segunda-feira, março 13, 2023

A senhora de papelão

Caminhavam numa rua de uma cidade grande, mãe e filha de cinco anos, quando tiveram de passar junto a uma senhora deitada no passeio, embrulhada por uns papelões de um bege sujo pelo uso, mal-vestida, mal-arranjada, a chorar. Estava frio. A mãe e a menina iam com pressa, porque tinham uma consulta marcada no médico e não podiam atrasar-se, mas a filha não retirava os olhos da senhora dos papelões. Uns bons metros depois, largou a mão da mãe, pôs-se em frente dela, obrigando-a a parar, e perguntou porque é que a senhora estava a chorar. A mãe tentou explicar-lhe que ela deveria estar a chorar por causa da dificuldade da vida, porque não deveria ter casa para se abrigar do frio, cama onde dormir e prato onde comer. Como as crianças destas idades nunca se contentam com uma pergunta, a pequena disparou de imediato: Então porque é que tu não a ajudaste? A mãe ficou desarmada por fora e sobretudo por dentro, deixando que as lágrimas da senhora de papelão chegassem ao seu rosto. Com a maior honestidade possível, baixou-se e explicou à filha que tinha errado muito ao não ajudá-la. A pequena limpou-lhe algumas lágrimas e abraçou-a. Abraçaram-se. E aquela mãe, ainda hoje, quando conta esta pequena história, chora como a senhora de papelão. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "O Carlos que é meu sacristão"

2 comentários:

Cisfranco disse...

As crianças são assim. Por isso é que Jesus as punha como exemplo. "Se não fordes como crianças não entrareis no reino do Céu". Mais ou menos isto.

Ailime disse...

Boa noite Senhor Padre,
Uma senhora de papelão que todos já presenciámos no seu infortúnio, mas que não temos coragem de ajudar.
Eu, pecadora, me confesso.
Ailime