quinta-feira, outubro 29, 2015

A Instituição do padre Zé

O padre Zé, chamemos-lhe assim para pensar que é cá dos nossos, está um pouco desanimado com o seu sacerdócio. Quase tudo o que o rodeia na paróquia onde é pároco lhe soa a desilusão ou lhe cheira a bafio. A sua paróquia é habitada por gente com idade avançada. Não tem catequese organizada. Tem muitas tradições ritualistas e culturais que, diz, não têm um mínimo de fé. O padre Zé veio da Polónia, de um país que ainda é maioritariamente católico, mas católico de cristandade, onde o padre é o quase centro e as pessoas vivem à volta da paróquia, como se aí estivesse quase toda a sua identidade. Não vou dizer o que penso deste tipo de igreja, pois não a admiro muito. De qualquer forma, hoje preocupei-me com o padre Zé e é dele que quero falar. 
É que agora está num país claramente laico e avesso à Igreja. Um país que não quer muito com a fé, e só vai querendo alguma coisa com a Igreja em termos de instituição. Desabafava ele há dias que um par de noivos queria falar com ele. O padre Zé imaginou que pretendiam casar, e tinha razão. Mas não vinham propriamente marcar o casamento. Vinham falar com ele para saber o que era necessário para alugar a Igreja. O padre Zé não teve coragem de perguntar-lhes se era ou não com padre incluído. Mas saiu a chorar da pequena reunião, cansado de estar numa Igreja que apenas é mais uma instituição.

segunda-feira, outubro 26, 2015

Daquilo que sabes ou leste do sínodo da família e do seu resultado final, como o qualificarias?

A anterior sondagem perguntava sobre o acolhimento que se deveria fazer ou não aos refugiados. O assunto continua na linha da frente, pois eles não param de passar as fronteiras da Europa. Segundo as vossas opiniões, devem-se acolher. Se somarmos as percentagens que escolheram o sim, teremos um total de 87%. Pessoalmente achei interessante uma certa confrontação que ao longo da votação foi existindo entre o acolher sem restrições e o acolher com cuidado. Eu teria gostado de que neste espaço se tivesse gerado uma saudável discussão que partisse da fé. Mas também reconheço que muito se tem dito no assunto e nas redes sociais. A minha opinião pessoal é a de que se acolham, mas com os cuidados necessários, prestando atenção a tantas condicionantes que têm de ser estudadas e programadas. Eu diria mais: acolher por acolher, pode ser apenas uma solução mediática. É necessário acolher, mesmo com sacrifício e com adversidades, mas com espírito que de quem está a ajudar um ser humano a viver, e não apenas está a fazer-lhe bem. 

Hoje, encerrado o Sínodo da Família que decorreu de 4 a 25 deste mês de Outubro, lanço nova questão. Recordo como uma das últimas sondagens nos questionava sobre um dos temas mais candentes deste sínodo, a comunhão aos recasados. Claro que não é a temática exclusiva do sínodo. Segundo leituras que tenho feito, parece que houve um equilíbrio entre a ala conservadora e a ala progressista, que se manteve a doutrina, mas que se abriu espaços na vertente pastoral. Dizem os comentadores que se nota no documento final a Misericórdia que este ano vai ser mote de caminhada. Mas que opinas tu? 
Recordo que seria interessante, cada um explicar as suas opiniões. 


domingo, outubro 25, 2015

empreitadas [poema 77]

Digo que não digo, mas falo
E das palavras soltam-se pedras
Dariam para construir catedrais
Ou casas no cimo das nuvens
Ou pontes de um lado ao outro
Mas um véu cobre os desejos
E com elas construo casas
em ruínas.

quinta-feira, outubro 22, 2015

A senhora Linda faz parte do grupo de recasados

A senhora Linda faz parte do grupo de recasados. Daquele grupo que tem feito gastar tinta a muitos jornais que gostam de falar da Igreja. Ou que gostam de falar o que a Igreja possa vender. Ora estes jornais não conhecem a Linda como eu a conheci faz muitos anos. Tivera, pelos vistos, um casamento católico normal até ao dia em que descobriu que o pai dos seus filhos, na altura já maiores de idade, era homossexual. Chegaram ambos à conclusão de que era melhor cada um refazer a sua vida. Talvez ainda assim se amassem, contava-me. Os filhos ficaram tristes, mas não deixaram de ser filhos desse pai. Cada um foi para seu lado e ela, como ainda tinha idade para ser feliz com alguém ao seu lado, deixou que o coração a encaminhasse para os braços de outro homem. Dizia-me que era feliz ao lado deste. Mas que trazia um espinho no coração porque, sendo pessoa de fé clara e genuína, era impedida de abraçar inteiramente alguns sacramentos. 
Como o caso era um caso óbvio de nulidade do matrimónio, propus que desse esse passo. Mas não podia, disse. O seu ex-marido nunca quis assumir publicamente a sua forma de viver, e ela respeitava-o ao ponto de não querer fazê-lo sofrer. Por seu lado, os filhos também não queriam uma situação que de forma meio legal indiciasse que afinal aquele pai não tinha sido o esposo que lhes doara a vida. 
Por virtudes importantes à fé, como o amor, a bondade e respeito tanto ao ex-marido como aos filhos, a senhora Linda não quer, ou não pode extrinsecamente pedir a nulidade do seu matrimónio católico de forma a poder abraçar inteiramente alguns sacramentos como desejava. A bondade daquela mulher impede-a. Está entre a espada e a parede, por se esforçar em fazer o bem. Tudo porque a lei e a doutrina assim o exigem. 
E agora?

terça-feira, outubro 20, 2015

anjos [poema 76]

A minha aldeia é visitada por anjos
Sei-os pelos trilhos da serra ao longe
Sei-os porque vão de mãos dadas em coro
São celestiais, vê-se pelas muitas cores
Parecem crianças a brincar com o sol
Há sons de guitarras, harpas e tambores

Vêm buscar-nos para o céu onde está o sol.
Assim nós fôssemos anjos a caminho do sol.

sábado, outubro 17, 2015

Vivemos como se não morrêssemos

Vivemos como se não morrêssemos, como se não tivéssemos de morrer. Num funeral é comum ouvir-se que todos temos de morrer. Mas são apenas palavras de quem sabe que é assim. Palavras que apenas têm significado por serem palavras ditas, mas que não se entendem na sua essência.
Só deveras pensamos nela quando nos toca perto, muito perto, num familiar directo que amamos, num amigo que nos faz falta para viver. Às vezes também ocorre numa pessoa de tenra idade que morre sem explicação ao nosso lado. E sempre numa dança que nos acorda e faz tremer.
Vivemos como se a morte fosse um dado adquirido, mas que pouco tem a ver connosco. A distância que vai entre ela e eu é a distância do não querer pensá-la na essência do que é. E como a morte é uma questão vital à fé, às vezes esta não acontece porque não acontece a morte, ou melhor, porque vivemos como se não morrêssemos.

quarta-feira, outubro 14, 2015

A salvação dos sem culpa

Na conversa de café de há uns dias, aquela conversa que contei onde estavam vários padres, sendo um deles missionário, recordo também uma das afirmações que me chocou do padre mais idoso que la se encontrava. Insisto que a idade não deveria contar para a reflexão ou para a situação. Era apenas o padre que naquela conversa tinha mais idade, e ponto final. Era também o colega que discretamente se escandalizara com o modo de estar do tal padre missionário entre os índios na Amazónia. 
Depois do acto de escandalizar-se, perguntou, dirigindo-se a todos os presentes, como poderiam estes índios salvar-se. Entrei na conversa para dizer que talvez eles se salvassem melhor que qualquer um de nós. E não é que o tal senhor padre concordou comigo! Mas estragou o companheirismo quando acrescentou que decerto se salvariam pela sua ingenuidade. Como não haviam tido hipótese de conhecer a Deus, e eram ingénuos em relação a Deus, se calhar – dizia – salvavam-se. Não gostei. Até porque talvez estes índios fossem mais coerentes que nós para com Deus. Mais íntegros, mais genuínos com o Criador. Mais puros. Ele insistiu na sua teoria, explicando que se estava a referir ao facto de eles não terem culpa. E nesse momento o padre missionário perguntou. Mas culpa de quê? A pergunta respondeu tudo. Eu fiquei um pouco chocado com a afirmação do tal senhor padre. Não quero pensar que não gosto dele. Quero percebê-lo, e até certo ponto percebo o que ele arrasta de tantos anos formatado numa forma de ser Igreja “societas perfecta”. Mas fiquei chocado deveras.
Valeu a pergunta ou resposta final do padre missionário. Se valeu. Já para não falar que a salvação vem da graça de Deus e não dos homens, sejam eles quem forem.

segunda-feira, outubro 12, 2015

Os que nascem cristãos

Não se é apenas cristão porque nos fazemos cristãos. Muitas vezes é-se cristão porque nascemos cristãos. Foi isto que a Ana me ajudou a descobrir. É uma jovem mãe que estudou fora e fora ficou a residir depois dos estudos. Aí descobriu com quem casar. Aí refez, de certo modo, a sua vida.
Cuido que a Ana tem fé. Não a posso medir. Não se mede nunca a fé. Mas parece que ela sabe o que Deus quer dela e o que ela precisa de Deus. O problema da fé da Ana é que ela foi morar para longe da família onde nasceu a sua fé. Mas quando vem à terra, não há como não viver a fé. Há dias disse-me que até nisso a terrinha lhe faz falta. Lá longe não esquece Deus. Mas o longe afasta. Afasta de muitas coisas e faz esquecer ou apagar outras. Diz-me que lá longe não sabe bem como viver a fé.
Ajuizamos muitas vezes sobre esta gente domingueira ou de fim de semana. Mas cada vez mais me convenço que não somos termómetros de fé e que ainda bem que as nossas terras, pequenas ou grandes, ainda são berço de fé. Ainda bem que muitos de nós ainda nascem cristãos.

sexta-feira, outubro 09, 2015

Que aparição [poema 75]

Um dia, aos pastores de Belém
Outro dia, aos pastores de Ourém
Mostraste Jesus ao Homem
De além e de aquém além

Mostra-me Jesus também
Faz-te minha mãe
 
este poema faz parte de um conjunto de quatro poemas com o título "Quatro Ques" dedicados a Nossa Senhora de Fátima

quarta-feira, outubro 07, 2015

Para estar ao teu lado

O dia de hoje acordou como os outros. Escuro, cinzento, frio. Acordou para que nascesse e se tornasse claro, colorido, caloroso. A meio da manhã já o sol dizia bom dia e nos convidava a viver. 
Cada dia que passa é sempre ocasião para darmos graças a Deus pela vida que nos dá e pelo sentido que lhe dá, e porque nos quer oferecer uma vida ainda melhor. Cada dia que passa, afinal, escuro ou claro, cinzento ou colorido, frio ou caloroso, é um dia para caminharmos em direcção à Vida que o Pai nos teima em oferecer, aquela vida que só atingimos em pleno no céu, o céu de Deus. 
Em cada dia que nasce, nasce também a certeza de que este caminho é o Caminho. 
Mas hoje esta certeza veio a mim logo ao acordar, e teima em fazer-me rever cada passo que faço nessa direcção. E és tu, mãe, que mo lembras, porque o dia 7 de Outubro é, em todos os anos do calendário depois de 2001, o dia em que me apetece dizer ao Pai que quero muito ir para esse seu Céu, só que mais não seja para estar ao teu lado. 
Não queria que este dia voltasse. Porém, na verdade, é neste tipo de dias que melhor nos apercebemos que aqui estamos só de passagem, como caminhantes, para esse lado onde já estás.

terça-feira, outubro 06, 2015

Que peregrino [poema 74]

Aos teus pés venho rezar
Neste meu peregrinar
Venho dar-te o meu sim
Como tu deste por mim
Quero amar-te
sem

fim
este poema faz parte de um conjunto de quatro poemas com o título "Quatro Ques" dedicados a Nossa Senhora de Fátima

domingo, outubro 04, 2015

Que filho [poema 73]

Tornei-me peso em teus braços
Rochedo frio para dentro de ti
Assim sou e assim me amaste
Acalento da vida, e        voou
Pássaro ferido, mas amado
Ave do Pai e de mãe, querido
Assim me carregas e não tenho peso
Assim me aqueces e não tenho dor
Assim me levas e me trazes
Com teu filho, o meu Senhor.

este poema faz parte de um conjunto de quatro poemas com o título "Quatro Ques" dedicados a Nossa Senhora de Fátima

sexta-feira, outubro 02, 2015

Que mãe [poema 72]

Senhora, que és nossa, que eu possa
Sentar-me ao teu regaço,
chorar meu ser, nesse espaço
Na alegria de te ter, e poder Ser
um filho legítimo de Deus,
Que te escolheu dos céus

Para que mãe fosses dos filhos que
são seus
E para que aqui neste país que
é nosso

Especialmente nos doasses
tua maternidade,
E um dia, contigo, chegássemos
À eternidade.
 
este poema faz parte de um conjunto de quatro poemas com o título "Quatro Ques" dedicados a Nossa Senhora de Fátima