Eram umas santas devotas, as senhoras que enfeitavam os andores. Castiças e faladeiras. Contavam como eram as festas noutros tempos. Os seus tempos de meninice, quando a vida dos povos ainda girava à volta das paróquias ou se confundia com elas. Um tempo bom, sem dúvida, mas também cheio de caprichos, veleidades, quimeras. Uma espécie de devoções pagãs. Ó senhor padre, porque é que não fazemos como fazíamos dantes? Era tão bonito. Estávamos assim habituados desde o tempo do senhor padre Manuel, Deus o tenha no céu. A procissão passava por ali e a festa enchia-se de gente. As crianças levavam não sei o quê. Era um arraial. E mais isto e mais aquilo. Era uma alegria, senhor padre. Estávamos assim habituados desde o tempo do senhor padre Manuel, Deus o tenha no céu.
As ideias das santas devotas não eram más, mas eram descontextualizadas. Muito descontextualizadas. Como uma casa com o telhado no chão, duas ou três paredes em pé, mas se quer habitar como se não fosse casa em ruínas. E às tantas, o padre, cansado das belas ideias que, por mais explicações que desse, não conseguia contradizer, teve de dizer, com o rosto entre o sério e o sorriso maroto. A melhor solução é irem buscar o senhor padre Manuel ao céu.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Procissões cheias de gente"
2 comentários:
ai o que eu já me ri, padre.
Bom dia Senhor Padre,
Que belo texto e o sorriso que me deixou.
Tradições muito arreigadas e niguém consegue fazer entender estas almas que os tempos mudaram e a igreja também tem vindo a mudar.
Ailime
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