Ao contrário de algumas que o pensam mas não o conseguem dizer na minha frente, uma jovem da comunidade dizia-me abertamente que era a favor do direito ao aborto. A conversa não estava inflamada nem tinha a ver com quem ganhava ou tinha os melhores argumentos. Era uma conversa franca e aberta, como deveriam ser todas as conversas onde a Igreja se faz presente. A Joana dizia que as mulheres precisavam ser defendidas e tinham o direito de optar. Portanto, o foco da Joana eram as mulheres. As mesmas mulheres que, por exemplo e como lhe lembrei, morrem em embarcações para fugir de guerra, com a designação de refugiadas, e não se defendem com tanta veemência. Essas morrem esquecidas. Também a Joana dizia que muitos dos que defendem o não ao aborto são os mesmos que defendem o porte de armas ou a construção de muros entre países. E tem razão a Joana. Nisto concordámos. E embora o seu foco continuasse preso na mesma linha, abrira a possibilidade de falarmos da diferença entre legislações, direitos e bem comum ou bem das pessoas. A missão do legislador não é impor a moral, mas buscar o bem comum. Na verdade, descriminalizar o aborto não significa que haja direito de abortar. Assim como, por exemplo, descriminalizar a prostituição não significa que haja direito de se prostituir ou de procurar prostitutas. O que nos deveria preocupar não eram os direitos ou as leis que favorecem ou desfavorecem opções, mas as opções que fazemos. O nosso foco não deveria estar no bem particular de cada um, mas no bem comum, no bem da humanidade, no bem da criação. Pode parecer um exemplo despropositado, mas eu li-o algures. Uma coisa é a obrigação de não maltratar os animais e outra a de conceder direitos aos animais. No final da conversa nenhum dos dois mudou de opinião. Eu sou contra o aborto e ela a favor do direito de abortar. Proporcionou-se, porém, um diálogo muito interessante, que talvez tenha mudado o foco da Joana e, ao menos, me fez pensar que uma coisa é o direito ao aborto, direito que ninguém deveria ter, e outra a sua descriminalização. Uma coisa é o que a lei descriminaliza e outra um direito ético. Uma coisa são os interesses de cada um ou cada uma e o projecto da humanidade e da criação.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Devo o meu filho à minha mãe"
3 comentários:
A discussão do tema da penalização/despenalização do aborto tem força para ser tratados per si. Apesar de haver pano para mangas gostava que a esse juntasse um outro para que o bouquet fique completo, pois, ao que me parece não é só à despenalização do aborto que a Igreja se opõe. A contracepção também não é filha querida. No seio do sagrado matrimónio, viva a castidade (ou a maternidade desenfreada).
Neste quadro, se outros argumentos faltassem, avulta a consideração o valor devida à mulher à como pessoa: é que ela não é apenas procriadora. O seu papel não se resume ao de mãe e de mulher. Tem o direito de se realizar fora duma situação meramente familiar. Todas pensávamos que esse direito estava adquirido, mas dele parecem-se excluir as mulheres católicas dispostas a seguir os ensinamentos da Igreja à risca.
Meus senhores, a discussão sobre o aborto dentro da Igreja, tem que englobar a discussão sobre aqueles outros itens oara que não seja um arrazoado dogmático, um linguajar descabido, sem repercusões efectivas e úteis na sociedade. Não basta pegar fogo ás clínicas, para que os abortos terminem.
O nó górdio é o estatuto do feto.
É vida? É vida humana? É um ser humano? É uma pessoa, um sujeito de direitos?
A ciência médica fornece pistas, mas a questão permanece em aberto.
A posição maximalista da Igreja é, na sua prudência, sensata.
Falta, depois, a resposta aos dramas. O primado deve ser dado à misericórdia.
Este assunto tem muito que se lhe diga.
Penso que a Igreja deveria ter abertura também para escutar o outro lado.
Este texto, embora meio complicado, fez-me pensar em algumas coisas.
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