Parece-me que as nossas liturgias, as nossas pregações, as nossas orações estão cheias de palavras tão feitas, tão clericais, tão eruditas, tão bem compostas, mas tão pouco nossas. Falamos de Deus e com Deus como se não estivesse ao nosso lado como estamos ao lado uns dos outros. Usamos as palavras sem as tornar nossas. Falamos com a boca, às vezes com a inteligência, mas pouco deixamos que fale o coração, que é quem melhor sabe usar as palavras.
3 comentários:
Certo!...
Só o coração bom, é que pode escutar Deus.
As palavras feitas, não penetram no grade Amor!...
Infelizmente nem sempre é o coração quem melhor sabe usar as palavras. Há gente com um jeito tremendo para usar as palavras que não fala de coração mas sabe falar ao coração quando fala de Deus. E o efeito é garantido: igrejas repletas, paróquias dinamizadas, crianças e jovens motivados, figuras públicas empenhadas, donativos multiplicados, testemunhos acérrimos em defesa de qualquer asneirada do senhor padre que é tão bom homem, que faz tanta coisa boa em prol da nossa paróquia, que preside a não sei quantas IPSS e que ainda quer presidir a mais umas tantas e dirigir isto e aquilo, ai que trabalha tanto o senhor padre que nunca pensa em si próprio coitadinho, que é tão amigo dos pobrezinhos e dos órfãos e dos deficientes e diz coisas tão bonitas e de uma forma tão simples, é tão emotivo que faz chorar, e saem-lhe umas piadas tão engraçadas que correm de boca em boca, e tem uma história tão bonita, e só me caso na igreja se for ele a presidir à cerimónia, e só vou à missa porque é o senhor padre e ele é excepcional, e só participo se lá estiver o senhor padre, e foi por causa do senhor padre que me reencontrei com Deus e com os irmãos.
E depois entras nos meandros destas IPSS e a transparência é zero, e mais uma IPSS para ir buscar o subsídio ali e ali e a isenção acolá, mas que deve a este e àquele, e tem emprego a prima, o tio e o amigo do peito, mas a funcionária tal já não recebe há x meses e não sabe quando irá receber e não interessa se quer casar e ter filhos e não pode, se tem a renda da casa para pagar, se deve na mercearia, e se está a usar o dinheiro que resta para poder trabalhar, porque nem uma palavrinha do senhor padre que fala tão bem mas nunca reponde e nunca aparece. Parece-me que devíamo-nos deixar tocar pela Palavra antes de usar das palavras e de nos deixarmos seduzir por elas.
"...palavras tão feitas, tão clericais, tão eruditas, tão bem compostas, mas tão pouco nossas."
" Falamos de Deus e com Deus como se não estivesse ao nosso lado "
"Falamos com a boca, às vezes com a inteligência, mas pouco deixamos que fale o coração"
Pois é amigo, (permite o termo) mas foi isso que durante anos a tua e a minha igreja andou a incutir nos fiéis, foram anos e anos a "recitar" orações e "ostracizando" quem ousava inovar ou seguir o dito "coração".
Nos encontros de catequese que oriento muito raramente utilizo orações em fórmulas, até o pai nosso faço questão de rezá-lo com exemplos do dia a dia.
As pessoas, porque não estão habituadas a este tipo de comportamento, ou a tratar Deus desta forma fizeram uma guerra e fizeram com que os filhos fossem orientados por alguém que "reza tal como a santa igreja nos ensinou no passado" expressão usada como argumento para que a mudança de catequista fosse considerada credível.
E conseguiram que os filhos tivessem outro catequista o primeiro encontro foi no sábado passado e pelo que o próprio catequista me transmitiu eles "adoraram".
Eu magoada e frustrada faço a minha retirada com a classe possível nestas circunstâncias, ou seja sem classe nenhuma.
Agora medem a fé pela quantidade de vezes que assistem à missa ao domingo sem se preocuparem em aderir a Jesus a Deus comprometendo-se com Ele através da comunidade.
Agora veem Deus no sacrário independentemente de estar lá a hóstia consagrada.
Agora são felizes pensando em Deus como alguém que está do lado de fora e distante.
Creio e vivo o que creio com base na certeza que tenho de que Deus não está ao nosso lado nem ao lado de ninguém porque Ele é o Senhor eu Sou... É o espaço que nos medeia e tudo o que esse espaço possa conter incluindo-me também...
É a este Deus que constitui a génese de tudo o que existe que eu adoro.
A noite passada tive um sonho, (contarei mais tarde se assim se proporcionar), parecia tão real, que pela manhã ao levantar-me para mais um dia que me está a ser dado viver, em primeiro lugar tive de abrir a porta para olhar o céu ainda "estrelado" para olhar também a vinha vigorosa ao lado da casa, as estrelícias e as azáleas... senti-me parte daquela paz que me circundava... não era eu e o cenário, eu fazia parte desse cenário era personagem ativa desse cenário... ajoelhei e uma oração espontânea escapou-se-me... a isto que eu chamo orar... a comunidade onde estou inserida chama-lhe outros nomes menos bonitos.
Sabes "amigo" quando ousamos orar a partir do nosso coração nem sempre somos percebidos... acredito mesmo que todos rezam com o coração, cada qual reza com o conteúdo do coração que tem. :(
Um dia feliz
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