terça-feira, maio 07, 2019

cristão, católico, religioso, clérigo, consagrado, leigo, fiel…

Termos como “cristão”, “católico”, “religioso”, “clérigo”, “consagrado”, “leigo”, “fiel” questionam-me. São eles que vêm até mim perguntar da sua existência, e eu careço de resposta para lhes dar. Não os entendo. Ou não entendo completamente o seu porquê e o seu para quê. Designam pessoas no âmbito da fé. Distinguem estados de vida, classes de fé, ou coisa do género. Como distinguem, também distanciam. O termo que entendo melhor na sua definição é “clérigo”. Porque faço parte do grupo. É mais ou menos o sujeito que faz parte da classe eclesiástica. Aquele que alcançou as ordens sacras. O cristão que exerce o sacerdócio. Foi assim que li algures. Mas também o entendo melhor na sua definição que na sua essência. 
Mas não gosto muito destes termos. Ou melhor, da sua utilização, sem mais. Todos eles me parecem palavras que servem a catalogação e gosto pouco da estratificação da fé. Mesmo sabendo que não há nenhum crente igual. Mesmo sabendo que existem funções, dons e carismas diferentes. Faz-me impressão cá dentro e pronto. Católico significa universal ou pessoa que professa o catolicismo. Religioso ou é alguém que tem ou vive intensamente a religião, ou é alguém que se consagrou de forma mais intensa a Deus. Mas acho que os outros também são ou deveriam ser, no mínimo, seres algo religiosos. O consagrado é quele que se consagrou a Deus. Mas não deveríamos todos os que temos fé de nos consagrar a Deus? O fiel é aquele que tem fé e a ela cuida a fidelidade. Digo eu. O leigo é aquele que não tem as ordens sacras, não é padre ou religioso. Mas também designa, ao menos na nossa língua portuguesa, aquele que não tem conhecimento sobre determinado assunto. Que expressa certa ignorância acerca de alguma coisa. Que é desconhecedor. É o termo mais complicado de entender. 
De todos estes termos, o que menor inquietação me causa é o termo “cristão”, porque designa quem segue a Cristo ou ao Cristianismo. Mas os outros parecem-me, de certo modo, o resultado de uma terminologia burocrática e institucional. Tão assim, que a maioria dos cristãos não os entende nem os usa e, quando questionados sobre eles, pouco sabem. 
O que vale é que, diante de Deus, somos quem somos e nada mais. Somos um tu para Deus. Bem personalizado. Pouco categorizado. Amado por quem somos e não pelo que nos designa, mesmo que seja na fé.

7 comentários:

Anónimo disse...

muito bem ......quem fala assim não é Gago..


ahaha

Ailime disse...

Boa tarde Sr. Padre,
Termos que também muitas vezes coloco a mim mesma e não raras vezes consulto o dicionário, agora a Wikipedia, para tentar ficar esclarecida, mas por vezes ainda fico mais confundida.
No fundo chego à conclusão que todos somos filhos de Deus, cada um com as suas funções, mas todos amados pelo Pai.
Ailime

Anónimo disse...

Adorei Padre! "pensamentos que já me assaltaram. Cristã é sem dúvida aquele com que mais me identifico! Quanto ao resto da terminologia sou leiga na matéria :-)
Bjito
SL

Paulina Ramos disse...

Surpreendida!
Dito de uma forma clara.
Gostei muitos dos caminhos que as tuas palavras indicam sem os nomear.
Muito "nível" nas tuas palavras!
Penso de igual forma.

Anónimo disse...

Gostei muito da definição de «leigo». Diz o Sr. Padre que o «O leigo é aquele que não tem as ordens sacras, não é padre ou religioso. Mas também designa, ao menos na nossa língua portuguesa, aquele que não tem conhecimento sobre determinado assunto». Numa forma mais resumida, diz-se que esta ou aquela pessoa «é leiga na matéria».

O que questiono é a quantidade de leigos que discorrem sobre a matéria. Esse facto baralha, estupidifica mais quem lê do que quem escreve. Na verdade não percebo o secretismo que baila em torno de determinados assuntos de que se fala sem se revelar as fontes de conhecimento. Parece que tal e tal, apenas por terem frequentado uma faculdade, um seminários, ou feito um workshop, são detentores de todo o conhecimento e que a interpretação dos recônditos meandros das coisas lhes foi confiada por mercê divina. Quando as explanações ou ilações afectam a vida de terceiros deveriam ser-lhe comunicado de forma clara os «porquês» e os «entões», não lhe parece? O que fere é a ignorância, não a ordem. Quem quiser obedecer sem mais e fazer disso vida, candidate-se a sacerdote ou a militar, e será um homem feliz, porque os demais, trabalhadores subordinados, apesar de estarem sujeitos a tal poder, têm sempre a possibilidade de renunciar à renovação do contrato decorridos seis meses. Pôr-se fora, com «eu nada sei», «não tive participação nisto», «obrigaram-me», é triste. Infelizmente, muitos dos que «sabem» são secundados por uma legião pronta a corroborar o que dizem, escudando-se no «desconhecimento da matéria».

Quem não sabe mas pode saber, ponha-se a par e denuncie a quem de direito. É o que acho.

Anónimo disse...

Quando cheguei ao blogue e dei de caras com estes título que vai de cristão a fiel... caiu-me tudo! Pensei, agora é que foi, o Confessionário deu asas à crise de identidade que se vinha avizinhando, estoirou! Depois, lendo com mais atenção, vi que se tratava de mais um texto em que podíamos descortinar a sua cara e que o questionamento faz parte da disciplina retórica. Diga lá, o objectivo é pôr-nos a pensar, não é? Continuo a ponderar, aliás, há meses que ando a ponderar sobre a minha essência, e temo que os meses decorridos somados aos que se seguem se transformem em anos e depois em décadas de ponderação, e que alcance a cova ainda a ponderar... ou que alguém o pondere por mim - sendo facto assente que não quero que me enfiem num jazigo (sempre sofri se claustrofobia). Mas continuo animada e gosto muito de passar por aqui, porque as suas dúvidas têm o condão de me dar muita força. Aprecio os seus comentários muito assertivos, a transparência das suas conclusões. Até era capaz de jurar que o conheço. Na verdade o Senhor padre Confessionário pode ser um de cinco padres da minha convivência seleccionados por mim para preencher esta categoria. O seu perfil encaixa bem em todas estas hipóteses, terei que estudá-los com alguma atenção antes de chegar a uma conclusão. Entretanto enquanto não chego a nenhuma, e coloco em dúvida o meu real papel na sociedade e a forma como poderei ser um «tu» para Deus,se Ele nunca teve uma conversa franca e aberta comigo e foge dê-la como o diabo da cruz, vou-me entretendo a perscrutar a minha vocação. Faço-o quando trabalho, arranjo as unhas, tomo banho, rego as plantas, dou comer ao meu paizinho doente, ao passarinho... tarefas que desempenho sempre com Deus no pensamento, porque, embora não fale com Ele, vejo-o em todo o lado, o que torna a vivência um desassossego.
Jesus disse «eu sou a luz do mundo», é essa claridade que me espera, a que eu busco, a transparência perfeita. Resta mergulhar na realidade de Deus, em águas profundas e pouca agitadas, e tentar percebê-lo. Noutra vida, acredito nessa possibilidade. A ver vamos é que eu ao contrário do Senhor Padre Confessionário, sou leiga na matéria.

Anónimo disse...


Gostava muito de aderir ao concubinato, por favor, pode dizer-me o que tenho de fazer?
Grato,

Octávio Pereira