminário. Não é dizermos a Deus Sou todo teu. Mas viver dentro de si os homens que Deus te entregou, quase deixando de te sentires a ti para sentires os que Deus ama, ou o Deus que os outros têm dentro de si ou que precisam ter dentro de si. Hoje penso que sinto o que é a minha missão sacerdotal, a tal missão do sacrifício, porque tenho de suportar o peso dos outros nos ombros. Até parece que percebo melhor porque Te entregaste na cruz, porque carregaste com o peso do madeiro. É um peso tão grande! Não é meu, mas levo-o nos ombros. Têm sido tantos os pesos que me têm procurado ultimamente. Sinto-lhes cada quilo. Quilos que precisam do padre e do Deus que o padre lhes transmite. Queria sentir outras coisas. Insisto em querer senti-las. Mas é isso que sinto. E por isso penso que sinto hoje aquilo que é ser padre. Mas, ó meu Deus, podias confirmar-me se é mesmo isto o ser padre? Podias confirmar-me se o que penso que sinto é mesmo o que sinto?

segunda-feira, março 31, 2008

Aproxima-se o fim

Mais um funeral. Sim. Fiz tudo para que a cerimónia não parecesse um findar de algo, que é sempre triste, mas o princípio de algo belo e bom, a passagem para a vida eterna. Estas coisas, apesar de as entender à luz da fé, custam sempre. Sobretudo depois que faleceu a minha mãe. Parecia que o mundo desabava em cima de mim. Só existia eu e ela. Juntos olhávamos o mundo pedindo explicações. E foi ela que me esclareceu, indicando-me com sinais, ainda em vida, de que estava bem junto de Deus. Tinha cumprido a sua missão na terra e agora, porque Deus se agradara dela, estava como uma rosa num dos Seus canteiros preferidos.
Mas repito que custa. Desorganiza os projectos que vou fazendo para cada dia. Traz a imagem de quem sofre. Traz hipocrisias. Mas custa mais ainda estarmos com alguém que sente o final da sua vida aproximar-se. E isso aconteceu hoje.
Depois do funeral, como estava perto, como tinha algum tempo, como senti vontade, fui visitar dois anjitos, como lhes chamo, cada um com mais de 90 anos. Dois anjitos que ficam em sua casa todos os minutos que lhes restam à espera de uma palavra, de um sorriso, de uma visita, de algum calor jovem que bata à porta. Conversámos muito.
Rimos, falámos do passado. Eu falei do presente. E quando chegou a hora de falar do futuro, o rosto de um dos anjitos soltou uma lágrima. Depois várias. Depois muitas. Apetecia fugir dali. Fiquei parado. Contei umas chalaças, expressei que não gostava de ver um rosto tão lindo a desfigurar-se com lágrimas. Sorriu, mas continuou a proferir lágrimas para explicar: Está a aproximar-se o fim! Perguntei-lhe se tinha medo. Disse que não. Mas doía-lhe tudo. Uma perna, a doença, a vida. Estava cansado de viver. Percebi que havia algum medo. Fiquei também com medo. Não o medo de acabar a minha vida. Mas o de não conseguir dar alento àquela. E ainda há quem diga que custa mais quando eles “partem” novos. Compreendem melhor a partida dos mais velhos. Nunca entendi porque se diz isso. Como se fosse normal que só morressem os velhos ou os abandonados, ou os que dão problemas, ou os maus. Não é normal ajuizarmos assim. Isso é que não é normal. O melhor é aceitarmos a lógica da vida tal como ela se apresenta, sem grande lógica. A mim resta-me explorar a minha fé para encontrar respostas, para não ter medo. E acreditem que não é lamechice. É essa que aguenta e responde a tudo aquilo que vai custando muito na minha vida. Acredito.

sexta-feira, março 21, 2008

A nossa quadragésima.com

Sem mais delongas, aqui fica a compilação final de todos os testemunhos, pensamentos e sentimentos daqueles que participaram na quadragésima.com
Aproveito para desejar a todos uma Santa Páscoa. Eu acredito na Ressurreição. Ela é o sentido que dá sentido à minha vida e dá vazão ao Amor de Deus.



0. “Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas.” Jo 10, 11 - Confessionário dum padre

Frente Espírito Santo

1. ''De maneira semelhante é que o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza, pois não sabemos o que devemos pedir em nossas orações, mas é o próprio Espírito que intercede por nós com gemidos inefáveis''. Rom. 8,26 – Partilhas em Fa menor

2 - «Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Jo 14,25-26 - Que é a Verdade ?

3 - «E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá. Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem.» - Lc.11, 9-13 - A Capela

4- "De facto, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, excepto no pecado." - Hb. 4, 15 - A Partilha

5- «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir. Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: 'Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer'.» (Jo.16,12-15) - Mafaoli

6- «Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai» [Mateus 6, 6] - ProCatequista

7- "Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros." (Jo 13, 34-35) - Deus em Tudo e Sempre

8 - "Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.”(Mc 10, 43-45) - Sede de Deus

9 - "Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem Mim, nada podeis fazer." (Jo 15,4-5) - Silêncio para Deus

10 - "E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem..." Lucas 23,34 - Pinguim Alegre

11 - “Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor.” (1ª Carta aos Coríntios 13.) - Ess'agora

12 - “Fui crucificado com Cristo. Por isso, já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 19-20) - O Sobrinho

13 - «Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.»(Jo.14,15-17) - Libelinha

14 - "Confia ao Senhor o teu destino, confia nele e Ele há-de ajudar-te" (Sl 37, 5) - [Cátia] - O Amor de Deus

15 - "marta, marta, te agobias y te preocupas por muchas cosas cuando solo una es importante", en lucas - Amor [Espanha]

16 - "Así que, todas las cosas que queráis que los hombres hagan con vosotros, así también haced vosotros con ellos; porque esto es la ley y los profetas." (Mt 7:12) - Ferípula [Argentina]

17 - ¿Como vivo mi cuaresma? Tal como lo propone hoy la segunda lectura de la Misa: Levantándome de la muerte, y dejando que la luz de Cristo me ilumine. - Cristian [Chile]

18 - "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus." (Mt 5,3) - No Cimo da Montanha

19 - Ruah... Ruah... Divina Brisa Fecunda... transbordante de Vida... invade o nosso Coração inteiro, contagia-nos da tua Beleza e Vitalidade, e ensina-nos a saborear com a Tua Sabedoria esta vida, descobrindo nela o essencial, o que verdadeiramente importa para a nossa Caminhada para a Festa eterna conTigo... nessa permanente Feliz Dança com o Abba e no Ben-Abba. - anawîm yeshuah

20 – És, Papá, tudo o que sou, mas principalmente tudo aquilo que sei que posso ser. Dás-me uma força estranha, uma força que não conhecia em mim e que me faz lutar com uma confiança total pelo Teu Reino. Contigo, tenho a certeza que “o Amor jamais passará” (1 Cor. 13, 8) e que EU posso fazer por isso! - Mesmo Muito Nice

21 - Papá és GRANDE... E por mais coisas que eu diga de ti...será sempre tão vazio daquilo que tu realmente és... És quem me faz VERDADEIRAMENTE FELIZ... És quem me preenche VERDADEIRAMENTE... És quem me torna VERDADEIRAMENTE AMOR...TU ÉS... Tu és VERDADE... Tu és AMOR... Tu és o VERDADEIRO AMOR...aquele que nunca nos deixa a perder...(e muito mais poderia eu dizer porque tu és tão GRANDE...!!!) - Nau dos Descobrimentos

22 - Abba, meu BOM Abba... meu Colo, que desde sempre e para sempre estás comigo...Yeshuah, rosto do Abba, Caminho de Vida que abriste pela tua Fidelidade a porta de Casa... Ruah... Brisa Amante da Comunhão, eterno sussurro de Amor que irrompes numa paz explosiva cheia de sabedoria e me segredas "tens que Nascer de Novo"... És BOM, GRANDE e FIEL, meu Deus...ÉS AMOR ... Minha FORÇA, Confio em ti... - Sol da Manhã

23 - Um Pai que me ama de tal modo que me perdoa muito antes de sequer pensar em pecar: « Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos...» (Lc 15, 22-23). Um Irmão que me impele a segui-Lo, que me mostra o Caminho e que me relembra constantemente: « hoje mesmo estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43). E a Ruah, o Espírito dador de Vida, fonte inesgotável que me convida constantemente a Viver do mesmo jeito que esta Família de Amor respondendo e experimentando: «Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não.» (Mt 5, 37), e é por gostar deste amor terno e sempre fiel, por o querer viver do mesmo jeito que Ele, que procuro responder todos os dias ao Seu convite: «Vem e Segue-me.» (por exemplo em Mt 19, 21). - Um Local de Conversa

24 - Deus é Amor, que se experimenta em comunidade, por isso: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome Eu estarei no meio deles". (Mt. 18, 20). - Crescer e Ser ACR em Coimbra

25 - "Felizes os que acreditaram sem terem visto." (Jo 20, 29) - ACR Leiria-Fátima

Frente Jesus

1 - "Pedro aproximou-se do Senhor e perguntou-lhe:«Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?»Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.»" (Mateus 18, 21-22) - Lisa's Mau Feitio

2 - "O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo vocês." (João 15:12) - Instantes da Vida

3 - "Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus." (das Bem Aventuranças) - Sophiamar

4 - "Ninguém percorre a vida sozinho. Só precisa não andar distraído". - Por entre Montes e vales

5 - "Deixai as criancinhas e não as impeçais de vir a Mim, pois delas é o Reino dos Céus" (Mt 18, 3;) - Sexta-Feira

6 - “Bem Aventurados os puros de coração porque verão a Deus” - Aramis-Cavalgada

7 - “Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á.” (Mt 7,7) - São Martinho do Porto

8 - "E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles." (Mateus 6.28 e 29) Que Conversa

Frente Deus Pai

1 - " Levanto os olhos para os montes: De onde me virá o auxílio? O meu auxílio vem-me do Senhor que fez o céu e a terra" (Salmo 121,1.2) - Eu estou aki

2 - “O Senhor é meu pastor, nada me falta” (Sl 23,1) - Jovens e Missão

3 - "Eu, tu - Juntos" - Ser Ajuda

4 - "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer." (João 15:15) - Jovens em Movimento

5 - 1 João 2,14 - jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno. - EAJovEM


Frente Maria

1 - “O Senhor é meu pastor nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma. Ele me guia por sendas direitas por amor de seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vos estais comigo, o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança. Para mim preparais a mesa à vista dos meus adversários; com óleo me perfumais a cabeça e meu cálice transborda. A bondade e a graça hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para sempre.” Salmo 22 (23) – MJG

2 - "O que fizerdes ao mais pequeno de entre vós, é a Mim que o fazeis." – elisheba

3 - Amigo do meu coração............perdoa-me todas as vezes que por aqui passei e não entrei........mas hoje tinha que parar e entrar...(ai os estudos dão cabo de mim)...então deixo-te a minha frase :"É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros" (jo 15,17) – mariana

4- “Felizes os que escutam a Palavra de Deus e a põem em Prática! “Lc11, 28 - Maria

5- “Nada te perturbeNada te espanteSó Deus basta!”- Paula

6- "Que o Senhor volte para nós o seu rosto e nos conceda a Paz!" - Carlos

7- 'A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão. Pois não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. - I Timóteo 2:11-13; "Mulheres, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor" - Colossenses 3:18; O marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja. Do mesmo modo que a igreja é submissa a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo aos maridos. - Efésios 5:22-24; Os escravos devem estar submissos em tudo aos senhores. Que lhes sejam agradáveis, não os contradigam, não roubem. - Tito 2:9-10; "Se alguém ferir seu escravo ou sua escrava com um bastão e morrer sob suas mãos, seja punido severamente, mas se sobreviver um ou dois dias, não seja punido, porque é seu dinheiro" - Êxodo 21:20-21 - O Império

8- "Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós. Damos conta de que permanecemos n'Ele e Ele em nós, por nos ter feito participar do seu Espírito. Nós amamos porque Ele nos amou primeiro." 1 Jo 4, 12-13.19 - @lberto
9- “… Sou Eu, não temais…” Jo 6, 20 - Isabel Cruz

10- "Eu vim para que tenham vida, e vida em abundancia" Jo 10, 10 – Carla

11- "Deus está nos detalhes..." - Rute

12- Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim ainda que esteja morto viverá"(Jo 11,25); "Eu sou o Pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o pão que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo"(Jo 6,51); "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" – Filo

13- "Eu sou a Ressurreição e a vida; quem acredita em Mim, não morrerá jamais. (Jo.11, 25-26) – Lena

14- “Vinde a Mim todos os que estais cansados eu Eu vos aliviarei.” (Mt.11, 28)MJG aguenta firme! Muita Força! Temos saudades! Boa sorte para amanhã! – Kikas

15- "... estai certos que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos."Mt 28:20 - Kephas

16- “Mais poderoso do que o estrondo das águas impetuosas, mais poderoso do que as ondas do mar é o SENHOR nas alturas.” Salmo 93 - Joana

17- “Que darei ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?” Salmo 116 – Ana

18- Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás-de voltar. Gen 3,19 - sofia Jawien

19- «Tenho sede»(Jo 19,28)«...Só quem bebe da fonte do silêncio ganha essa sede.É uma sede do desejo e da entrega completa nas mãos do Pai...»Pe.Tolentino Mendonça - mafalda

20- Jesus Cristo é a resposta aos nossos anseios. Ele veio para que tenhamos vida e vida em abundância… - Marília

21- " AMOU-NOS ATÉ O FIM "(joão 13,1)-

22- "Felizes os pobres em espiríto, porque deles é o Reino do Céu. Felizes os que choram, porque serão consolados..." (Mt.5,3-4) – Fernando

23- “…O filho disse-lhe: Pai pequei contra o Céu e contra ti, já não mereço ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a mais bela túnica e vesti-lha; ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e encontrou-se…” “…O pai respondeu-lhe: "Filho, tu sempre estás comigo e tudo o que é me é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu: estava perdido e encontrou-se". (Lc 15,20-24; 31-32) – Manuela

24- Não procuremos coroas nem bandeiras, mas caminhemos com um sorriso nos lábios mesmo na dor.Telma

25- "Como suspira o veado pela torrente das águas, assim minha alma suspira por Vós, Senhor, assim minha alma suspira por Vós, Senhor!" - ana maria

quarta-feira, março 19, 2008

sondagem_ “Como vives a Quaresma?”

Passado que vai quase um mês da última sondagem e 311 votos, chegou a hora de avaliar a sondagem que estava no lado direito, no sidebar. A questão era:
“Como vives a Quaresma?”

E os resultados são:
1. Busco razões de viver _38%
2. Medito o mistério _27%
3.
Não vivo _23%
4.
Rezo mais _3%
5. Faço retiros _ 3%
6. Faço sacrifícios _2%
7.
Não como carne à sexta-feira _2%
8.
Jejuo _1%
9. Desobrigo-me _1%
10.
Dou esmolas
_0%
__________________________________
pequenas considerações:
1. As duas respostas que mais gostaria de dar obtiveram os dois primeiros lugares, bem destacados das restantes, com uma pequena excepção. Isso indica que muitos dos que me visitam procuram viver este período da Quaresma com verdade e como uma preparação autêntica da grande festa dos cristãos que é a Páscoa: buscando RAZÕES DE VIVER e meditando o MISTÉRIO principal da nossa fé.

2. Fiquei preocupado, embora não desiludido, porque de alguma forma já antevia um lugar cimeiro para esta terceira opção, “NÃO VIVO”. Agrada-me a verdade com que estas pessoas responderam. Eu também sinto que a maioria dos cristãos não vivem este período como especial. Quando muito, há-os que se preocupam em viver uma certa exterioridade ou tradicional forma de a viver. Os tempos fortes dos ditos católicos hoje em Portugal, sejam ou não praticantes, são os dias de Natal, Santos, Ramos e Páscoa. É ver as igrejas cheias nestes dias em contraste com os restantes dias ou períodos do ano.

3. As restantes opções escolhidas denotam, a meu ver, o desejo de muitos dos meus visitantes em não serem superficiais:
- Embora rezar deva ser uma vivência diária e habitual, REZAR MAIS nesta altura, podemos afirmá-lo, é uma forma de preparar a Festa do encontro de Deus com os homens, porque os diálogos nos aproximam uns dos outros.
- Fazer SACRIFÍCIOS é bom. Mas com que objectivos? Para manifestarmos em nós a paixão do Senhor? Para sermos austeros? Ou para chegar melhor ao fundo de nós e dos outros?
- NÃO COMER CARNE À SEXTA-FEIRA é um pequeno erro de embrulho. Embora as pessoas insistam neste pormenor, comer um peixe caro é mais pecado e menos adequado. Costumo dizer que em vez de comida requintada devemos comê-la requentada.
- JEJUAR só é bom se for feito como forma de poder partilhar com os outros e de nos obrigar a repensar e distinguir o essencial do acessório.
- A “DESOBRIGA” ou “desarrisca”, como aprendi há dias que se chamava antigamente às confissões quaresmais, entendida como uma forma de poder comungar na Páscoa ou de pelo menos uma vez me abeirar do sacramento, é demasiado redutor para o próprio sacramento. Eu prefiro pensar na Confissão como um sacramento que me aproxima de Deus quando me afasto Dele. Se existe de um modo especial neste período é para que na Páscoa estejamos em paz com Ele. Mas pensar nela como um despejar do saco para se comungar pelo menos uma vez por ano, é continuar na superficialidade do acto.
- Tenho pena que a última opção tenha sido a do DAR ESMOLAS. Só isso: tenho pena. Além do mais, ninguém a escolheu.

Hoje surge nova sondagem. Também podes expressar como gostarias que fossem e podes apontar outras opções. Aliás, as opções propostas não se excluem necessariamente. O objectivo é tentar fazer uma descrição tanto quanto possível real de todas as características da maioria dos católicos em Portugal hoje.
Como classificas os católicos hoje em Portugal?

sexta-feira, março 14, 2008

Os Paulitos de hoje

O Paulito tem 11 anos. É brincalhão e extrovertido quanto baste. Tem bons pais. Não faltam à missa. Levam os filhos consigo. Coisas que rareiam cada vez mais. Famílias que rareiam. Descobri há dias que para grande parte das crianças, mesmo as que frequentam a catequese, daquelas que andam entre os 7 e os 10 anos, faltar à missa não é pecado. Vão quando vão. Vão quando os pais levam. Vão quando a avó leva. Nunca vão sozinhas. Por isso não têm que decidir. Se não decidem, não têm que distinguir se é importante ir ou não. Não são responsáveis. Porque os pais também não vão, embora as mandem à catequese. E têm alguma razão, ainda que pequena, em não sentir como seu o pecado. De alguém com capacidade de decidir será.
Mas o Paulito não falta. Porque os pais não faltam. E é reguila o Paulo. Está sempre disposto a brincar. Qualquer pessoa na terra opina que ele não é envergonhado. Que é despachado.
Há dias a mãe pediu-lhe que fosse confessar-se. E em resposta, ouviu uma enxurrada de argumentos. Para quê, mãe? É sempre a mesma coisa. Não me sinto à vontade. Vês lá os meus colegas? E que as pessoas olhavam. Que nem tinha pecados, pelos menos os grandes.
Quando a mãe ouviu dizer que não tinha pecados, insistiu com outra ideia, e foi dizendo que se não tinha pecados, devia comungar. Porque não o fazia? É que a comunhão era a partilha de Deus connosco. E que era um benefício comungar. E sobretudo que ela gostava muito de o ver comungar. É boa senhora. É de Deus. E não se impõe. Muito menos a fé. Mas incita o filho. Os filhos. Os que ama.
E o filho respondeu: Quantos da minha idade vês ir comungar, mãe? Eu envergonho-me de ir pelo corredor da Igreja fora e toda a gente a olhar para mim.

Não é moderno comungar ou ir à missa. Não está na moda. É como aquelas calças de marca que se não uso não sou ninguém. Não posso deixar de ser como os outros são, porque eles são a sociedade e a lei. Porque o mais importante é o que parece e não o que é. Porque Deus me faz envergonhar. Porque ser cristão hoje é um bocado chato. Porque na minha idade não é normal. Isso é dos velhos. Deus é para os velhos e acabados, ou a acabar. Porque hei-de ser diferente se isso até me faz envergonhar?

quinta-feira, março 06, 2008

Trunfo é copas

Já tem muita idade este padre. Embora alguns teimem em não querer, os padres também envelhecem. Por isso os temos em funções com idade já de estar encostado às boxes. Um dois cavalos numa auto-estrada onde não ultrapassa os setenta, faz zigue-zague e complica a condução dos mais atrevidos, sobretudo os que gostam de fugir à bófia a mais de cento e sessenta. Peço umas tantas vezes a Deus que me livre de teimar em não querer. Mas como estou consciente de pensar igual em idade igual, já vou adiantando que me livre ao menos de chegar a essa idade.
Já tem muito jogo em cima este padre. Muitas horas de sueca. É um jogador nato. Passa os minutos sentado no café a jogar às cartas. Lá tem os comparsas da coisa. Se o querem ver na terra é na mesa do jogo. É lá o escritório deste amigo. Pelo menos não está a maior parte do tempo sozinho, está disponível, bem à mão de encontrar, e ninguém precisa de inventar coisas porque ele está constantemente à vista de toda a gente.
Porém, de tanto jogo, de tantas minutos e horas e dias é natural que aquilo esteja na cabeça e não saia. E também é natural uma pessoa de idade avançada adoecer com facilidade, ou pelo menos com mais facilidade. Vai daí que o padre adoece. Mas como expliquei atrás e como é natural, não desarmou. Pelo menos a missinha tinha de celebrar. Cansado, doente, com febre, faz a consagração. Segura entre dois dedos a sagrada hóstia, assim como quem pega numa carta, eleva-a, assim como quem vai jogar a última cartada, e depois solta-se porque afinal ali se concentra tudo, ali se joga a vida, e em vez de proclamar Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, deixa a cabeça traí-lo ou atraí-lo. Trunfo é copas.

segunda-feira, março 03, 2008

O fenómeno: confesso 4

A nossa calçada tem uns paralelos fora de lugar. A água da chuva conduziu-os a outros caminhos. Há buracos nesta calçada. Por isso os salto. Por isso os evito. Mas hoje ia tropeçando num. Ia para casa, depois de uma conversa demorada com um colega. A conversa foi demorada, mas não foi longa. Entusiasmamo-nos ao ponto de falarmos a interromper-nos constantemente. Eu assim. Eu fazia. Eu cozido. Eu assado. Já viste isto. E o outro? Aquele de além. Falávamos de padres. Falávamos também de confissões. Falávamos de alguns padres que fazem umas confissões que são fenómenos. Muita gente ali vai. Às vezes romarias. Não gosto dessas confissões colectivas. Ou absolvições. Faço de conta que não me confundem. Mas intrigam-me, a não ser em casos raros de excepção. Romarias de grandes festas. Situações de grandes ajuntamentos e com uma grande Celebração Penitencial. Perigo de morte colectiva. Embora pense sempre que não é a confissão em si que salva, mas o arrependimento de quem se aproxima de Deus e do Seu perdão. Ela tem valor sacramental. Mas não é magia. Eu acho que a pessoa verdadeiramente arrependida precisa de se confrontar. Nunca ouvimos dizer que era no confronto com o tu que o eu crescia? Eu ouvi isso em psicologia. E a pessoa deve assumir. Custa pouco assumir relaxadamente perante um deus que não se pressente. Basta um desejo e já está. É mais frutuoso o assumir perante alguém, outra pessoa, que, inclusive, nos possa ajudar a levantar, a descobrir portas, estradas. E que o faça a mim. Em concreto. Pessoalmente. Não em massa.
Porém, há quem facilite. Porque é mais fácil. E há quem facilite porque lhe dá jeito ir confessar estes seus grandes pecados sem que os tenha de dizer a quem quer que seja, nem que seja um instrumento de Deus. Há quem percorra quilómetros para se confessar numa absolvição colectiva porque assim é mais fácil.
Pior era o outro padre que celebrava a eucaristia. No meio, após as leituras, fazia uma celebração penitencial. Obrigava todos s fazer o acto de contrição. E depois pedia aos padres que fossem pelo meio da assembleia para absolver os que quisessem. Só absolver. Nem era preciso ouvir. Quase como se apenas os que tivessem grandes pecados o devessem fazer.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Os homens: confesso 3

Calquei de novo a calçada a meio da manhã de ontem. Percorre-se a calçada como se percorre a vida. Umas vezes vamos lá para baixo de vila. Outras para cimo de vila. A vida também se percorre assim. Umas vezes caímos. Levantamos. Corremos. Pé ante pé. Arrastamo-nos. È assim a vida. Altos e baixos. Por isso é bom termos ao nosso lado quem nos ajude a levantar e a procurar que o caminho se faça.
Calquei a calçada, desta vez para o meu café a meio da manhã. Entrei como de hábito. A sorrir para o pessoal. Uns já levados do álcool. Outros desempregados. Outros transeuntes como eu. Ó ti António, viro-me para ele. Amanhã é dia de confissão. Não se esqueça de aparecer. Sorrio. Ele também. Já temos este à vontade. Pois, pois, padre. Para que hei-de eu lá ir, se não vou deixar de dizer carvalhadas. Isto são as vulgarmente conhecidas asneiras. Mas ele diz assim e eu escrevo.
Tomo o café a sorrir. Implico com ele a sorrir. Vou para a calçada calcar os paralelos a sorrir por fora e a pensar por dentro.
Porque é que não se confessam estes homens?
A maioria, como o ti António, depois de umas asneiritas, das tais carvalhadas, custa-lhes abeirar-se da confissão. E julgam que não devem porque, logo ao sair do confessionário, já estão naquela porrada de palavras. Não são muito grandes. Mas são muitas. Não percebem que não são propriamente pecado, a não ser que sejam ditas para magoar alguém. São uma falta de respeito, uma falta de educação. Mas quase sempre saem da boca descomandada sem que o coração lhes dê o sentido verdadeiro delas. Imaginem o que seria no norte do país, onde dizer asneiras é um hábito normalíssimo em todos. Até nos padres!
Cá para mim não se confessam porque sempre foi um hábito apenas das mulheres. Ou por um machismo que não assume a sua necessidade. Ou então será uma Igreja feminista a que temos. Ou então nós, padres, ainda não lhes chegámos ao coração, pois que é pelo coração que nos confessamos. Ou então não querem perder tempo a não ser no café. Ou então não sei.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

sondagem_ “Para ti qual foi o maior acontecimento religioso em Portugal no ano 2007?”

Passados que vão 44 dias da última sondagem e 263 votos, chegou a hora de avaliar a sondagem que estava no lado direito, no sidebar. A questão era:
“Para ti qual foi o maior acontecimento religioso em Portugal no ano 2007?”

E os resultados são:
1. Campanha pela Vida _24%
2.
Projecto GPS _21%
3. 90 anos Apar. Fátima _17%
4.
Festival JOTA _11%
5. Visita Ad Limina _ 10%
6.
Igreja da S. Trindade _9%
7.
Novos Catecismos _6%
8.
100 anos do CNE _2%
_________________________________
pequenas considerações:
1. Desta vez não queria fazer muitas considerações, quer para não cair num erro de parcialidade, quer porque todos os acontecimentos de Deus ou em nome de Deus são bons. E mesmo que em qualidade ou quantidade esses acontecimentos variem, a verdade é que Deus os deve amar como amava e ama qualquer pessoa sem distinção, sem exclusão. A única preferência que teve foi a dos mais fracos ou desprotegidos. Logo não teria sentido fazer alusões de mais valias ou menos valias dos acontecimentos. Desejava eu que todos eles tivessem sido marcantes e fossem referência para os portugueses, cristãos ou não. Por isso, este tipo de considerações ficam com cada um.

2. Faço apenas alguns votos: que as campanhas pela vida continuem, nunca acabem mesmo que tenham de remar contra todas as marés; que os projectos de formação e de crescimento na fé, sobretudo para os jovens, cresçam e aumentem; que as aparições em Fátima possam ser um caminho para muitos se aproximarem de Deus; que os festivais de verão que fazem a diferença e promovem a música e a evangelização deixem de ser um oásis e possam ser continuados como sinal de “nova evangelização”; que os bispos assumam de vez a fé de Cristo e em Cristo; Que novos templos nasçam para serem lugar de encontro e de comunhão, lugar para reunir em amor; que os novos catecismos nunca deixem de ser novos ou de se renovarem, porque bem precisamos que eles se renovem; que os movimentos sejam uma presença contínua na vida da Igreja… que Deus se manifeste através de muitos ou de todos os acontecimentos.

Hoje surge nova sondagem. Também podes e deves explicar os motivos da tua escolha ou acrescentar outras actividades ou atitudes. A propósito do período que vivemos, pode tornar-se interessante a pergunta:
Como vives a Quaresma?

terça-feira, fevereiro 19, 2008

O escuro: confesso 2

Hoje não trago botas, mas calco a mesma calçada de sempre. E o meu pensar, que está na calçada, lembra-me o pensar do outro dia. Se fosses uma pessoa, de certeza, não gostarias que te pisassem. Por isso piso devagar. Para que nem eu sinta. Não vou com pressa. Vou até à Igreja estar com Ele um pouquinho.
Entro. Está escuro. Os olhos concentram-se na única luz. A do Santíssimo. Percebem-se, com o tempo, as imagens dos santos, o altar, a cruz, uma pessoa. Acocorada no último banco, escondida. Não faz ruído. Para eu não dar conta. Faço de conta que não dei. Ajoelho-me e rezo um pouco.
Hoje é dia de confissões quaresmais. Peço forças a Deus. Apesar de ser das coisas mais belas que um padre tem na vida, a graça do perdão de Deus passar através de nós, cansa um pouco, desgasta. Sobretudo se exigir respostas, ajudas, palavras de Deus amigas, acolhedoras e cheias de esperança.
Mas não consigo desviar o pensamento do vulto escondido. Pressuponho que está de mal com alguma coisa. Apetece-me correr para lá. Para abrir a misericórdia de Deus. Mas não devo entrar na intimidade das pessoas sem ser convidado. Não se pode abrir uma porta à força. Isso é arrombar. Espero. E na esperança de ser convidado a entrar, os pensamentos voam. Da confissão para o escuro. Do escuro para a confissão.
Penso como gostaria de acender a luz, sentar-me ao pé daquela pessoa, que nem sei se é homem ou mulher. Ouvir. Estender o braço da absolvição. Sorrir. Explicar como é bonito olhar com esperança o que nos corre mal.
Confesso que sou completamente a favor das confissões como um espaço que, além de permitir o perdão dos pecados, possa ser um encontro com o outro, com o próprio Deus numa pessoa concreta. Na pessoa do sacerdote. Por isso sou a favor de que a confissão se faça de cara levantada, de rosto no rosto. Um espaço em que se compreendam os gestos que se fazem, o que significam e o que precisa a pessoa de ouvir. Sou a favor das confissões sem barreiras e buraquinhos. Sou a favor de que a pessoa confessada e a que confessa possam dialogar deveras. Porque o perdão é concreto e não abstracto. Trata-se de um perdão para ti e não apenas para alguém.
Apetecia-me falar com ela, cara a cara. Mas de repente lembrei-me do que me aconteceu há dias, numa daquelas vezes em que andamos de um lado para outro ajudando os colegas nas confissões. O pároco x, da paróquia x, mandou-me para um confessionário antigo, ao fundo da Igreja, bem talhado e trabalhado, um pouco escuro, com aberturas pequeninas do lado esquerdo e do direito, conforme nos sentamos. As luzes de fora também permaneciam apagadas. As pessoas aproximavam-se ora por um lado ora por outro. Dava conta pelo abafar da pouca luz que surgia dum lado. Não se via a pessoa. Pressentia-se. E foi nessa ocasião em que senti as confissões mais me pesarem nos ombros. Quase todas elas de pecados chamados grandes. O perdão de Deus foi enorme.
Por isso não esqueço que a confissão é acima de tudo o sacramento do perdão. Para perdoar. Para se sentir o perdão de Deus.
E agora, ao ver aquele vulto, fico confusamente à espera que Deus me dê a resposta. Porque as pessoas gostam do escuro quando precisam a toda a força estar conTigo?

domingo, fevereiro 17, 2008

quadragésima.com

FRENTE DE MARIA

Depois de alguns amigos que não possuem blogue manifestarem o desejo de participar nesta caminhada quaresmal chamada quadragégima.com, decidi criar uma nova frente, a "frente de Maria". Os que desejarem, poderão colocar aqui a frase que define a sua relação com Deus.
Além das regras já apontadas e que têm sentido nesta frente, deverão ter em atenção que:

regra 9: não serão aceites "anónimos"
_________________________________
n.b. nos 2 últimos dias serão aceites aqui frases de bloggers que não tenham recebido alguma "frente" e que o desejarem fazer

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

a vergonha: confesso 1

A calçada deixava-se calcar pelas minhas botas. Não se queixava. Bom sinal, pensava eu. Se fosses uma pessoa, de certeza, não gostarias que te pisassem. O meu pensar obrigava-me a olhar as pedras da calçada. O vento ajudava. Apesar do sol, obrigava a abrigar-me da sua fúria com os olhos no chão. Hora do almoço. Por isso o compasso e o pensar eram apressados e pouco sentidos.
Ela estendia a roupa no alto de uma varanda. Ó prior, então quando são as confissões este ano? Olhei para cima. O sol só me deixava ver a silhueta das roupas a esvoaçar. Estou aqui, continuou e afastou umas ceroulas.
Respondi-lhe que era no dia tal. Que era depois da missa. Como facilita a concentração das pessoas e como não sou apenas e propriamente a favor da confissão para se comungar, pois que é para estarmos em graça e aí permanecermos no colo do Seu amor, optei por marcar as confissões quaresmais para depois de uma Eucaristia da semana. Também é cómodo. Mas tem resultado em termos práticos. Eucaristia. As pessoas já lá estão. Pequena Celebração Penitencial. Como já lá estão, não saem. Ficam. Confissões com música ambiente. Esperam em meditação e oração. Nós padres demoramos menos ou não estamos tanto tempo a confessar. Enfim, uma opção discutível.
Ó prior, e este ano não traz cá padres mais velhos? O costume, porque se torna mais fácil o diálogo, a combinação e as marcações, é trazer os colegas mais próximos. Da paróquia e do coração. Por isso relativamente novos. Mas porquê, pergunto eu? A confissão é que conta. E grito-o. Ela responde, depois de uns murmúrios para que eu não percebesse muito bem a resposta. É só um pouco de vergonha.
E assim fiquei a saber que os padres mais novos podem ou provocam vergonha a algumas ou alguns penitentes. Talvez por serem mais arejados. Por serem menos distantes. Por viverem com as pessoas. Por serem mais populares. Por serem mais atraentes. Por ouvirem melhor. Por terem melhor memória. Pelo que podem pensar diferente dos mais velhos. Ou apenas por serem novos.

domingo, fevereiro 10, 2008

O padre distraído

Isso acontece ao mais bem intencionado. Ao mais atento, desde que não seja picuinhas. Pelo menos, para mim, quero que sirva este argumento. E que Deus me perdoe.
Celebrava para umas cinco pessoas. Valha-nos ao menos isso que a quantidade não era muita. Mas a Missa tinha o mesmo valor. Pois, que ela é de valor infinito.
Prefácio. Sabem o que é? O senhor esteja convosco, ele está no meio de nós, corações ao alto, o nosso coração está em deus… e por aí fora. Escusado será recordar que o prefácio é exactamente antes da consagração. Por isso é pré-facio. Sabem também as palavras da bênção final da missa, não? O senhor esteja convosco, ele está no meio de nós, abençoe-vos deus todo-poderoso, pai, filho e espírito santo. Ide em paz e que o senhor vos acompanhe.
Façam de conta, agora, que são um dos cinco cristãos atentos. Estão atentos. Compenetrados. Imaginem o padre no altar tornando presente Jesus, o Seu corpo e Sangue. Solene. O mais solene possível para cinco pessoas. Recordo que estamos no prefácio. Eu estive apenas nas primeiras palavras. O Senhor esteja convosco. Ele está no meio de nós. E lá vamos nós para a bênção final. Abençoe-vos Deus todo-poderoso, pai, filho e… e sou interrompido por uma senhora castiça e mais atenta que eu: Olhem que já nos está a mandar embora!
Deus me abençoe, penso eu. Distraído. Distraído. Repetia-me a mim. Não serei o primeiro nem o último, pensava a seguir para me sossegar. Não queria, mas aconteceu. Recordo que foi difícil voltar à Eucaristia. Os olhos lacrimejavam de tanto rir. Mas bem feitas as contas mentais, quem me mandou distrair?! Por isso, quando voltei ao meu espaço, a casa, não consegui deixar de pensar nas vezes em que, por hábito ou por distracção, repetimos as palavras sem as utilizar deveras!

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

quadragésima.com

O tempo da Quaresma é um tempo de descoberta da nossa identidade como cristãos. É um tempo de encontro connosco próprios e com Deus. É um tempo especial de introspecção e reflexão. Porque não havemos de o fazer aqui, na net, e de uma forma mais comunitária, ajudando-nos uns aos outros?! Deste objectivo nasce esta proposta, a “quadragésima.com”.

Regras da quadragésima.com:
1-
Ao receber a “quadragésima.com” o blogger deve reflectir na sua relação com Deus e descobrir uma frase, bíblica ou não, que a defina;
2- Depois de o fazer deve re-escrever num post estas regras, as frases já assinaladas pelos anteriores bloggers (com o respectivo link), e escrever a sua;
3- No post deve incluir quem deseja convidar (pode e deve manifestá-lo no blog da pessoa convidada);
4. Não é permitido fazer mais que um convite ao mesmo tempo;
5- O blogger que, recebendo a “quadragésima.com”, não estiver interessado em aceitá-la, deve indicá-lo ao seu emissário para que este lhe dê seguimento através de outro blogger;
6- Não podem aceitar mais que uma vez a “quadragésima.com”; se o convite aparecer, mesmo vindo de outra “frente”, devem igualmente informar o emissário do segundo convite;
7- A “quadragésima.com” realiza-se em 3 frentes: frente “Deus-Pai”; frente “Jesus”; frente “Espírito Santo”; estas frentes funcionarão quase como equipas, para tentar chegar ao maior número de bloggers possível (não se trata de encontrar vencedores, mas empenhados)
8. A “quadragésima.com” será encerrada na Sexta-feira Santa, dia 21 de Março, pelas 12.00 horas, hora em que o último blogger receptor deve endereçá-la, já com a sua frase, a este endereço, para publicitarmos todas as frases que definem a nossa relação com Deus nesta Quaresma de 2008.
Obrigado por aceitares a quadragésima.com


E a minha frase é:
“Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas.” Jo 10, 11 - Confessionário dum padre

Convido para a frente “Deus Pai” a Elsa do “Eu estou Aki”
Convido para a frente “Jesus” a “Lisa’s Mau Feitio”
Convido para a frente “Espírito Santo” a Fá Menor, das “Partilhas em Fá Menor”

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Uma conversa de café de padres

A mesa bafejava a batinas e orações. Uma mesa de padres. Cheia. As conversas versavam Deus e outras coisas. Mais outras coisas que Deus, isto é, versavam as vidas de padres e os trabalhos dos padres. De vez em quando umas palavras para descontrair, que os padres também riem. Porém a maior parte eram mesmo sobre o que fazes, como fazes, porque fazes.
Eu ia mastigando as batatas e as conversas. Em tempos achava uma desgraça as conversas de café dos padres. Fala-se nos bispos e nos colegas, nas paróquias e nos paroquianos desavindos. Por isso achava uma seca que não se falasse da Vida em Deus. Hoje compreendo estas conversas de café dos padres. Cada um fala do que vive para desabafar. Deus não se desabafa. Vive-se. Por isso faço conversa, por entre as batatas, sobre a vida que faço também.
Estávamos uns quatro virados para uma conversa destas quando outra conversa me desviou a atenção. Tinha um pé numa e o outro na outra. Não se faz. Mas eu fiz.
Um perguntava Quantas missas celebras habitualmente ao Domingo? O outro respondia Cinco. O do lado direito intrometia-se na conversa porque achava que devia partilhar o seu feito. Eu celebro seis. Um ainda disse que no fim-de-semana chegava a sete, e um recordou o vizinho que celebrava ao Domingo as mesmas sete. Penso que falavam de grandes feitos, porque foi assim que me soou. Mas também podiam ser um desabafo.
Olhei-os de soslaio, reprovando a conversa. Ainda bem que ninguém me prestou atenção, porque também não tenho o direito de me achar dono da verdade, ou mais que os outros, por me esforçar em cumprir o Código de Direito Canónico, com as três missas, uma delas por excepção concedida pelo bispo. Raras vezes lá vai uma quarta, porque em casos excepcionais o bispo de Roma, dizem, concede quatro.
No entanto, à terceira já estou de rastos, porque celebrar não é fazer. Celebrar leva muito de nós e com muita intensidade. Ainda há dias um colega falava que aos Domingos à tarde não tem forças senão para se sentar no sofá.
Por isso fiquei a pensar se o mal era dos padres que não conseguiam fazer de forma diferente. Se era dos bispos que os nomeavam para tantas paróquias. Se era da falta de sacerdotes. Se era dos leigos que não queriam assumir a Celebração da Palavra ou exigiam a missinha. Se era minha por não fazer parte do grupo dos que celebram tantas missas.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

O suspeito

As pessoas vivem em permanente desconfiança. Fazem-no em relação a quase tudo e a quase todos.... humm... faz-me desconfiar. E claro que desconfio, pois no que se refere à Igreja sobe-se ao transcendente, isto é, a desconfiança passa dos limites do conhecido. Suspeita-se sempre da Igreja. O religioso é suspeito. Se afirmares que és cristão, tornas-te suspeito. Se afirmares que vais à missa, és já um suspeito perdido. Se contares que estás a pensar em ser padre tornas-te um suspeito a achincalhar. Se te ordenares padre, tornas-te um suspeito conhecido. Se te tornares pároco, tornas-te, aos olhos dos teus paroquianos, não só suspeito, como o suspeito. Tornas-te um dos suspeitos mais perdidos, conhecidos e a achincalhar. Tornas-te um dos alvos preferidos da suspeição dos teus paroquianos.
Acontece muito alguns garantirem ter visto isto e aquilo, esquecendo que a mente vê sobretudo o que nós queremos. No café ou na fábrica toda a gente viu ou sabe quem viu. Toda a gente garante que se viu.
A mim já me viram em diversas poses, perfis, silhuetas, posições. Inclusive me viram à mesma hora em que celebrava a Eucaristia a beber um café em determinado café. Já me viram muito bem acompanhado, convenhamos, ou em locais muito interessantes, ou a fazer coisas interessantíssimas. E já conseguiram juntar estas três. Encontraram-me num local que não conheço com uma pessoas da paróquia que, independente de ser gorda ou magra, alta ou baixa, não me diz nada em termos de beleza ou de simpatia, a fazer a mais recôndita das acções. E depois fala-se, em segredo, que o padre não pode saber que a gente sabe. Mas há sempre alguém que se descai. Faz parte da novela. Ou se descai porque é amigo e quer o bem. Ou se descai porque tem de ameaçar o padre. Ou se descai porque tanto segredo não cabe em tão pequena boca. Na primeira observação quase sempre me rio. Por isso quando me contam algo de outros colegas sacerdotes, nunca acredito. Às vezes também fico a pensar. Mas digo que não acredito. No entanto, quando penso nas pessoas que podem estar a sofrer à custa do padre, porque alguém tinha de ser visado para apimentar a novela, fico indignado. Já para não falar nas vezes em que somos insultados. Um dia chegaram a indicar-me o caminho do inferno. Que era lá o meu lugar.
Até entendo que o padre, como figura mais ou menos pública, seja motivo de conversa. Mas não entendo que as pessoas coloquem na boca, nos pensamentos e nas acções de um padre, aquilo que ocupa a maior parte das suas lucubrações e desejos. Das suas, que se refere a elas, óbvio.
Não há morangos com açúcar ou abraça-me ou atira-te a mim ou o não sei quê, que eu não fixo os nomes das telenovelas, que chegue aos calcanhares destas.