Escrevem e dizem alguns que, depois deste furacão chamado coronavírus, a nossa vida não voltará a ser a mesma. Que está a ocorrer uma revolução viral. E falam muito de solidariedades, atenções, correntes de vizinhanças, gestos maravilhosos que vão ocorrendo por todo o lado e em todo o mundo. Dizem também que há menos poluição. Menos Co2. As águas mais limpas. Que, no plano climático, está a valer a pena. Que a natureza nos está a obrigar a rever o nosso estilo de vida. Que o capitalismo vai sofrer um desfalque. Que agora sentimos que precisamos uns dos outros e que os valores que nos têm guiado não são os valores que nos devem guiar. Que agora descobrimos que precisamos da ajuda de Deus porque sozinhos não nos bastamos.
Mas…
Li, há dias, no jornal espanhol “El Mundo”, que, em Espanha, na província espanhola de Cádis, onde um grupo de quase três dezenas de idosos tiveram de ser realojados pelo Governo depois de terem sido despejados de um lar por estarem infetados com a Covid-19, os veículos de transporte médico que transportavam os idosos foram apedrejados e um carro chegou mesmo a atravessar-se no caminho. Os populares receberam aqueles idosos com pedras e explosivos!
Li também algures que alguns médicos e enfermeiros, no mesmo país, têm recebido missivas de vizinhos a pedir que se mudem para outras habitações longe deles, pelo risco que correm.
Li ainda que num estudo realizado, durante os 6 dias com o maior número de mortes por coronavírus, no mesmo país, pelo Laboratório de Economia Comportamental (LoyolaBehLAB) da Universidade de Loyola, depois de terem oferecido vales de 100€ aos participantes, se verificou que estes fariam menos doações à medida que a pandemia aumentasse e houvesse uma maior exposição à ameaça do COVID-19.
Por estas e por outras é que não sei se haverá alguma revolução viral. Até porque o vírus parece querer isolar-nos. E cada um parece preocupar-se mais com a sua sobrevivência que com a vida dos outros. Talvez nestes tempos haja uma preocupação maior pelos outros. Talvez nos lembremos mais dos que amamos. Talvez estejamos mais atentos às necessidades que ao nosso redor se encontram.
Mas…
Dizemos que é preciso uma revolução no mundo, e que pode ter chegado a hora dessa revolução… Que o maldito vírus veio fazer uma revolução entre nós.
Mas a denominada revolução não está nas mãos do vírus. Ela está nas nossas mãos!
Vivemos num mundo, numa criação, numa sociedade que nos foram dados por Deus, como dons, para nós administrarmos. Mas enquanto pensarmos que é o mundo, a criação e a sociedade que nos têm de servir, será difícil fazer desta “Casa Comum” um lugar melhor para se viver e, mais importante ainda, um lugar para conviver, isto, viver com
A revolução não está nas mãos do vírus. Ela está nas nossas mãos!
Hoje, dia 25 de abril de 2020, faço votos de que estejamos unidos na liberdade de poder fazer uma revolução… no nosso interior
Este texto também foge um pouco ao estilo literário que gosto de usar neste espaço.
Aliás, é um texto ampliado do que escrevera aqui.
Mas achei que era uma partilha oportuna para fazer neste dia da "Revolução".
5 comentários:
Nada extenso o texto, dinâmico, evolutivo, claro, desenvolto. Incorpora o espírito de Abril. Parabéns!
Amo, quando encontro texto assim, leio e relio, como sua indicação de leitura é de graça, para que podemos confiar em um Deus maior. E embora com situações em divergências de alguma coisa pra fazer uma limpeza espiritual.Bons ventos, Sr padre. Chm
Boa noite Sr. Padre,
Um texto magnífico!
Eu não acredito que o mundo mude para melhor depois desta situação.
As pessoas em geral são muito egocentristas, pensam muito no seu umbigo e quando as coisas voltarem ao seu normal, alguns dos gestos de solidariedade que agora vemos cairão no esquecimento.
Pelo menos nos grandes centros urbanos as pessoas já andavam de costas voltadas, não respondendo por exemplo a um simples bom dia.
Deus queira que esteja enganada.
Desejo-lhe um bom domingo.
Ailime
excelente texto, padre
Amigo se o interior de cada um não entrar em processo de remodelação, dificilmente teremos a tão desejada revolução.
Depois desta pandemia pouquissimas coisas podem voltar a ser como antes, caso contrário continuaremos a ser idiotas convencidos e o nosso futuro continuará a ser cada vez mais incerto e obscuro.
Fica bem, com saúde.
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