quarta-feira, julho 22, 2009

Procissões cheias de gente

O António tem uma aversão às quatro paredes da Igreja. Digo eu. E ele diz que não é por mal. Que gosta muito de Nossa Senhora. São palavras dele. Mas não gosta de ir à missa. Quer-se dizer, não é por mal, repete. Mas não me puxa, padre. Até gosto de o ouvir nas suas palavras. Mas não me puxa. A minha São vai sempre. A Sarita, a minha neta, adora o senhor padre. É daqueles que vai todos os anos a Fátima e se gaba disso. Ó padre, este ano ainda não fui. Arranje-me lá lugar na camioneta. Houve um ano que foi a pé. Ó padre, o que me custou! Cheguei lá rotinho de todo. Mas Nossa senhora ajudou-me. Gosto muito de Nossa Senhora. Mas, ó senhor António, e então porque não há-de ir à missa? E lá volta a resposta. Não me puxa, padre. Já lhe disse. Não me puxa.
Já o tenho visto antes da missa, quando vou tomar um cafezinho rápido ao Central. Se for preciso paga-me o café. Ou eu a ele. Não é má pessoa. Mete-se nos copos, mas não incomoda ninguém.
E foi num desses dias que nos encontrámos no Central. Eu corria e bebia o café à pressa. Ele bebia o branquito traçado nas calmas. Eu lembrei. Olhe que a missa hoje é ao meio dia. Ó padre, já lhe disse. Interrompi-o para dizer Não lhe puxa, já sei. Estávamos na nossa conversa habitual do deve ir ou do fazia-lhe bem, ou do então não é amigo de Deus, quando, às tantas interrompe a dita conversa para me perguntar. É verdade, ó padre, hoje tem festa lá em cima, na anexa. Tenho. E a que horas é a procissão? É as três e meia. É boa hora. A ver se não falto, que eu não costumo falhar nenhuma das procissões das festas aqui à volta da terra.
Eu já estava de costas e a sair porta fora quando ele repetiu para o dono do café que não costumava falhar as procissões. Entrei no carro. Não tinha muito tempo para pensar porque estava com pressa de chegar cedo à primeira missa. Mas de facto, temos procissões cheias de gente que não costumamos ver na missa!

27 comentários:

jota disse...

Talvez seja claustrofobia. Talvez tenha necessidade de sentir livre. Para a próxima que falar com ele, diga que ele pode ficar perto da porta. Talvez comece a gostar.

jota

Luisinha disse...

Fez-me lembrar que quando era criança sempre quis ir de anjinho na procissão mas nunca tive oportunidade...

as procissões parecem festas de entreter o povo, por isso todos vão! Não são capazes de tirar o verdadeiro simbolismo que as procissões representam, que é transportar cá para fora aquilo que se diz na missa. Então de certa forma o tal senhor até "foi à missa!" lol Também me faz lembrar que Jesus cativava mais as pessoas na rua, nos montes, do que entre 4 paredes. Realmente, 4 paredes não é a todos que chama. E se fosse uma missa ao ar livre? Acho que as pessoas ficariam curiosas no mínimo... Nunca pensou fazer uma missa ao ar livre padre? Devia ser uma experiência boa! :)

Paz e Bem
Luisinha

Unknown disse...

Sim... padre, é verdade!

Na minha paróquia, as missas andam vazias, mas as procissões lotadas! Principalmente na semana santa. Eu devo dizer que já fui uma dessas pessoas e infelizmente, mesmo que sem querer, incentivo outras pessoas a ser: meus pais não frequentam a Igreja, mas eu tendo a chamá-los a uma missa só nas datas comemorativas (as procissões). Sei que eu tenho que começar a mudar para mudar os outros.

Anónimo disse...

A procissão, é a mais antiga Evangelização de Rua.

Quantas pessoas não vão á missa, e, ao verem a procissão passar, comovem-se?

É caso para se meditar...

É bom que de uma maneira ou outra, se sintam acolhidos, e bem!

Canela s/ login

concha disse...

Já achei que as procissões eram manifestações sem significado, a não ser a parte social principalmente nas terras pequenas.
Agora gosto de ir e também acho que é um modo de interpelar quem está de fora a observar.
O António acaba por ser sincero e dizer o que lhe vai na alma.Quem sabe o caminho para a missa não se fará através de Nossa Senhora!
Luisinha ei ia e do que mais gostava era das snadálias que atavam na perna:)
Um abraço e a Paz para todos

teresa disse...

sim realmente e bem verdade as procissoes estao cheias , mas as igrejas nem por isso , infelizmente leva-nos a pensar que muitas das pessoas que vao ver as procissoes nao vao pela fe , mas sim pelo ,, espetaculo ,, e de lamentar emfim...
quanto ao senhor que nao lhe puxa ir a missa , e um pouco esquesito nao falta as procissoes , gosta muito de nossa sra. mas nao vai a missa ,ouvir a palavra de deus nao se percebe e o mesmo que dizer gosto muito de comida mas nao gosto de comer ,, «desculpem a comparaçao «

acho muito boa ideia a missa ao ar livre ,,,

Alecrim disse...

O que é pena! Eu não gosto de procissões.

Catarina disse...

Acho que, enquanto não fizermos por perceber o que se passa durante a Eucaristia, que é algo extraordinário, e que quando reflectido e conhecido faz sentido/tem lógica, muitas pessoas terão essa ideia do "não me puxa", no entanto dá trabalho, tentar perceber, e mesmo que se perceba existirão sempre outras razões para o "não puxa".Quanto às procissões, sou muito nova, e acho que as pessoas precisam muito mais de adquirir conhecimentos, nem que seja sobre o porque do Santo dessa procissão é Santo, do que festas em que às tantas se esquecem do motivo que as leva a estarem ali!
Uma opinião, se calhar mal formada por não ter sido mesmo bem pensada!
Boa Noite;)

maria de fátima disse...

Não desanime sr. Padre. A mim " não me puxa " ir às procissões. Mas à missa vou com avidez e amor.

rui disse...

Nossa Senhora…
Talvez o António veja em Nossa Senhora uma imagem familiar, uma mãe muito afectuosa, capaz de responder as questões e dificuldades mais profundas e dolorosas da sua vida.

Há milhares como o António, que perante uma imagem, muito bem conseguida, de uma mãe atenciosa e carinhosa como Nossa Senhora, encontram a sua motivação e esperança.


Missa…
“Não me puxa”
Não o motiva a ir? Não será a motivação filha de uma esperança? Em quê? A motivação vem da resposta que cada um espera alcançar de determinada vivência seja ela religiosa, afectiva, psíquica, física…
Que esperaria o António de uma missa? Que poderia levar o António a entrar numa igreja (a morte não é uma boa resposta)?
Para o António é claro que Deus não está na missa, ele lá não O encontrou, pelo menos esta afirmação, para ele, é certeza. A Missa não responde à sua vida. Porquê?

Caro padre, expresse um sorriso, o António reconhece que fala como quem tem sabedoria, mas isso não chega para experimentar, para viver a Missa. Não o motiva, para ele as suas palavras são interessantes, concorda com elas, mas não vê nelas a motivação que precisa, as respostas que precisa, a esperança. Porquê?


Procissões
Que esperam essas pessoas que, tal como o António, seguem-se umas às outras levando sobre os ombros de alguns uma imagem. Uma imagem de uma Senhora, que julgamos Nossa, ou de homem que se entregou a Jesus. Não sei… Nunca percebi bem as procissões (mea culpa), mas uma coisa reparo, procuram algo, essa procura motiva-os a seguirem-se uns aos outros, mas porque não vão à Missa? Porquê?


A próxima vez que tiver com o António tente perceber que respostas quer ele, caso não consiga seja directo, pergunte-lhe. Caso ele as diga (1 ou 2) por muito disparatadas que sejam, não se ria nem as minimize, antes convida-o a entrar na Missa e lá fale desses problemas, quem sabe não encontre na palavra de Deus uma resposta possível as suas questões e esperanças, quem sabe o António não comece a ver na Missa uma porta de respostas para a sua vida.

E se Nossa Senhora o convidasse “a entrar na Missa”???? Como o faria???

E se…

joão disse...

Passei por aqui e notei que vivo na mesma realidade; talvez seja o panorama geral de todas as dioceses do país. Mas no meu pobre entender a resposta é muito simples: a Eucaristia implica um compromisso continuado, persistente... as procissões, embora actos de fé pública (não coloco em causa de forma nenhuma)são muito esporádicas e nãi exigem esse compromisso. Outra causa é a linguagem do povo e a linguagem da Igreja, começa a existir um grande divórcio tal como existia na Idade Média (Devocionismo). Desculpem o comentário, é a primeira vez que participo.

João

Anónimo disse...

Olá!

Se existe algo que me comove é uma procissão durante o mês de Maio. Mas mesmo assim o que me toca mesmo é estar dentro de quatro paredes frente ao andor da Senhora de Fatima a ouvir o canto do "Adeus". Mas para isso tem de se estar serena. E numa procissão á de tudo: conversa, risos, mascar de pastilhas... Penso que um dos maiores desafios dos nossos padres é fazerem com que a procissão tenha alguma serenidade.

Não compreendo como algumas pessoas vão a Fatima a pé, e durante o ano não vão nenhuma vez á missa.Como é que se pode gostar da mãe e não gostar do filho...

Um abraço!

Alexandra

Maria disse...

Quem sabe que assiste a um milagre, ao vivo, em cada Eucaristia?

Quem sabe que fazemos parte desse corpo e desse sangue?

Quem sabe que nos oferecemos juntamente com Quem se ofereceu/oferece por nós?

Quem experimenta a alegria da comunhão universal com toda a Humanidade e o próprio cosmos?

Por essas e por outras tinha uma amiga que pensava q se dizia o "santo sacrifício da missa" pq era mesmo um sacrifício comparecer.

Anónimo disse...

ola senhor padre aqui nesta terra nem queria o senhor saber a quantidade de gente que e como o senhor antonio , mas alguns ainda fazem pior , quando a prosissao passa poe-se a dizer mal , de tudo mas trabalhar para que as tradicoes nao morram sao sempre os mesmos. um abraco

Joana Veigas disse...

Boa noite!

Andava a ver as novidades dos blogs, e deparei-me com esta que me inquieta, particularmente.

Não sou uma pessoa que goste muito de procissões, devido às atitudes que vejo em tantas pessoas que por lá passam. Na minha Paróquia, quando é a festa da Padroeira, vejo sempre grupos de pessoas que se vestem como se fossem para uma gala, e quase que "lutam" para levar o andor da Padroeira. Digamos que acabam por ser senhoras a querer dizer: «Olhem para mim e para o meu vestido caríssimo, pois só aqui é que toda a freguesia pode ver como sou bela e rica!» (foi a frase mais egocêntrica que me ocorreu agora).
O que quero dizer, é que grande parte das pessoas que vejo nas procissões vai com o objectivo de fazer daquele caminho uma passerele (não sei se é assim que se escreve, mas vá, desfile de moda). Entristece-me muito ver que as pessoas estão ali para se mostrar, e não para fazer ver ao mundo que ama Cristo.

Estava agora a recordar-me do dia do «Corpo de Deus». Na minha Diocese, este ano, vi que muitas das pessoas ignoraram o facto de estarmos a caminhar pela cidade, em Igreja, guiados pelo Santíssimo Sacramento. É triste quando as pessoas caminham a conversar o tempo todo sobre fulano e fulana tal... Enfim, não se faz o silêncio e a meditação a que somos convidados nesta manifestação de fé, que deveria ser silenciosa...

Não quero aqui estar a criticar, embora acabe por o estar a fazer, mas de facto, dói quando vemos a falta de conhecimento sobre cada gesto que se faz na nossa comunidade de fé. Como diz D. António Marto, temos que «ir ao coração da fé!»

Desculpem o enorme desabafo..

Votos de uma óptima semana!

Anónimo disse...

Para se apreciar a beleza das Missas é preiso ter um coração totalmente ADORADOR. Proissões atraem mais pela beleza e simbolismo. Abraços da Danielle (Brasil- Rio de Janeiro)

Anónimo disse...

Uma procissão ...

não é um desfile de vaidades;

é uma passagem com muito sentido;

é uma oportunidade de nos encontrarmos conosco;

Fernando Gonçalves

Anónimo disse...

Desculpe utilizar este espaço (que talvez não seja o mais adequado para o fazer), mas não podia deixar passar este dia:

muitos parabéns pelo seu aniversário natalício;

muitos parabéns por todo o trabalho pastoral paroquial e diocesano que tem desenvolvido;

muitos parabéns pelo testemunho de vida cristã...

muitos parabéns pelo excelente trabalho que tem feito neste e através deste blog...

Parabéns!!

Abraço fraterno, neste dia de S. João Maria Baptista Vianney, padroeiro dos párocos, e motivo deste ano sacerdotal, proclamado por Bento XVI.

LPS

BLUESMILE disse...

è umsa questão de paganismo.

Confessionário disse...

Olá, amigos

Não estou de férias, mas estou numa fase de pausa no excesso de afazeres. Por isso, entre as ocupações que tenho, vou aproveitando para descansar. Tenho algumas coisas para escrever. Mas ainda falta que as escreva.
Peço desculpa por não ter colocado muitos posts ultimamente. Em breve o farei. Espero inclusive, neste ano sacerdotal, trazer algumas novidades a este espaço.

Mil beijos e abraços para todos

Canela disse...

Fez anos?

E não disse nada?!

Desta passa... :)


Parabens atrasados e um beijinho fraterno.

Confessionário disse...

Sim, Canela, e imagina que no dia de S. João Maria Vianney, padroeiro dos padres!!! heheh

Anónimo disse...

Mas não deixa de ser curioso como as procissões estão intimamente ligadas à eucaristia. Há a procissão de entrada, a do Evangeliário, a das oferendas, a da comunhão, a de saída...

Há a procissão das Candeias e dos Ramos; a das Cinzas e a da Adoração da Cruz; a dos Santos Óleos e a de transladação da Reserva Eucarística; a do círio pascal e a da água baptismal (na Vigília de Páscoa).

Há a procissão do Santíssimo Sacramento que, mormente no dia do Corpo de Deus, se deve realizar imediatamente a seguir à celebração eucarística.

E há as procissões de outros sacramentos:
- no Baptismo, da entrada para o ambão, deste para a pia baptismal, e desta para o altar;
- no Matrimónio, a de entrada e a de saída dos noivos;
- nos Funerais, o cortejo da casa do defunto (ou da capela mortuária) para a igreja, e desta para o cemitério.

O grande contraste estará, pois, no espectáculo folclórico que algumas procissões proporcionam (normalmente ligadas ao culto dos santos) e a sobriedade, mesmo que solene, das restantes.

JS

Anónimo disse...

Diga-lhe que quem vai à missa ao domingo recebe um garrafão de vinho.

Anónimo disse...

Ou então tem um vinho lá em casa que é uma especialidade, um vinho que não há lá na terra. pode dar-lho a provar um dia destes... que espere por si no final da missa (de domingo)... é um vinho...
já vi que não conhece a história do burro e da cenoura... rsrs desculpe

Confissões a Jesus disse...

Desculpe.

Confissões a Jesus disse...

No entanto não posso deixar de comparar... veja, os meus familiares correm atrás do gato para que ele saia de uma divisão da casa para outra, não o apanhando claro. Eu pego em qualquer coisita de brincar e agito-a chamando-o pelo nome, rapidamente o levo para fora ou para dentro… com as pessoas é igual. Há somente que ter a táctica certa. (ortodoxa, ou melhor católica...)