A mãe do Joaquim, que é a esposa do senhor Manuel e a sogra da Rosa, faleceu há coisa de um mês. O preto pousou sobre eles sem licença. O preto amargo que nos cobre e nos fecha a cadeado. Ela era fácil de se amar, e por isso o preto, neste caso, fez-se mais teimoso. Sou amigo da casa e custa-me ver aqueles rostos da cor das roupas. Já por umas seis vezes que falámos no assunto. Eles pedem-me tempo e eu dou. Eu falo que é minha obrigação e eles dizem obrigado. E falamos sempre. O luto faz-se, acontece e, às vezes os sentimentos das pessoas escurecem e escondem o sol ou as suas réstias ou raios de luz. É como se fizéssemos do dia noite. Eu não quero tornar-me incómodo, mas abordo esse sol, que não se pode apagar para não ser sempre de noite, e dou tempo. Eles agradecem por isso. Por lhes lembrar o sol, por lhes dar tempo, e por me lembrar deles. Três coisas que, cuido, devemos atender ao lidar com quem está escuro como o luto.
Há dias soube que o senhor Manuel vai todos os dias, ao final da tarde, até ao cemitério que não fica longe de casa. O Joaquim vai também a maior parte das vezes. A Rosa vai só quando o Joaquim vai a horas que ela pode. Fazem-no porque não sabem o que fazer. Fiz-lhes essa pergunta e não souberam responder. Foi mais ou menos um Não sabemos porque fazemos, mas temos de fazer, padre. Perguntei-lhes, numa só frase, sobre o sentido desse luto e dessa forma de agir. Não me souberam responder. Ao que respondi, questionando, que se algo não tem sentido, porque há-de fazer-se?
Olharam para mim de uma forma aberta e eu pensei. Estão a pensar que o que disse é importante. O Joaquim foi o mais expressivo. Mas as expressões enganam e às vezes uma expressão aberta pode significar só isso. Que ouvimos mas isso não importa ou não é importante. A nossa vida fica aqui, está presa aqui, neste luto e neste escuro e nesta noite. Amanhã será outro dia. Ou não.
As pessoas que estão escuras precisam que alguém lhes faça perceber que é de dia e o sol vai alto.
Há dias soube que o senhor Manuel vai todos os dias, ao final da tarde, até ao cemitério que não fica longe de casa. O Joaquim vai também a maior parte das vezes. A Rosa vai só quando o Joaquim vai a horas que ela pode. Fazem-no porque não sabem o que fazer. Fiz-lhes essa pergunta e não souberam responder. Foi mais ou menos um Não sabemos porque fazemos, mas temos de fazer, padre. Perguntei-lhes, numa só frase, sobre o sentido desse luto e dessa forma de agir. Não me souberam responder. Ao que respondi, questionando, que se algo não tem sentido, porque há-de fazer-se?
Olharam para mim de uma forma aberta e eu pensei. Estão a pensar que o que disse é importante. O Joaquim foi o mais expressivo. Mas as expressões enganam e às vezes uma expressão aberta pode significar só isso. Que ouvimos mas isso não importa ou não é importante. A nossa vida fica aqui, está presa aqui, neste luto e neste escuro e nesta noite. Amanhã será outro dia. Ou não.
As pessoas que estão escuras precisam que alguém lhes faça perceber que é de dia e o sol vai alto.