Reescrevo-te hoje como testamento
Em papel de carta para me enviar a ti
Penso-te como poema de minha carne ou sangue
Filho de um encontro em lençois que não tive
Deixo-te este coração, sem vida, a palpitar
Bebo de ti quando fecho o envelope
E coloco o teu nome e o sê-lo daqui
Reescrevo-te como acto de tornar a escrever
Como acto de te escrever de novo em mim
Ou no beijo que quedou da última oração
quinta-feira, julho 26, 2018
segunda-feira, julho 23, 2018
novelo de lã [poema 189]
Era um novelo de lã pequenino, a nascer
Um fio a querer ser muito mais, no coração
Enrolava-se e desenrolava-se,
às vezes dobava-se
Nalguma mão calejada,
nalgumas mãos de fada
Deixava pontas soltas, para outros nós, a crescer
Era novelo a viver, às vezes sobreviver,
ou repousar
Ia e vinha, como onda de espuma a fazer-se mar
Encontrava-se e perdia-se
no meio dos seus irmãos
Era um novelo, enfim, que um dia Deus fez
Vestido de lã, nas suas próprias mãos
Um fio a querer ser muito mais, no coração
Enrolava-se e desenrolava-se,
às vezes dobava-se
Nalguma mão calejada,
nalgumas mãos de fada
Deixava pontas soltas, para outros nós, a crescer
Era novelo a viver, às vezes sobreviver,
ou repousar
Ia e vinha, como onda de espuma a fazer-se mar
Encontrava-se e perdia-se
no meio dos seus irmãos
Era um novelo, enfim, que um dia Deus fez
Vestido de lã, nas suas próprias mãos
quinta-feira, julho 19, 2018
As humanae vitae e as pessoas
Li há días uns artigos que falavam da famosa enciclica “Humanae Vitae”, de Paulo VI, sobre os seus avanços ou recuos na moral sexual. Li também que antes desta encíclica ser publicada, o Papa tinha encomendado uma outra, com o nome "De nascendae prolis", e que ia no sentido contrário ao da “Humanae Vitae”, sobretudo no que se refere ao uso de contraceptivos que não apenas os naturais. Também me recordo de, em tempos, ter lido qualquer coisa sobre uns meandros obscuros no processo que levou à luz a “Humanae Vitae”. Uns textos que falavam de interesses e de desinteresses. Não me recordo de tudo agora. A minha memória nunca foi fecunda.
Primeiro informo que sou a favor da vida, de todos os modos e feitios, com todas as dificuldades e sofrimentos. O maior dom que Deus nos dá a cada um não deveria ser tratado como algo descartável. Nesse mesmo sentido, sou favorável a que o acto sexual esteja sempre aberto ao dom da vida. Mas dentro da consciência das pessoas, e dentro das camas dos casais, e dentro do modo como as pessoas geram uma paternidade responsável, creio que devemos ser mais inclusivos que exclusivos. Afinal, aquela encíclica, que foi muito fracturante na altura (recorde-se que estávamos nos anos 60), que verdadeiras repercussões tem hoje, quando cerca de 98% dos católicos (refiro-me aos verdadeiros católicos que têm e vivem uma fé em caminho) usam estes métodos contraceptivos como se isso não importunasse a sua fé? É que se calhar não importuna mesmo.
domingo, julho 15, 2018
Dona da minha vida
A frase era demasiado imperativa. Eu sou dona da minha vida. Era demasiado impositiva e antropocêntrica. Eu sou dona da minha vida e posso fazer o que quiser com ela.
Esta frase saiu dos lábios de uma amiga, para afirmar a sua opinião sobre a eutanásia e sobre outros assuntos relacionados com a vida. Creio que ela foi honesta consigo mesma, pois é isso mesmo que pensa. Está convencida que se a vida é dela, é a sua dona. De facto a vida é dela. Mas não creio que seja a sua dona. E não o digo por uma questão piedosa, como quando dizemos, sem mais, “estamos nas mãos de Deus”. Como se fosse um fado, um destino de resignação que não queríamos mas que temos de aceitar. Essa lógica não me agrada muito.
Faço esta afirmação de uma forma, que julgo, um pouco mais cientifica ou com base na experiência humana. Porque se fossemos donos da nossa vida, como explicar que, sem o querermos, nos surjam doenças, problemas, sofrimentos? Se fossemos donos da nossa vida, o mais provável é que todos tivéssemos uma bela casa e belos carros e mais não sei o quê. Seríamos todos muito capacitados, sumamente inteligentes e dotados. Se nós fossemos donos da nossa vida, o mais provável era acabarmos achando-nos igualmente donos das vidas dos outros. Acabaria tornando-se um caos.
Nós somos donos das nossas opções, mas não somos donos da nossa vida.
Nós somos donos das nossas opções, mas não somos donos da nossa vida.
quarta-feira, julho 11, 2018
Há paróquias e paróquias
Há paróquias que o são porque assim foram constituídas, zonas religiosas com um determinado território para cumprir a sua cultura religiosa e alimentar um pouco a fé de cada um, sobretudo através dos sacramentos. E há paróquias que querem ser comunidades cristãs e que, partindo da Palavra de Deus, fazem caminho para serem cada vez mais comunidade cristã.
Digo isto porque, apesar de ter paróquias a meu encargo como no primeiro caso, também tenho algumas paróquias que vejo crescer como no segundo.
Há dias uma destas, por ocasião de uma festa onde, no final, havia rematações de buxos, chouriças e farinheiras confecionadas por um número bonito de senhoras da comunidade, assisti a algo que superou grande parte das minhas expectativas. Depois de tudo rematado, e sem que se previsse, lá foi grande parte da minha gente para o forno assar outra grande parte das chouriças e farinheiras. Eu tivera necessidade de me deslocar a outro local, e às tantas recebo uma chamada a dizer que estava tudo pronto para o convívio e estavam à minha espera. Qual não foi o meu espanto quando, ao chegar, verifiquei que estava quase toda a comunidade reunida para o convívio e, ainda por cima, ninguém tocara na comida antes de eu chegar. Porque sim, disseram. Porque eu era o seu pastor. Para além das chouriças e farinheiras, não faltou o pão e até uma sopinha, como eu gosto, e umas sobremesas para os mais gulosos. Bonita comunidade esta, que tenho de agradecer a Deus.
quinta-feira, julho 05, 2018
poemas de Deus [poema 188]
...e começo este poema, como se viesse de trás
A correr, com muitas outras letras e palavras,
Com um passado a querer ser presente, alado
Como se um poema nunca fosse só, fosse memória
E muitas letras que se conjugam juntas para ser
Assim fossem as palavras que Deus solta em nós,
Poemas vivos de ontem, num hoje que vai Ser
A correr, com muitas outras letras e palavras,
Com um passado a querer ser presente, alado
Como se um poema nunca fosse só, fosse memória
E muitas letras que se conjugam juntas para ser
Assim fossem as palavras que Deus solta em nós,
Poemas vivos de ontem, num hoje que vai Ser
terça-feira, julho 03, 2018
Tenho devoção a Nossa Senhora, graças a Deus
O senhor Joaquim Neves é um típico indivíduo que é capaz de ir a Fátima quantas vezes lhe for possível, e ir à missa apenas nas festas e nos funerais. É meu amigo de longa data, daqueles amigos que quando nos avistam num café, se dirigem a nós para saber como está o senhor padre. Não é mau homem, nem se pode dizer que não tenha fé. É apenas alguém que precisava passar de uma fé um tanto infantilizada a uma fé amadurecida.
Eu entrara, a meio da manhã, no café, para tomar um cafezinho rápido. Mas quando o senhor Joaquim me avistou, rapidamente se dirigiu ao meu encalço e iniciou uma conversação interessada. Que isto e que aquilo, que eu tenho muita fé, que eu mais isto e aquilo, e voltava ao Que eu tenho muita fé, ou aquela expressão ainda mais comum, Que eu cá tenho a minha fé. Tá a ver, padre, olhe que eu tenho muita devoção a Nossa Senhora, graças a Deus.
E foi nesse preciso instante que meus olhos se arregalaram. O senhor Joaquim, que possui uma fé algo infantil, e que mais rapidamente diz que tem fé em Nossa Senhora do que em Deus, acabou construindo uma frase que não me deixou indiferente. Na verdade, acabou afirmando que a nossa devoção a Maria só existe por causa de Deus. Disse-o como aquela típica expressão que usamos a toda a hora: graças a Deus isto e graças a Deus aquilo. Mas eu entendi-o como se de uma verdade teológica se tratasse.
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