quinta-feira, maio 23, 2024

mãe [poema 387]

ainda recordo a terra húmida do seu colo 
o sangue a derreter com o calor das suas mãos 
no embalo da vida 
 
as formas do corpo não tinham rosto, sempre as vi como mãos 
como mãos de pianista a desenhar espaços de luz, 
a germinar 
 
gosto de recordar esse tempo de madrugada 
trazê-lo a mim como quem traz uma sombra agarrada 
ao sol 
 
não havia mal que pudesse suceder 
nem pontas soltas de azar ou de desamor 
ainda ontem eras o regaço e hoje és 
estás a nascer

2 comentários:

Anónimo disse...

"gosto de recordar esse tempo de madrugada
trazê-lo a mim como quem traz uma sombra agarrada
ao sol"

Ailime disse...

Boa noite Senhor Padre,
Um poema belíssimo, um dos seus melhores, que muito me emocionou.
Obrigada, por partilhar emoções tão sentidas que fazem estremecer os mais insensíveis.
Emília