terça-feira, maio 31, 2022

A máquina de fazer a fé

a fé difusa
Ela dizia que não tinha fé, porque não via nada. Era tudo muito difuso. Crescera no meio das freiras e a Igreja dizia-lhe alguma coisa. Coisa que não sabia nem quantificar nem dizer. Era assim a nova amiga que gostava de falar com o novo padre. Não conversavam banalidades, embora ela achasse que o assunto dela era banal. E não tinha fé sem saber porque não a tinha. Era tudo muito difuso. Era a palavra que mais repetia para dizer a fé. Depois lembrava o marido, que era um homem das ciências e do empírico. Mas olhe que ele tem uma devoção enorme por Nossa Senhora. Nem sei como explicar o que diz quando se refere a ela. E depois ainda se tornava tudo mais difuso. 
A Sandra não sabia ainda que a fé não é uma máquina de certezas. É um mistério de amor. Não se explica. Vive-se. O seu marido pode ser pragmático, mas deve ter uma relação especial com "essa" mulher. Algo captou o seu coração nessa direcção. O que também pode dizer de uma fé ainda um pouco infantil. Mas está lá. E significa que ele tem alguma abertura de coração para querer algo que não consegue provar. 
O que, às vezes, nos falta é isso, minha nova amiga. Essa abertura de coração. Queremos racionalizar muito as coisas, as vivências, as experiências. Mas, como saberá, as melhores coisas vêm do amor. É aqui que se centra e acontece a fé. Ter uma relação amorosa com Deus é a fé. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "O Zé, o marido da Rosária"

terça-feira, maio 24, 2022

Nunca fui à missa

o que é isso da missa?
Ó catequista, o que é isso da missa? Eu nunca fui, dizia um dos miúdos que entrara na catequese. Dizia-o com os olhitos a brilhar de espanto e entusiasmo. Os colegas olharam para ele sem reprovação. Também olharam a catequista, desarmada. Sobretudo por dentro. Por fora, sorriu e disse o que lhe veio à cabeça. É que ela gosta tanto de estar com o Senhor na Eucaristia, que foram mais ou menos essas as palavras que usou para responder. Uns dias mais tarde, veio a saber que o miúdo também não sabia nenhuma oração. E como ele, mais uns dois ou três dos meninos daquele pequeno grupo de catequese. A tristeza não a preencheu, mas quase. E passou-a para mim, quando a partilhou comigo.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A catequista Lucinda"

sexta-feira, maio 20, 2022

casa [poema 348]

a casa abre-se, expande-se, cresce e as pedras vão
torna-se abrigo, e as aves fazem ali ninho, a voar 
depois de dias com as asas a bater 
para entrar. 

as portas estão abertas, e crescem, crescem para fora, 
com a casa, nas aves, nas muitas aves a nascer, e 
que voam a caminhar no chão, pelas pedras, 
para chegar ao lugar onde mora a casa 
que se abre e cresce 
a casa onde mora a liberdade para quem 
hospedar

terça-feira, maio 17, 2022

Boa tarde, meus andores e minhas andoras

igrejas cheias...
A igreja engalanara-se para a festa. Estava engalanada por todos os cantos e buracos. Mal se lá cabia. Passados dois anos sem festa por causa da pandemia, a vontade avolumara-se. Os cuidados sanitários e a segurança passaram para segundo ou terceiro plano. Ainda sugeri aos mordomos que colocassem os andores, com as respectivas imagens, na rua, junto à Igreja, de modo que a assembleia coubesse em segurança e distância. Mas qual quê! Os santinhos é que tinham de estar na Igreja, que é lá o lugar deles. No meio das flores e dos andores, para serem admirados. A festa é deles. Nem que se limitasse o número de pessoas na missa! Onde já se viu os andores na rua? Perguntou uma senhora mais atrevida, com ar de afirmação. E tinha razão. Os andores não é para andarem na rua, não senhora. Onde é que já se viu! Claro que eu também não fiz disto um cavalo de batalha. A maturidade vai-nos ensinando pelo que vale a pena lutar. E assim lá estávamos nós na Igreja engalanada por todo o lado. Pessoas de um lado e andores do outro. Metade metade. Muita gente na rua. A maioria com vontade de estar na rua. A missa começou com o habitual acolhimento. E o simpático do senhor padre começou por cumprimentar os presentes. Boa tarde, meus senhores e minhas senhoras. Boa tarde, meus andores e minhas andoras... 

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "santinhos e missinhas"

domingo, maio 15, 2022

O que pensas da nova imagem do blogue?

primeiro cabeçalho do confessionário
O mundo dos blogues não tem a força de outrora, como quando o "Confessionário" nasceu. Já lá vão uns 22 anos. Sim. O Confessionário nasceu por volta do ano 2000, como conto AQUI. nasceu quando os blogues começaram a ser uma referência no panorama virtual. Na altura, não havia, que eu conhecesse, outros blogues de cariz religioso. Em 2003 entrou de férias e renasceu mais tarde, em 2005. Desde então, aqui tem permanecido, com as circunstâncias que os anos e as vidas trazem. Ahhh e os amigos. Sim. Alguns amigos nasceram como nasceu o blogue. Com a simplicidade das palavras e do que elas dizem. E assim se amadurece. E assim o "confessionário" existe. O seu autor está mais velho. Afinal são muitos anos e muitas vivências. Os entendimentos de fundo são praticamente os mesmos. Os anseios. As vontades. Os sonhos. Mas muito mais maduros. Sem dúvida. Porque entretanto, muita tinta correu. E corre. E queremos que continue a correr com a frescura de outrora. Por isso senti a necessidade de fazer um refresh, ou numa linguagem mais nossa, um refrescar. Só para sentir que continuo como no início. Que continuo sempre novo. Que continuo a querer ser o mesmo padre que afirmei querer ser no dia em que celebrei a minha primeira missa solene. E já passaram mais de 25 anos. E que vós continuais aí. 

AQUI tendes a explicação das mudanças. E convido-vos a dardes a vossas opiniões e sugestões para poder ainda servir-vos melhor. Entretanto, abro uma nova sondagem, para perguntar: "O que pensas da nova imagem do blogue?"

quinta-feira, maio 05, 2022

os sacramentos-eventos

São desgastantes os sacramentos pedidos como eventos. Quem os pede foca-se apenas no evento. Por isso o mais importante são as datas, os horários, as vestimentas, a animação, as fotos, a boda, os convites e as prendas. Nos sacramentos-eventos os padres somos quase sempre os últimos a ser contactados. Ao mesmo tempo, acabam dizendo mal do que chamam de burocracias da Igreja. Que exige muitos documentos e preparações. Sejam casamentos, baptizados, crismas, primeiras comunhões e similares, é quase sempre um desgaste para quem queria que os sacramentos fossem um modo de caminhar na fé, e para alguns, pouco mais são do que um evento familiar, social e cultural. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Quer ser padrinho"