Perguntam-me muitas vezes o que é a fé. Algumas pessoas perguntam com vontade em saber. Outras com desejo de confrontar. Outras com desprezo para poderem afirmar que é uma invenção. Outras porque a têm e não sabem verbaliza-la. E depois há o João que acredita na existência de Deus, sabe muitas coisas de Deus porque andou na catequese e era bom aluno, e quando o avô morreu surgiram-lhe uma série de dúvidas sobre a justiça e a forma como Deus actua. Estava muito confuso, e muitos de nós andamos confusos. Muitos de nós somos o João. Um João que não só não sabe o que é a fé, como sabe menos ainda o que é tê-la.
A fé não é um conjunto de crenças, coisas que se acreditam, ou uma doutrina assentida, ou um conjunto de verdades, ou uma constituição com leis, ou uns mandamentos, ou uma ideologia, ou uma doutrina social para saber viver, ou uma visão moralista da realidade, ou uma invenção da Igreja para dar sentido a um sem sentido de muitas coisas que não se entendem com facilidade, ou uma forma de se libertar, ou uma forma de conviver com sofrimentos existenciais, ou uma forma de praticar ou viver o amor.
O amor é amor, tanto como a fé é amor. O amor explica muitas vezes como é a fé porque o amor sente-se, sabe-se sem saber explicar-se, vive-se porque nos faz felizes, procura-se porque sem ele não conseguimos viver. Mas ainda assim, a fé é muito mais que amor. Porque é a forma gratuita, ou quase gratuita, de responder ao amor maior, o amor gratuito e incondicional de Deus.
Quantas vezes procuramos aprender, e entender, e professar o que diz Deus, mas não temos qualquer tipo de relação com Ele! Quantas vezes sabemos uma teologia sobre o mistério de Deus, mas não tem impacto na forma como vivemos! Quantas vezes falamos Dele, mas não falamos com Ele! Quantas vezes nos preocupamos em cumprir umas normas, uns preceitos, uns rituais, sem que sejam mais do isso, normas, preceitos e rituais! Quantas vezes nos é proposto Jesus sem que o vejamos mais que uma história fantástica!
Quantas vezes aprendemos a fé, mas não a vivemos! Só vivendo se sabe o que é. E nem nessa altura a conseguiremos explicar. E quanto mais a vivermos, mais teremos vontade em a viver.