sábado, abril 20, 2024

a droga

Na aldeia toda a gente se conhece e toda a gente sabe tudo de todos. Toda a gente se mete na vida de toda a gente. Ninguém é indiferente a ninguém, para o bem e para o mal. Quando o filho da Antónia, de nome António por amor da mãe, entrou para o Seminário, não faltaram as murmuradoras e os murmuradores da aldeia nas conversas da rua. Mas uns vizinhos, que se achavam mais próximos da Antónia, já que mais não seja pela distância geográfica, bateram à porta para tirar nabos do púcaro. Ó Antónia, é verdade que o teu Antoninho foi para o Seminário? Dizem para aí que ele foi. E a Antónia, que não tinha nada a esconder, respondeu que sim. Sim, foi na outra semana. O rapaz quer ser padre e a gente não lho refuta. O que ela queria era que o filho fosse o que quisesse ser e que fosse feliz. E a resposta dos vizinhos não se fez esperar, pois que o assunto o merecia. Ó Antónia, não te aflijas mulher, sempre é melhor isso que meter-se na droga! 
 

2 comentários:

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Ao ler este texto até senti um baque no coração!
Tanta a ignorância do pobre povo de Deus!
Deus perdoa, mas esta visão da fé e das vocações é tão "pequenina", tão cheia de preconceitos,
que em pleno SEC XXI, parece que estamos a andar para trás!
Não digo mais nada, só que fiquei muito triste.
Ailime

Anónimo disse...

Já dizia o outro: a religião é o ópio do povo.

Trata-se de facto de uma droga. A diferença entre ser veneno ou ser remédio está na dose.