Entrego-te este novelo, Senhor, este novelo emaranhado, atado e desatado, sem pontas que eu veja, com muitos nós, com um peso que não sei medir. Um novelo que desenhei sem querer ou por mau querer. Preciso que o carregues, nem que seja em cima ou preso à Tua cruz. Sei que ela já está carregada de tantos novelos assim. Sei que te peço muito, que te carrego muito. Mas para Ti, Senhor, um novelo é só mais um novelo, e este é o meu, o novelo. Em Ti está mais seguro. Tu, que tudo podes, faz dele um caminho para chegar mais a Ti, como aquelas crianças que, para não se perderem, prendem uma ponta do novelo a um local e vão fazendo o caminho seguro porque sabem que há um novelo que nos faz voltar atrás se necessário. Tu, que tudo podes transformar, carrega este novelo durante o tempo necessário para que quando ele me for devolvido, seja apenas um pequeno novelo, mais leve, com menos nós, bem atado, menos emaranhado, sem pontas soltas.
quarta-feira, abril 29, 2015
segunda-feira, abril 27, 2015
A Olímpia e o milagre da vida
Já em tempos contei como era a dona Olímpia. O seu coração puro via em tudo algo de bom. Uma maneira de ver que eu cuido muito parecida à de Deus.
Hoje a Olímpia vai a sepultar depois de dois ou três anos a sofrer com um cancro e a sofrer por não poder fazer mais pelos outros, como era seu costume, numa simplicidade que fazia questão de sublinhar, Porque eu não sei nada, senhor padre, não sei dizer as coisas, não valho nada, mas amo muito a Deus. Uma dádiva de toda uma vida em favor dos outros. Por isso tomara conta de pessoas em sua casa que não lhe eram de sangue. Gente difícil, gente que precisava de um cuidado tão bonito como o que Olímpia era capaz de por em prática. Foi a primeira pessoa que me abriu as portas de sua casa quando cheguei a estas paróquias. Até se dar o processo da doença, todos os sábados comia em família. Sim, porque me haviam recebido como família. Era assim a Olímpia. Recebia todos no seu coração como se fizessem parte dele e do sangue que ele tinha a palpitar.
No período da doença tivemos oportunidade de conversar bastas vezes. Sempre aprendi com ela como se vive com fé o sofrimento, como se encara a dor com o amor de Deus. Mas numa das últimas vezes foi-me dada a graça de ouvir-lhe algo sobre a morte, que ela encarava de forma sublime e natural, e que não vou mais esquecer. Senhor padre, o maior milagre da vida é a morte!
E a dona Olímpia, que afirmava não saber dizer as coisas, ensinou-me de forma convicta uma verdade teológica que só os doutores da fé conseguem afirmar, que só os santos dizem de forma tão sábia. De facto, quem acredita na ressurreição e no caminho que nos é dado fazer aqui na terra, sabe que a morte é apenas a expressão máxima da vida.
Obrigada, amiga Olímpia, pelo dom tão grande da tua vida. Junto com a minha mãe, olha por nós do céu.
sábado, abril 25, 2015
rosas sem querer [poema 52]
Ontem é melhor que hoje não estou
Milagres são rosas sem saber
As pérolas no meu pescoço, vou
Veio a noite silenciosa bater
Além no além alguém vem também
Namorar com as rosas sem querer
São espinhos, não são rosas, sou
Dono do meu não viver.
Milagres são rosas sem saber
As pérolas no meu pescoço, vou
Veio a noite silenciosa bater
Além no além alguém vem também
Namorar com as rosas sem querer
São espinhos, não são rosas, sou
Dono do meu não viver.
quinta-feira, abril 23, 2015
acção de buscar-te [poema 51]
Busco-te no meio das águas, não respiro
No mais meio das águas e dos mares
Nas ilhas escondidas atrás das águas
Afundo-me nelas, sem boia sem redes
Busco-te
E respiro
No mais meio das águas e dos mares
Nas ilhas escondidas atrás das águas
Afundo-me nelas, sem boia sem redes
Busco-te
E respiro
terça-feira, abril 21, 2015
O António caído
O António estava perdido. Perdera-se, e não conseguia encontrar-se. O António não era má pessoa. Era um de nós. Era um António que caíra. Era um de nós que em cada dia se deixa cair à beira do caminho. Era um António que deixara de caminhar porque não sabia como levantar-se. Era um de nós que no caminho tropeça e não tem forças para se levantar. Era um António que esquecera que o mal não está em cair, mas em não se levantar. Cair acontece mesmo quando não queremos, ou por distracção, pelas circunstâncias, por culpa dos outros, por via da nossa fragilidade. Era um António que esquecera que cair acontece, mas levantar-se depende de nós.
sábado, abril 18, 2015
não me sei [poema 50]
Ainda não me sei
Sonho ontem, para amanhã
De roda em roda, a rodar,
Tropegamente sem me saber
Que ontem era e já não é
Que amanhã será e já não é.
Sonho ontem, para amanhã
De roda em roda, a rodar,
Tropegamente sem me saber
Que ontem era e já não é
Que amanhã será e já não é.
quinta-feira, abril 16, 2015
lágrimas ínfimas [poema 49]
Ali vai o meu rio de lágrimas
Com elas corre, corre com elas
Leva-as para o mar, lá serão
Ínfimas lágrimas de tantas lágrimas
Com elas corre, corre com elas
Leva-as para o mar, lá serão
Ínfimas lágrimas de tantas lágrimas
terça-feira, abril 14, 2015
rezar à mãe diante do Filho
O Senhor estava em cima do altar, envolvido em rosas brancas e rodeado de velas. O Senhor estava, como se diz na minha terra, exposto à adoração. Estaria ali todo o dia, exposto a todos os que quisessem contemplá-lo, meditá-lo, olhá-lo, estar com Ele.
Ali estavam duas dezenas de pessoas quando cheguei. Um terço delas a rezar o terço, isto é, a rezar à mãe diante do Filho. Inclinei, ajoelhei, sentei.
De facto falar com a mãe diante do filho não é mau. Só não é falar com o filho. De facto o terço é a oração dos simples, mas também pode tornar-se a oração dos que não conseguem fazer silêncio, dos que não conseguem dialogar cara a cara com Ele, dos que não conseguem ir para além de palavras, dos que preferem falar do que escutar.
Não fiquei triste, pois cada oração é sempre oração, e cada pessoa é uma pessoa que Deus ama e que eu também devo amar. Mas eu gosto mais de estar calado em frente ao Senhor envolvido em rosas, seja de que cor, a tentar escutá-lo.
domingo, abril 12, 2015
Amas-me, Senhor?
Amas-me, Senhor? Amas-me como sou, tão pobre, tão frágil, tão pecador? Amas-me sem condições? Sem me exigires que seja santo? Que seja modelo? Sem me obrigares a ser o melhor padre que gostarias que fosse? Sem me exigires uma fé perfeita? Amas-me mesmo quando eu não te amo ou to não sei demonstrar? Amas-me mesmo quando te magoo ou te desiludo? Amas-me quando te volto as costas e quando não quero o teu amor? Amas-me mesmo quando não mereço o teu amor? Amas-me mesmo quando ninguém mais me amar? Amas-me mesmo quando eu já não tiver forças para amar? Amas-me, Senhor, como sou?
Dia da Divina Misericórdia
quinta-feira, abril 09, 2015
Na tua opinião, a Igreja ainda está demasiado centrada no clero?
O Concílio vaticano II trouxe um avanço enorme e positivo para uma correta compreensão do lugar do leigo dentro da Igreja. Mas a eclesiologia de comunhão, presente nos documentos conciliares e pós-conciliares, não implicaria superar uma certa discriminação escondida atrás de uma compreensão eclesiológica que delega o cuidado das coisas de Deus apenas a uma pequena parte da comunidade eclesial, deixando o resto da comunidade encarregada das coisas consideradas do mundo?! E passados 50 anos deste concílio não estará ainda a Igreja Povo de Deus e Corpo de Cristo demasiado clericalizada ou centrada no ministério ordenado? Que ideia temos nós da nossa Igreja actual? Como a vemos? Sentimo-nos seus membros activos ou meros espectadores?
Por todas estas interrogações oportunas, surge hoje nova sondagem resumida na pergunta: Na tua opinião, a Igreja ainda está demasiado centrada no clero?
Já sabes que podes justificar as tuas opções nos comentários. Deixamos ainda o resultado da anterior sondagem.
sábado, abril 04, 2015
Pássaro ferido, mas a voar
Hoje venho aqui porque Tu também vieste. Assim sem nada. Tu mesmo e eu mesmo. Tu vivo e eu a viver. A viver-Te. A senhora Maria dizia há dias que não conseguia perdoar a vizinha dela porque esta tinha dito mal dela. E acabou por viver o que a vizinha dizia dela e não a sua vida, que é muito mais do que o que dizem de nós. O não saber perdoar é como um pássaro sem asas. Um pássaro que não é bem pássaro porque não consegue voar. Tu deste o exemplo do perdão com o sinal mais que é a morte, como se esse despojamento fizesse em ti aquilo que és, as asas por excelência de quem quer voar. As asas para podermos voar na liberdade da Páscoa, na liberdade de estarmos vivos porque nos deste as asas para viver e ser pássaro. Hoje venho aqui sem grandes asas para pedir as Tuas asas. Chegou a hora de aprender a voar. Chegou a hora de aprender com a tua morte que um pássaro só é pássaro porque lhe deste a possibilidade de voar nas Tuas asas. Quero sonhar que estou na Tua cruz, planando alto, num voo cruzado, entre Ti e contigo. Ama-me sempre assim, amigo Senhor. Vem de novo com Tuas asas para que eu seja pássaro ferido, mas a voar.
sexta-feira, abril 03, 2015
Ciren(eu) [poema 48]
Quisera eu
Ser o Cireneu
provar que o meu amor
É como o Teu
Mas não consigo ser tão forte
Como a Tua morte
Não consigo carregar
Nem minha cruz.
Como hei-de levar
A Tua, Jesus?
Ser o Cireneu
provar que o meu amor
É como o Teu
Mas não consigo ser tão forte
Como a Tua morte
Não consigo carregar
Nem minha cruz.
Como hei-de levar
A Tua, Jesus?
Desejo a todos uma Páscoa enorme!
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