Tenho a saudade de voltar a ti
Como se fosse o último a saber
O segredo para voltar
És mais que ventre onde quero amar
Berço que a luz maior me trouxe a ti
Por entre o perfume que não perece
nem anoitece
Tenho saudade de te dizer
Como nome que recolhi
No coração
sábado, abril 29, 2017
quarta-feira, abril 26, 2017
As hóstias bentas
Ocorreu bem longe daqui, numa paróquia que um amigo assumiu há pouco tempo. Contou ele que numa ocasião, durante a comunhão, se apercebera que as hóstias não eram suficientes. Começou, por isso, a parti-las de modo que chegassem para todos os que estavam na fila da comunhão. Nisto uma das catequistas, ao ver a dificuldade do padre, e com muita solicitude, correu à sacristia e trouxe de lá uma píxide improvisada com hóstias por consagrar. Abeirou-se do padre e sussurrou-lhe ao ouvido. Benza-as que assim já chega para todos.
A situação é caricata apenas para quem sabe que não é o mesmo uma hóstia consagrada que uma hóstia por consagrar, e que não é o mesmo uma consagração que uma bênção. Termos simples e básicos, digo eu, para quem possui a mínima formação de fé. Pelos vistos a solícita catequista, pese embora a sua genuína generosidade, não a tinha. Claro que ninguém é obrigado a saber tudo. E, como costumo dizer, não sou ninguém para julgar a fé dos outros.
Porém o problema vai muito para além do facto da senhora catequista não saber estas coisas. O problema é que uns dias antes o tal padre convidara os catequistas para uma formação e a resposta que obteve foi um claro Não. Que não precisavam mais formação.
segunda-feira, abril 24, 2017
escadaria principal [poema 140]
Havia uma escada que subia e descia
carregada em penas e asas a amanhecer
As velas dispostas em letras se escreviam
As portas sem fechadura abriam
Por todos os lados os homens subiam
E a escada sorria, afinal eram seus.
carregada em penas e asas a amanhecer
As velas dispostas em letras se escreviam
As portas sem fechadura abriam
Por todos os lados os homens subiam
E a escada sorria, afinal eram seus.
sexta-feira, abril 21, 2017
Abandonar-me
Agora que estou aqui nas minhas meditações, acho curioso que Deus nunca me tenha abandonado. Mesmo nas ocasiões em que bati com a porta ou lhe virei costas porque já não aguentava a sua conversa. Sim. Sinto que nunca fui abandonado por Deus, ainda que às vezes não lhe tenha sentido a presença. Não porque Ele não estivesse lá, mas porque eu teimava em vê-lo como queria e a fazer-me as vontades como eu imaginava que necessitava.
Agora que estou aqui nas minhas meditações, quero agradecer-te por teres uma forma de amar que ultrapassa todas as formas de amar que conheço, por estares sempre lá, naquele local que não sei dizer o nome, mas que é meu e muito mais teu.
domingo, abril 16, 2017
um martírio [poema 139]
Guardo o martírio em casa
Debaixo da cama
entre sapatos sem lama
Envelhece em lençóis de linho
Ali permanece
Ali morre sozinho
Neste dia tão especial, aproveito para desejar a todos os meus leitores e amigos uma Santa Páscoa!
Debaixo da cama
entre sapatos sem lama
Envelhece em lençóis de linho
Ali permanece
Ali morre sozinho
Neste dia tão especial, aproveito para desejar a todos os meus leitores e amigos uma Santa Páscoa!
sexta-feira, abril 14, 2017
Quando um coelhinho substitui Jesus
Que o coelhinho nos traga muito mais que simples ovos de chocolate. Que ele nos traga muita saúde, amor, felicidade, compreensão, carinho. Escrevo assim porque li mais ou menos assim. Não o escrevo para desdenhar da boa intenção da pessoa que escreveu cada uma das palavras. Creio que as escreveu sem a perspectiva com que eu as li. E agora reescrevo-as porque ficaram a tinir nos meus pensamentos.
Se, no Natal, falar do Pai Natal é algo que me custa aceitar, falar ou desejar que um coelho nos traga aquilo que só Deus nos pode eventualmente dar, ainda me custa mais escutar. Se há cidades, como na vizinha Espanha, que tentam transformar a semana santa numa semana cultural, e isso me custa aceitar, mais me custa que Jesus seja substituído por um coelho, por mais bonito, enfeitado ou engraçado que possa parecer para as crianças.
E é neste mundo e nesta história que Cristo mais uma vez se entrega por nós e manifesta o Seu tão grande Amor ao ponto de nos querer, tal como somos, mesmo quando o substituímos por um coelhinho.
quarta-feira, abril 12, 2017
ter uma fé pequenina
Creio que o comum dos cristãos gostaria de possuir uma grande fé. Dou conta, porém, que pessoalmente, cada dia e cada vez mais, tenho vontade em possuir uma fé pequena. Uma fé tão pequena que pudesse chamar-se, carinhosamente, de pequenina. Uma fé que, por ser pequenina, sempre tivesse vontade de crescer. Uma fé que fosse sempre caminho. Uma fé livre, que não se agarrasse a nada prévio e buscasse sempre em Deus.
Creio que a fé das grandes certezas é a fé humana, essa fé que busca em si as respostas e não as busca em Deus. E eu não quero ter esse tipo de fé cheia de certezas e num patamar que não precise de crescer.
Creio que a fé pequenina é a fé dos que não se fecham na certeza da sua fé…
domingo, abril 09, 2017
Acreditas na Ressurreição?
A sondagem que tínhamos online teve como resultado o que consta na foto em jpg. Em 2006, efectuámos a mesma sondagem (AQUI) com os seguintes resultados:
1º- Amor_ 47%
2º- Pai_ 20%
3º- Não tenho imagem_ 7%
4º- Absoluto_ 6%
5º- Todo-poderoso, e Refúgio_ 5%
6º- Criador_ 5%
7º- Juíz_ 3%
8º- Salvador_ 1%
9º- Bombeiro_ 0%
Façam as comparações e digam o que pensam.
sexta-feira, abril 07, 2017
luar [poema 138]
Faz ontem um dia que o céu caiu
E as nuvens voaram em busca do sol
Os montes baixaram para ver o mar
E as algas tornaram-se um roseiral
Visitei entre véus o que o ar vestiu
Desenhada a noite por onde passei
Uma luz de longe me guiou entre céus
E agora sei que não sou eu que sou
Mas tu.
E as nuvens voaram em busca do sol
Os montes baixaram para ver o mar
E as algas tornaram-se um roseiral
Visitei entre véus o que o ar vestiu
Desenhada a noite por onde passei
Uma luz de longe me guiou entre céus
E agora sei que não sou eu que sou
Mas tu.
quarta-feira, abril 05, 2017
Tenho uma espiritualidade queixinhas
Quase me apetecia dizer que sou um queixinhas. Não daquele tipo de queixinhas que está sempre a pedir coisas a Deus. Cuido, aliás, que não peço muitas coisas a Deus. Sou mais daquele tipo de queixinhas que parece nunca estar satisfeito com a vida que lhe toca viver ou com as adversidades que lhe toca tocar para a frente.
Queixo-me muito. Queixo-me na vida. Mas ainda me queixo mais na oração. Muitas vezes transformo esses momentos em autênticas queixas. Perco-me nelas. Queixo-me de tudo e de todos, da Igreja que não gosto e da Igreja que não consigo ser, dos erros que concretizo e que concretizam comigo, dos pecados que cometo e daqueles que não quero pensar como pecado. Queixo-me do que tenho de fazer, do que fiz e do que faço. Queixo-me de mim mesmo, mas sobretudo dos outros. Queixo-me até de Deus. Queixo-me. E ao queixar-me contigo, cuido que rezo as minhas queixas. Assim mais ou menos como quem, partilhando o que sente, mesmo quando não se devia queixar tanto, mais não faz do que partilhar a vida com quem se ama.
Queixo-me muito. Queixo-me na vida. Mas ainda me queixo mais na oração. Muitas vezes transformo esses momentos em autênticas queixas. Perco-me nelas. Queixo-me de tudo e de todos, da Igreja que não gosto e da Igreja que não consigo ser, dos erros que concretizo e que concretizam comigo, dos pecados que cometo e daqueles que não quero pensar como pecado. Queixo-me do que tenho de fazer, do que fiz e do que faço. Queixo-me de mim mesmo, mas sobretudo dos outros. Queixo-me até de Deus. Queixo-me. E ao queixar-me contigo, cuido que rezo as minhas queixas. Assim mais ou menos como quem, partilhando o que sente, mesmo quando não se devia queixar tanto, mais não faz do que partilhar a vida com quem se ama.
segunda-feira, abril 03, 2017
a-teia [poema 137]
Tirava o sono da almofada para si
Guardado num esconderijo de prata
Ligava o gira-discos do bisavô António
Cobria-se com a capa dos tempos da universidade
Fazia embrulhos de nada e do vazío que havia
Gritava para dentro as palavras e os sons
Construia um relógio antigo, meio vintage
Deixava-se cair e mal se levantava da hora
Escrevia Deus como se não existisse
E a casa onde ela era estava fechada
Guardado num esconderijo de prata
Ligava o gira-discos do bisavô António
Cobria-se com a capa dos tempos da universidade
Fazia embrulhos de nada e do vazío que havia
Gritava para dentro as palavras e os sons
Construia um relógio antigo, meio vintage
Deixava-se cair e mal se levantava da hora
Escrevia Deus como se não existisse
E a casa onde ela era estava fechada
sábado, abril 01, 2017
ela [poema 136]
Entre silêncios de salmo ouvi sua voz
No mais belo cantar que pudesse existir
Era ela, aquela, que visitara meu sonho
De pássaros a voar de uma gaiola gigante
Sussurrei seu nome e apareceu
Para ser ave na minha gaiola
No mais belo cantar que pudesse existir
Era ela, aquela, que visitara meu sonho
De pássaros a voar de uma gaiola gigante
Sussurrei seu nome e apareceu
Para ser ave na minha gaiola
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